quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Educação como prática da liberdade? Alfabetização freireana em Guiné-Bissau

Texto maravilhoso de uma grande amiga, que tem um grande trabalho.
Como me interesso pelo assunto, também coloco no meu blog. Se quiser ler o texto na íntegra: Tempo Presente. Uma pena que os brasileiros saibam pouco sobre um de seus maiores educadores. E que seu conhecimento nao esteja nas bocas de quem queria que estivesse.
Por: Larissa Costa (PPGHC/UFRJ)1


Guiné-Bissau é um pequeno país localizado na costa Ocidental da África entre o Senegal e a Guiné-Conacry. Na década de 1970, tinha cerca de 800.000 habitantes que viviam majoritariamente da agricultura. Esta região, que fora colônia portuguesa por 5 séculos, se tornou independente, em 1974, após 15 anos de luta pela libertação.

A Guiné-Bissau, no após-independência, tinha todas as condições objetivas para depender de outras sociedades, visto que seus recursos financeiros eram escassos e sua estrutura produtiva era frágil, não integrada e nem auto-sustentável, por ter sido organizada para atender as necessidades externas. Entretanto, este país optou por um projeto de desenvolvimento sócio-econômico que visava a transformação da sociedade, buscando romper com a situação de dependência. (Cf. ALMEIDA, 1981, p.2-3)

Quadrinho publicado no jornal guineense Nô Pintcha


No período de transição, de 1974 a 1976, os dois primeiros anos após a independência, o objetivo não era mais combater um inimigo concreto, mas era edificar uma nova sociedade. Para tanto, eles visavam promover o “suicídio de classe”, termo de Amílcar Cabral, líder do movimento pela independência de Guiné-Bissau e Cabo Verde, empregado pelos integrantes do PAIGC, ou seja, pretendia-se acabar com a elite nacional de aculturação portuguesa. (Cf. FREIRE, 1977, p.21-23, OLIVEIRA, 1980, p. 77-82) Este objetivo de reconstruir a nação sem lutar contra um inimigo palpável foi de uma abstração tal que não suscitou o mesmo entusiasmo e mobilização populares, donde podemos inferir que a herança colonial atuou como forte freio ao projeto de desenvolvimento nacional. Vale lembrar que Guiné-Bissau era, naquele momento, um pequeno país desprovido de riquezas valorizadas no mercado internacional, a população continuava a viver em regime de auto-subsistência nas zonas rurais e a maior parte dos produtos consumidos em Bissau, capital do país, eram importados. Após o reconhecimento dos problemas nacionais, o Partido Africano pela Independência de Guiné-Bissau e Cabo Verde – PAIGC – resolveu introduzir as mudanças lentamente. Na educação, diante da falta de recursos optou-se por manter a estrutura escolar colonial, corrigindo, como o Comissariado da Educação dizia, os erros mais gritantes. (Cf. OLIVEIRA, 1980, p. 77)Devemos refletir sobre a manutenção da estrutura escolar colonial vigente, pois que benefícios poderia trazer aos guineenses a expansão de um ensino marcado pela ideologia colonialista? Em contrapartida, outra questão de fundamental importância é como mudar radicalmente a educação se faltavam recursos? O Comissário de Educação Mário Cabral, no início do governo do PAIGC, chegou a pensar no fechamento das escolas até que se organizasse o ensino de acordo com os novos parâmetros propostos pelo partido. Todavia, dois anos após a independência, em 1976, admitia que “isso era um sonho”, pois, ao fazer isso, acabaria optando por algo mais danoso, visto que a falta de recursos ocasionaria a interrupção das aulas . (FREIRE, 1977, p.50)

Continua

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Tangay



Hoje abriu o primeiro festival de tango gay de Buenos Aires. A terminaçao correta é "queer", um termo politicamente correto que surgiu nos estados unidos há alguns anos para colocar em um bolo só (como se fossem ingredientes ou precisassem de classificaçao) os gays, bi, trans, trav, simp e outras cacofonias sexuais.


E vai ter palestras, e vai ter oficinas, e vai ter filmes temáticos (de tango) e , claro, ai meu texto, muita dança!


O legal disso é que o festival nao surge do nada. Existe um pequeno-movimento-crecente do tango queer. Em oposiçao aos códigos machistas de uma dança machista de uma sociedade machista (a argentina). A arte como encontro, toque, independente do ser tocado ou o ser tocante.

Vê aí: FESTIVAL QUEER TANGO

Almirante Negro




Hoje foi o fim da Revolta da Chibata. Há 97 anos atrás. Isso me faz lembrar que alguns grandes atos , pelo menos aqueles de grande representatividade, que vao inspirar e virar liçoes nas escolas, nem sempre "heroizam" seus heróis. É o caso do Almirante Negro.


Ele nao morreu com tiro no peito, sangue e camera lenta. Foi com um cancer no intestino, aos 89 anos de idade.


Lutou contra as injustiças sociais e raciais. Mas foi visto como um bandido da cara preta. Virou até queridinho de intelectuais (que adoram histórias do ignorante genial). Mas ninguém comprou angu pra sua família.


Ganhou um Aldir e Bosco, um doc.urto de 1987 e um livro. Ainda nao recebeu anistia da Marinha. Quiseram transforma-lo em herói da pátria. Entrei no site do Governo Federal. Nao consegui informaçao de nada disso aí em cima.


Foi preto. Nulo. E nada. É o que fazemos com nossos personagens borgenianos. Invalidamos ainda mais as horas de um homem.


Matéria JBlog




quinta-feira, 1 de novembro de 2007

A nova paixão argentina


Texto meu roubado de um blog para o qual escrevi. É uma putaria de blogs. Quem quiser visitar: www.poresporte.blogspot.com

Seleção de rugby da Argentina vira mania entre os hermanos (foto: divulgação)

Por Bruno Moreno, de Buenos Aires

Eles são uma mistura de lenhadores, guerreiros bárbaros, seguranças de boate e modelos. Estão nos outdoors de Buenos Aires, nas tevês, nas capas dos principais jornais. Fazem campanhas de mates e de lojas por atacado. Aparecem em poses sensuais em calendário estilo Pirelli. Viraram febre entre jovens e idosos, homens e mulheres. Não são artistas, nem futebolistas. Os Pumas, como são chamados os jogadores da equipe de rugby da Argentina, são um fenômeno de mobilização e marketing em torno de um esporte.

Não é à toa. Fizeram história no Mundial de um esporte que é pouco conhecido no Brasil, que acabou de ser disputado na França. Chegaram em um inédito e aplastrante terceiro lugar, vencendo os donos da casa na decisão do bronze. Se já eram festejados como guerreiros antes disso, agora são celebrados como heróis. Essa semana, uma multidão foi recebê-los no aeroporto cantando a plenos pulmões o hino nacional.

A camisa da seleção é branca com listras azuis, mas horizontais. São 15 'animales' em campo. O nome Pumas surgiu em 1965. Na ocasião, a Argentina venceu, em jogo histórico, a equipe júnior da África do Sul (apelidados no meio de Springboks), em Johanesburgo. Um jornalista local confundiu o Jaguar, símbolo da equipe, com um Puma. Pegou.

Claro que essa paixão tem uma história. O rugby é um esporte de classe média-alta, com 50 anos de existência no país. Conta com boa adesão e presença marcante no cotidiano argentino, ainda mais se pensarmos em uma modalidade tão distante das que temos na América do Sul. São 45.000 jogadores no país e 250 fora dele. Ídolos do passado também são festejados, datas lembradas. Existe um torneio nacional bem disputado, a URBA. Alguns dos Pumas surgiram desse campeonato.

As equipes são dos bairros da Grande Buenos Aires e demais províncias. O "ráguebi" sempre teve seu lugar cativo no dia-a-dia desportivo daqui, mas nunca com aceitação popular nesse vulto. Horácio Pagani, articulista do Diário Clarín, ilustra bem isso ao descrever uma vitória da seleção no mesmo dia de um clássico nacional.

"Cheguei na redação depois de um Boca e River. Achei que ia encontrar as pessoas falando da atuação dos jogadores, dos lances polêmicos, gritando o maior clássico do país. Para minha surpresa, vislumbrei um ambiente tenso, com os olhos voltados para a TV, com gritos e comentários sobre a atuação de uns monstros em torno de uma bola ovalada. Eram os Pumas enfrentando a Escócia nas quartas. Aos poucos, fiz parte da platéia. E, sem me dar conta, já estava envolvido com aquela garra, me sentido mais patriota do que nunca. Quando vi, já estava com os punhos no ar comemorando a vitória da seleção e me esquecendo que tinha uma matéria para escrever sobre o que supostamente seria o mais importante: o superclássico".

Nota importante: no dia do jogo contra a Escócia, após o clássico acima referido, alguém inventou de colocar um telão no Monumental de Nuñez, com o jogo dos Pumas ao vivo. Passados alguns minutos, tiveram que desligar. Nenhuma das duas torcidas havia saído do estádio ainda, assistindo à partida.

Máquinas de porrada e marketing

Fora dos campos, os Pumas também se deram bem. Com patrocinadores grandes e abundantes como Quilmes, Adidas, Peugeot, Nike e Visa, eles movimentaram a economia argentina. Estima-se que houve um investimento, só em campanhas publictárias, de 30 milhões de pesos. Isso é mais do que foi gasto com a seleção de futebol na Copa da Alemanha.

A audiência televisiva esteve nas alturas. As partidas dos Pumas fizeram o canal aberto 9 conseguir índices raríssimos, principalmente se tratando de um jogo de rugby. Mesmo dividindo telespectadores com a ESPN e o futebol, ficou entre os quatro primeiros no geral. Já se pensa a cobertura do torneio nacional.

As campanhas geralmente são associadas à garra e ao compromisso dos jogadores. Mesmo na adversidade, mesmo contra adversários mais fortes, mesmo desacreditados, os Pumas se superam e seguem em frente. É clara a associação desse espírito com o espírito argentino de batalhas e conquistas, ainda mais em um ambiente econômico ainda instável e de derrotas seguidas no futebol, que ainda se sustenta como a maior paixão.

Além disso, são vistos como animais com corações doces. Uma propaganda interessante mostra um dos defensores da equipe dando porrada em todo mundo. Ao fundo, uma ópera bem cantada. Bem cantada por ele mesmo. Omar Hasan é um monstro, barítono e vai lançar um cd de ópera com tango.

Mais exemplos são o abuso da imagem dos jogadores abraçados unidos, cantando em coro, de forma apoteótica, em todas as partidas, o hino nacional (chegou a dar polêmica essa maneira tão efusiva de patriotismo). Os Pumas viraram exemplos até para empresas grandes, em treinamento de coletividade e grupos de RH. Se tornaram um modo de viver, um exemplo de conquista e êxito que promete ser ainda bastante explorado pela mídia.

Efeito Puma

Após a bela campanha dos Pumas no Mundial, as atenções se voltam para o torneio nacional. A URBA chega às semifinais (se darão em novembro) e a procura por ingressos já é grande. Mas o fato que mais chama atenção é o aumento vertiginoso da procura por vagas nas escolinhas de rugby.

Um dirigente de um dos times de Buenos Aires disse que já recebeu cerca de 500 inscrições só este mês. Dez vezes mais do que o normal. Segundo dados da UAR (Unión Argentina de Rugby), em 2005 e 2006, o número de inscrito em escolinhas infantis era de 14 mil. Só em 2007, já chega a 17 mil. E a maior parte desse número se deve ao último mês. O número de crianças vai crescer cerca de 35% com relação aos anos anterirores. "Ninguém esperava isso", afirma Edgardo José, diretor das categorias infantis do UAR, ao La Nación.

A Pumamania se deu também entre jovens e adultos. Os clubes registraram um aumento, mesmo que menor, nas categorias entre 17 e 23 anos. Não só em Buenos Aires, mas também na maioria das províncias argentinas. "É muito bonito o que está acontecendo no país", completa Edgardo.

Futuro

No ano passado, liderados pelo capitão Agustín Pichot, a maioria dos jogadores do plantel atual bateu de frente com os dirigentes da UAR e renunciaram à seleção. Na época, alegaram falta de estrutura, falta de investimento, falta de atenção aos jogadores que lutavam em campos argentinos, e a suspensão de seus salários.

Alguns os tacharam de mercenários, quando, na verdade, chamaram atenção para a melhoria do esporte. A contenda chegou ao fim, os jogadores se uniram e prometeram fazer história. Pichot saiu da França, onde joga, para defender os Pumas na Argentina. Recebeu apenas 20 pesos de pagamento.

Agora, esses mesmos jogadores voltaram a cobrar mais profissionalismo por parte dos dirigentes. "Se queremos um esporte de ponta, não devemos mais funcionar como amadores", declarou Pichot há alguns dias.

Há uma pressão internacional para que a Argentina seja incluída nos principais torneios do esporte, além do Mundial: os das Três e Seis Nações. A imprensa diz que a UAR precisa se esforçar mais para que a seleção participe desses campeonatos. E que eles são fundamentais para a melhoria da equipe e preparação para o Mundial de 2011, na Nova Zelândia.

Fora os embates nos bastidores entre imprensa, atletas e dirigentes, um fato ocupa a mente de todos: a renovação. Algumas das principais estrelas já não estarão mais na equipe e o atual técnico, Marcelo Loffreda, já entregou o cargo para treinar uma equipe inglesa.

Apesar disso, novos astros (no campo e no marketing) já surgem. Os jovens Juan Martin Hernandez e Ignacio Corleto são um exemplo. "Temos bons jogadores vindo aí, além da manutenção de alguns outros mais experientes. No entanto, esse trabalho tem que continuar a ser feito, com profissionalismo e ajuda de todos. Sem brigas políticas, sem rivalidades, sem norte nem sul", idealiza Pichot, candidato a novo técnico, capitão, líder e símbolo de uma geração que fez história e criou uma nova e promissora paixão nos corações argentinos.