sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Miriam para presidente do Suriname!


Me deixa muito triste essa "bronca" competitiva entre países. Mostra cada vez mais o limite humano de seres que pensam que conhecimento e razao significam sabedoria.

Miriam Leitao é uma jornalista brihante, com posicoes que nao concordo na maioria das vezes (quase todas, aliás, em todas as vezes) , mas que tem acesso e é incansável na busca de informacoes (embora a qualidade dessas informacoes seja questionável também na maioria das vezes). Mas parece que precisa ter muita luz ainda como ser humano, pelo menos na arte de enxergar o outro.

Esse artigo é um crime, um atentado mimado contra nossos irmaos latinoamericanos. Nao temos que comemorar que estamos melhores que ninguém. Em uma rápida olhada na história, vemos que essas fases de crescimento sao isso, fases (porque geralmente nao vehm atreladas a uma estrutura a longo prazo, de seriedade educacional e de um rompimento real com as estruturas arcaicas de poder).

Festejar que estamos melhores , além disso, é uma miopia social. A Argentina, por exemplo, passa por um momento difícil, mas carregado de debate , de exposicoes de verdades que permitem uma pessoa ver com mais profundidade os andaimes fantasmas que ainda persistem dentro da construcao. É um país que , bem ou mal, nao pára. A Bolívia está dividida, mas se mexeu no queijo de uma elite social preconceituosa e que , declaradamente, quer manter o higienismo interessado dos poderosos. Ver a Venezuela, com todas as suas questoes, é ver como um país está freando a sanha americana de dominar o petróleo. Bem ou mal é resistencia, nao a estática, mas a resistencia que quer apontar nossa cabeca para algumas verdades que veículos como O Globo, historicamente, fizeram questao de esconder.

Em vez de abrir o champanhe pra dizer que estamos melhores, a jornalista, com todo o respeito, deveria brindar a hora de enxergamos nossos vizinhos, aprender com suas experiencias, estender as maos economicamente e pensar que o Brasil nao é nada sozinho. Que ser auto suficiente em coisas, nao é suficiente pra alma.

POST DELA

domingo, 17 de agosto de 2008

Quem fala, discorda.


Se arma na Argentina uma proliferação interessada de contestações ao modelo Kirchnerista. E é claro que, como se trata de um governo nacional da importância de um país como a Argentina, as bocas contestadoras são muitas, de muitos níveis e origens, assim como as bocas e mentes que o defendem.

O que mais me chamou a atenção nos últimos meses foi um setor da sociedade, um ator social (termo na moda) que foi (tempo passado, o corpo cansa e a resignação mora) vítima de meus ataques de ira impotentes no Brasil: a intelectualidade.

Ser intelectual, no Brasil, é sentar no Bar Jobi , no Leblon, sempre o Leblon, e cantar louvores a atos passados e a incapacidade de adaptação a pseudo-atos presentes e a não-atos futuros. Ou usar tênis vermelho, ver e comentar filmes iranianos, saber de pobreza num disco de Candeia num loft-soft-apê-modern-decor numa zona privilegiada. Ou fazer turismo com o dinheiro do Cnpq.

Aqui, pelo menos, a inteligentsia se organizou e lançou o movimento Cartas Abiertas. Trata-se de reuniões bimensais e elaboração de propostas em várias áreas feitas por educadores, médicos, artistas, comunicadores, filósofos e vamos botar água no feijão. Tudo isso surgiu com a questão do campo, do tremelique das bases sociais, da exposição dos defeitos democráticos argentinos e da real necessidade de se pensar em conjunto o quebra-cabeça.

Acontece que nem tudo é maravilha nesta história. Boa demais a iniciativa desses intelectuais, louvável a idéia do debate de opiniões, melhor ainda a redação de cartas com propostas para o governo, mas há que se ter cuidado e extrema transparência ao dar papel a esses atores.

Beatriz Sarlo, uma comunicóloga genial, voz quase sempre consciente desse mundo pós-moderno, foi uma que "denunciou" (e por isso tacaram 20 pedras em seu cabelo meio laqueado) algo que se deve vigiar: esses intelectuais, em sua maioria, são kirchneristas. E entraram na onda golpista que a Cristina quis vender. Conhecidos, respeitados, validados, mas com tendências políticas claras e história caminhada no reconhecimento dos Kirchner. Prova disso é que essas Cartas, embora leitura obrigatória para se entender bem alguns movimentos da América Latina atual, são documentos que apoiam bastante ao governo do casal.

Há pontos de concordância e discordância com relação a essas cartas. Isso é natural e necessário. O perigo (olho no lanceee!) é que o exercício democrático do debate leve para uma defesa egóica e totalitarista da opinião. "Querer estar certo" foi o país onde Napoleão perdeu a guerra. Nestas cartas, há trechos altamente pró-K (e sem a isenção crítica mínima) e há trechos minunciosos e críticos que traçam um perfil ainda pouco explorado e perigosos da nova direita latinoamericana.

Há que agradecer as mãos ao céu e bater no peito: a intelectualidade levantou a bunda do café e está fazendo algo de concreto pelo país.

Enfim, essa proliferação interessada de contestações não pode ser vista como algo ruim, como sempre se quer ver o que se contesta. Parece que a economia neo-liberal e essas palavras em latim da bíblia da economia de especulações, reativou uma idéia progressista e moderna de mundo. Se não houver ordem, a bolsa cai. É a volta dos professores que dão fórmulas para "fazer uma boa poesia" (clássica cena de Sociedade dos Poetas Mortos). É a volta dos médicos pré-psicanalistas que vêem a revolta e o olhar alternativo como a presença do diabo. É uma ameaça quase que divina de reis absolutistas e de um clero que não quer alfabetizar seus crentes na própria religião (como já vimos na história do mundo).

Enfim, passada essa análise de um quarto de tijela, o que quero dizer é que a Argentina está quebrando o pau no debate. E, como diria minha avó, brigar é saudável pra criança. Mas atenção para o empresariado histórico e reacionário nacional (e por que não dizer latinoamericano ?) que, ao ver um governo abalado e uma inflação crescendo, adora plantear o apocalipse e para uma mídia que, em grande parte, pertence a esse empresariado. Atenção com a suposta vitória do campo e suas diversas facetas, como o campo bilionário agro-exportador e o charcarero ferrado que não está vendo a coisa melhorar. Atenção para o racha em um setor fundamental pra governabilidade argentina (ainda mais essa com o vulto do Peron babando cada movimento) que é o dos sindicatos (que estão revivendo uma briga muito parecida com a que surgiu na década de 20 , na época do radicalismo , aqui e que criou diversas forças sindicais contrárias. É basicamente a disputa entre quem quer ficar perto do governo para receber vantagens e andar com a roda e quem quer ficar isento e ter liberdade para questioná-lo quando quiser). Atenção para o hermetismo dos K que, mesmo com consultorias de imagens que deram a idéia pra Susana Vieira dar mais entrevistas, se fecham em seu quarto de forma bem pouco democrática e transparente (são viciados em sexo, só pode ser).

Vai abrindo aí que tem caldo....

Análise irônica da Carta Abierta 1.


Carta 1

Carta 2

Carta 3


Pré-carta 4

Entrevista Beatriz Sarlo

Um país rebelde e em estado de assembéia

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Sem foto e com vergonha

Post com um quê inútil de indignacao. É sobre os gastos publicados dos candidatos a prefeito do Rio de Janeiro. Sei que é impossível pensar em campanhas sem esses gastos estratosféricos, mas defendo um limite (bem mais abaixo) para tal "infame necessidade democrática".

Falo isso porque, comparando a soma dessa grana com algumas áreas básicas de nosso cotidiano, o aburdo é mais claro.

No total, os candidatos gastarao (nota, esse é o previsto. É o previsto que sempre passa. E isso contando o primeiro turno) cerca de 51 milhoes de reais.

Tomando como base o orcamento da saúde do Estado de 2006-2007 (porque o Sérgio Cabral vetou uma lei que permite o acompanhamento do orcamento do Rio pela Internet), vemos que
é mais do que gasta, NO ANO, o movimentado e necessário Hospital do Andaraí, na Zona Norte carioca, só para dar um exemplo. E da última vez que estive lá, havia uma fila de cerca de 100 pessoas (maioria idosas de comunidade de baixa renda) porque nao havia enfermeiro à disposicao para fazer um exame em uma máquina que precisava ser consertada de tomografia. Ou seja, nao tinha ninguém pra te levar à nada.

Deixo aqui a indignacao inútil também desse referido veto do Sérgio Cabral à prestacao de contas on-line do Governo. Falar que é um roubo, uma imoralidade e um absurdo, soa infantil. É muito mais que isso. É uma enganacao entubada nesse termo vago e esfumacado que é a "democracia". Vai um link abaixo:


Cabral rejeita publicar contas na internet
da Folha de S.Paulo, no Rio
O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), vetou projeto de lei aprovado de três deputados estaduais da oposição que propunha colocar as contas do Estado na internet.
A decisão, publicada ontem no “Diário Oficial”, contraria promessa de campanha de Cabral, que havia assumido em agosto com a Firjan (federação das indústrias do Estado) o compromisso de abrir o Sistema Integrado de Administração Financeira para Estados e Municí­pios (Siafem) ao público.
Hoje apenas os integrantes do governo e os parlamentares têm acesso ao sistema, que permite o acompanhamento dos gastos públicos





terça-feira, 12 de agosto de 2008

Por un corazón...

A tragédia é algo realmente que tem a ver com a alma argentina. Como escolha de modo de ver o mundo, como manifestação artística e até como reconhecimento de suas mentes mais brilhantes. Neste último caso, um fato curioso e triste que comprova essa tragédia é o Prêmio Nobel.

O país tem 5 premiados em sua história: os médicos e fisólogos Bernardo A. Houssay e César Milstein; o químico Luis Fedérico Leloir , o ex-ministro Carlos Saavedra Lamas e o arquiteto Adolfo Pérez Esquivel.

Mas talvez nenhum desses teve uma influencia tão grande quanto o Saavedra. Ele ganhou o Nobel da Paz após intermediar o sangrento conflito entre Paraguai e Bolívia, impulsionado por grandes empresas petrolíferas como Shell e Esso, e que ficou conhecida como a Guerra do Chaco (1932-1935). Além disso, Saavedra foi chanceler da ditadura imoral e assassina de Juan B. Justo e Ministro de Victorino de La Plaza, que ficou após a morte de Saenz Peña (seu sogro).

Mas qual é a tragédia? A tragédia não está só no não-reconhecimento de gente supra-humana, como Borges, mas pela escolha de um representante argentino corrupto em detrimento de um considerado como o nobelista moral daqui, René Favaloro.

René Favaloro foi um cirurgião que simplesmente criou a “ponte de safena”, salvando um trilhão de pessoas na história. Além disso, criou um mega hospital filantrópico que realizava essas e outras cirurgias em Buenos Aires. Se essas ações não merecem o Nobel, me digam o que pode merecer.

Por outro lado, Saavedra ganhou. E nada menos adequado, para colocar um eufemismo. Acontece que, primeiro, a autoria dos ditames da mediação que lhe condecoraram como o “autor da paz” do Chaco é de um embaixador americano chamado Cordell Hull, que deu, presenteou toda a tese ao argentino porque se fosse ele a apresentar a idéia, por ser americano (e rondar uma richa Inglaterra-Eua pelo mercado platense) simplesmente não teria a unanimidade necessária para o cessar-fogo (que, agora sim, premiaria os bolsos americanos).

Fora isso, que é o menor dos casos, Saavedra, quando tinha um proeminente posto na já referida infame ditadura de Justo, em 35, recebeu cerca de 100 mil pesos (hoje, seria o equivalente a quase 2 milhões de dólares) para pressionar e influenciar o Congresso a deixar passar uma lei que garantia os serviços de luz da cidade de Buenos Aires nas mãos de uma empresa espanhola por mais de 60 anos. Essa lei não só fazia isso, como tirava as obrigações de investimento em infra-estrutura por parte da empresa, tirava as obrigações de algumas leis trabalhistas, perdoava uma dívida de mais 60 milhões de pesos ao Estado por cobrança indevida e perpetuava essa relação cruel dos detentores de riqueza estrangeiros e nacionais com a miséria da população. Foi esse ser humano que recebeu o Nobel da Paz.

E sabe o que aconteceu com Favaloro? Se suicidou em 2000 por conta da crise financeira pela qual passava sua fundação. Os 2 milhões de dólares de Saavedra poderiam poupar sua vida.

Toca o tango e chora a milonga de nossos dias..

sábado, 9 de agosto de 2008

Sua ação é válida, meu caro índio.


Artigo do Clarin sobre o referendo na Bolívia. Gostei muito e traduzi porcamente, mas de coração. Mais um dado para a teoria conspiratória da invasão alienígena yanqui na América do Sul, o NEW NEW NEW DEAL FUCK YOU CABECITAS NEGRAS.

por Oscar Raul Cardoso

N
ão há melhor maneira de lidar com uma crise que entender, de modo cabal , o que a ocasiona. Esse é o caso da que está se acontecendo na Bolívia e que atingirá outro marco amanhã, quando a população decidirá se deseja revogar o mandato do presidente Evo Morales e de oito dos nove prefeitos (governadores) dos estados do país.

Se olharmos somente para as ordens ensurdecedoras e fechadas do oficialismo e a oposição, além das repetitivas notícias jornalísticas , seríamos levados a acreditar que se trata de uma disputa pela riqueza básica (petróleo, gás natural, pontencial agropecuário) do país, cuja maior parte é acumulada em quatro de seus estados (Santa Cruz, Beni, Pando e Tarija), ou pelos conteúdos da reforma constitucional ou então por uma luta que busca opor uma dose de federalismo a um sistema nacional ferreamente centralizado, ou ainda a busca de uma definição final do “eterno combate” entra a esquerda e a direita.

O problemas destes enunciados é que tentam definir a totalidade de um problema que é muito mais complexo e que tem muito mais fatores. Por exemplo, o conteúdo racista que apresenta: sabe-se que um importante setor da sociedade boliviana (não só numericamente, mas pelos meios que historicamente vem monopolizando) não pode fazer as pazes com o triunfo indígena – Morales – nas eleições presidenciais de dezembro de 2005 e com a primeira maioria absoluta da história institucional do país.

Existe também uma dimensão maior neste problema, que atravessa as fronteiras do país e que a coloca sob uma perspectiva que pode ser rastreada no resto da região latinoamericana. Trata-se do árduo processo de reformular o contrato social de suas democracias, permitindo a inclusão de setores esquecidos pela modernização das últimas décadas, através da redistribuição de ingressos.

Uma redistribuição que, por mais que a imaginemos tranquila, obriga aos que ganharam bastante dinheiro em um passado recente, a se conformarem com um pouco menos daqui pra frente. Ninguém parece querer abordar esta face do problema de modo franco, nem na Bolívia nem em outros lugares. Quatro meses de conflito entre o Governo Nacional e o campo, na Argentina, tiveram este denominador comum. O mesmo pode ser visto, assim que os nervos se acalmarem , no debate dosmético venezuelano pelo governo de Hugo Chávez ou na raiz da resistência da oposição ao projeto de reforma constitucional de Rafael Correa, no Equador.

O desafio a Morales está justificado, segundo seus críticos mais implacáveis, na necessidade de evitar a construção “de um modelo socialista”, que debilita a vigência da lei, ameaça a propriedade e torna impossível a chegada do investimento internacional. Mas desafia também a um governo que inseriu a mais de dois milhões de crianças e idosos nos planos de assistência social em um país onde a pobreza ainda faz parte do cotidiano de 60 por cento de seus habitantes.

Morales também vem realizando uma reestruturação dos contratos com as empresas petrolíferas internacionais que operam no país, o que permitiu ao Estado participar com uma cota maior nos lucros e que tem mantido o orçamento nacional longe do vermelho durante os últmos dois anos, algo que há pouco tempo poderia parecer um conto-de-fadas na Bolívia.


A disputa pela distribuição da riqueza sempre precisa, para ser resolvida, de uma definição prévia: saber quem manda. E como este interrogante básico ainda não foi revelado na Bolívia, não será este referendo revogatório que dará a resposta necessária. Não parece haver um trunfo na manga – de qualquer dos dois lados que estão competindo – tão claro que não deixe margem para a continuidade do conflito.

As pesquisas sobre o que as urnas dirão amanhã, antecipam que Morales, muito possivelmente, obtenha os votos necessários para manter seu governo (assim como a seus prefeitos). Por causa dos muitas vezes inexplicáveis labirintos legais do país, o presidente precisa de 46, 3 por cento dos votos (a mesma porcentagem que votou contra ele em 2005) enquanto que os prefeitos vão precisar de 50 por centro para conseguir a continuidade. Mas nada parece prever uma vitória como a registrada em 2005.

Vários dos prefeitos ameaçados por um resultado eleitoral negativo, disseram que simplesmente vão ignorá-lo caso aconteça , fazendo ameaças nem um pouco veladas. Manfredo Reyes Villa, um ex-militar que atualmente governa Cochabamba , é um desses prefeitos e prometeu a Morales: “se quiserem guerra, terão guerra”.

Há algo particular na história da Bolívia. Desde 1825, ano de sua independência, a violência recorreu seu território em muitas oportunidades, colocando-a cada vez mais à beira do precipício histórico. Apesar disso, sempre se evitou esse salto ao vazio – por exemplo, uma guerra civil – alguns se perguntam se a inércia da crise fará que, desta vez, seja impossível deter-se na beirada.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Puberdade


Nao sei se isso é informacao que ajuda em algo, tampouco sei se posso chamá-la de informacao. Fato é que, em conversas internas aqui com pessoas que trabalham com televisao esportiva, fui informado de um lado do Lionel Messi, la pulga, o craque, o prodígio e amor argentino, que eu nem desconfiava: que ele é um cara com alguns problemas.

Nada sério, nenhum trauma ou comportamento psicopata. Mas o relato é que, após uma entrevista em Barcelona com o garoto, ele vira para os jornalistas e pergunta em um tom tímido e voz baixa:

- Voces vao fazer algo hoje? Vao sair?

E os jornalistas, meio estupefatos e com vergonha, dizem:

- Sim, a gente tava pensando em beber uma cerveja.

E aí Messi, mais timidamente:

- Posso ir com vocês?

- Claro. A gente só vai ali agradecer o seu pai pela entrevista e falar com ele...

- Nao, por favor, nao fale nada pra ele que eu vou sair, por favor...

Pessoal falou que ele parecia meio preso e meio sufocado. Lembrando, ele é ainda é um adolescente, que quer fazer suas besteiras, mas é um investimento e os pais o protegem de tudo.

Outro conhecido do pessoal disse que ele tem sérias dificuldades para "chegar" em uma mulher. Ele fala, "pô, gostei daquela menina, mas ela nao vai me dar bola..." e fica na dele. Ao mesmo tempo que é legal (porque é o contrário do que faria a esperteza-malandragem do Renato Gaúcho, por exemplo), é meio estranho.

Ora, meu filho. Voce é o Messi. Use de sua condicao de ser a voce mesmo!!

Mas, apesar de tudo isso, os relatos sao quase unanimes ao afirmarem que se trata de uma figura simples, simpática e boa índole. E parece ser verdade mesmo. Outro dia ele chegou aqui e falou com cinco bilhoes de jornalistas, sozinho, sem seguranca, sem assessor, sem óculos escuros, correntes de outro, sem Ipod, sem nada. E, depois, simplesmente desenrolou para entrar num táxi e ir pra casa.

Falta só que rompa a pelota nessas Olimpíadas e substitua o imaginário "ídolos viciados" que vem se perpetuando na mente hermana.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Festa de obeso no Mac Donald's


A Argentina chora por mais um ídolo viciado. Pelo menos choram os gallinas. Dessa vez é o Burrito Ortega, meia de rara habilidade, que se entregou ao álcool e preocupa o pessoal. Simeone, técnico do River, equipe da qual Ortega é ídolo e pela qual estava jogando, não aguentou os vacilos do craque e o mandou passear. Disse, em coletiva hoje, que é o mais triste nesta história, que está fazendo isso como amigo e para que o jogador busque de uma vez por todas um tratamento.

Ortega está com uma aparência meio macabra, com dentes podres e cara , realmente, de bêbado. Mas dizem as boas línguas, inclusive Simeone, que ele estava fazendo uma pré-temporada maravilhosa e talvez fosse o melhor da equipe. Pôs tudo a perder com atrasos e sumiços. Semana passada, por exemplo, em Palermo, ele saiu de uma boate-restaurante e bateu com o carro num posto de gasolina.

Mas os fãs do futebol do baixinho não vão ficar órfãos (texto careta de matéria do globo). O Burrito foi emprestado ao Independiente de Mendoza, time pertencente a segunda divisão argentina, por 500 mil dinheiros americanos. A torcida do La Lepra, como é conhecida a equipe, estão bem contentes. O presidente do clube, num afã de felicidade e marketing, disse que, inclusive, ele e sua própria família ajudarão ao jogador a sair da ressaca. Cidade menor, sem tentações, sabe como é.

Agora, vocês me digam. Como é que vão levar um alcoólatra para jogar em Mendoza, terra onde é produzida a grande parte dos vinhos nacionais? Que beleza....

Monsanto e USP




Seguindo na onda verde economica do brogue, segue matéria da Brasil de Fato sobre um acordo da digníssima e honesta Monsanto e a USP. Trata-se de um projeto de iniciacao científica para o ensino médio. Eu nao sei muito o que achar disso.

A Monsanto é uma das donas do país e tem um segundo emprego como uma das sete bestas do apocalipse (junto com o Bush, a Coca, o McDonalds, a Nike, o anonimo do petróleo e o Flamengo).

Nao sabemos até que ponto é interferencia na autonomia e na educacao crítica universitária e até que ponto é um incentivo academico. Mas eu nao aceito doces de estranhos psicopátas. Nessa onda, sugiro também o filme Michael Clayton, com o gala político George Clooney, que fala sobre as sujeiras de uma transgaláctica agrícola. Trecho aí acima.

Monsanto firmou um convênio com a Universidade de São Paulo (USP), no
início deste ano, cuja versão original do contrato, revisto após pressão de
professores e estudantes, submetia a USP a sigilo absoluto e a subordinava a uma
lei dos EUA. Uma cláusula que permaneceu no documento, a oitava, estabelece que
a Universidade e sua Fundação, a Fusp, são obrigadas a manter sigilo em relação
à toda informação relacionada às atividades da Monsanto.

Para Ermínia Maricato, representante docente da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo no Conselho de Pesquisa da USP, o convênio com a transnacional pode
prejudicar a imagem da instituição de ensino. “Não concordo que a USP assine
convênio com essa empresa, contra a qual existem fatos graves”, finaliza.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Dois dias de solidão

Macondo é a cidade onde se desenrola a trama do livro Cem Anos de Solidão, de Garcia Marquez. Logo nas primeiras linhas da obra, vemos um Coronel Buendía diante de um pelotão de fuzilamento e lembrando de sua infância, quando seu pai o levou para conhecer o gelo. Mais a frente descobrimos que se trata de uma feira repleta de ciganos, mágicos, e gente das arábias que traziam sempre as inovações e invenções , reais ou fantásticas, do mundo moderno. Essa feira foi criando raízes e sendo fundamental no desenvolver imaginário da família Buendía e seus 100 anos de história.

Mas o que tem isso a ver com o que eu vou dizer?

Incomodou, nessa última visita do Lula à Argentina, o séquito de empresários que vieram junto com ele e que deram declarações perigosas e de contextos vários , já conhecidos, e que desembocam em uma só coisa: desigualdade e perigo à democracia. Segundo o Clarin, por exemplo, um diretor da indústria paulista afirmou que o melhor para a argentina é não deixar o Estado interferir na economia. O presidente da Fiat disse que os países que seguem as regras da economia internacional, sempre melhoram. O Lula mesmo bateu na tecla dessa integração econômica, que a invasão de empresas brasileiras não é nociva para a Argentina e que o dinheiro tem que circular entre os países.

A invasão da feira mágica-moderna em Macondo teve um cunho econômico inegável. Os ciganos vendiam porções mágicas, os das arábias vendiam vitrolas e todos ganhavam dinheiro. No entanto, ao vermos o desenrolar da história, é inegável que o que cria laços e afeta o imaginário e as atitudes dos moradores da cidade com essa feira é o caráter simbólico dos inventos, a característica irreal do que é mostrado, os costumes do estranho, o onírico, a descoberta. Tanto, que ela deixa de ser mambembe e se estabelece no cotidiano local.

O problema, ao meu ver, de um intercâmbio e acordos carregados de um tom comercial, e apenas comercial, é que o dinheiro caminha na direção das limitações do homem: anda por interesse, por sobrevivência, quase nunca por humanidade. Entra e sai com suas cifras , quase nunca com o símbolo. E é esse o cunho da conversa que estamos vendo há muito tempo entre os dois países. O argentino está vendo o brasileiro como matéria, não como descoberta e fantasia. O brasileiro está vendo o argentino como oportunidade financeira e não como povo. Simplificando: a troca que também deve ser feita, junto com a comercial e que estabelece vínculos além do dinheiro, além dos lucros e realmente criará o símbolo de uma região unificada (e não como dois vizinhos que formulam um discurso mas que, na primeira tempestade, cada um vai para sua barraca), é a cultural e a artística. A cultura e a arte são exatamente essas mágicas, esse mundo fantástico que fez das invenções ciganas e das arábias parte do cotidiano de Macondo, que despertou o imaginário do impossível e do improvável nas mentes dos Buendía e os fez entrarem num turbilhão de transformações e movimentos que mudaram a vida de todos. Além da língua, falta aos dois países o real reconhecimento de irmandade. E esse nunca se dá em uma relação de benefícios e trocas puramente materiais.

Além do lado macondiano da relação, é histórica, pelo menos na Argentina, a relação escusa de empresariado e democracia. Foi por causa dos interesses empresariais e petroleiros estrangeiros (e de algumas famílias locais) que se formou a tradição de ditaduras, iniciada em 1930 e finalizada mais de 50 anos depois. Esse séquito de empresários acompanhando o Lula, me lembrou a formação da “primeira ditadura” argentina, a de 1930, com o general Uriburu (dono de terras e acionista de empresas), que entre seus ministros ( na maioria civis e “liberais”), 80% eram diretores de alguma empresa de petróleo, advogados de empresas de petróleo, donos de fábricas, acionistas de grandes empresas ou tudo isso, junto. Me incomoda o fato de, historicamente, sabermos que o capital e o liberalismo caminham para o interesse de pouquíssimos, perseguindo desejos individuais, raramente do povo e da maioria. E o discurso é sempre esse, que o financeirismo tem a inteligência suficiente para não ter dedo do Estado. Acontece que o Estado representa os que, na hora do aperto, são as principais vítimas do abandono e repugnância “liberal”.

Algum esforco está sendo feito, vide a presenca brasileira nas semas artísticas ou nos grandes eventos artísticos. Ainda sim a entrada é mais espetacular que real, que de base, de conversa e de trocas cotidianas.


Da próxima vez que o Lula vier, que traga professores, médicos, artistas, cientistas, que têm muito o que conversar e aprenderem uns com os outros. Que traga mais mágicos e uma certa dose de sonho e imaginação , que é o que falta ao dinheiro. Que é o que dá algum tom de humanidade a homens e mulheres com caminhos tao diferentes. Que traga Macondo, a cidade comum e ainda subterranea que existre entre Brasil e Argentina.


segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Che, mesmo no túmulo.



É muito curioso. O filme de Che, dirigido por Soderbergh e com Benicio Del Toro (que ganhou Cannes com o papel), que tem 4 horas de duração e dizem ser incrível, está quase abrindo um rombo no bolso de quem investiu porque não tem distribuição.

Acontece que é previsível que não seja distribuído nos EUA, mas por que não consegue ser exibido na América Latina e , principalmente, em seu país de origem? Que forças estão regendo essa história?

A “película” tem 4 horas (vai ser divido em dois), é falado em espanhol (comparando com discursos televisionados do guerrilheiro, que volta e meia passam aqui no Canal Encuentro, o Toro ta falando igualzinho ao Che), fala sobre um homem que transformou os EUA no maior demônio de todos e que teve uma vida complexa demais para ser fielmente retratada em imagens. Tudo bem, mas é documento histórico, é esforço intelectual e de debate, é um dever cívico e humano, além do comercial e ideológico, arranjarem distribuição para esse filme.

(Sim, estou falando com Pollyanas de barba, barrigas grandes e que pagam putas sistematicamente).

Será que esse boicote silencioso terá êxito. Por que não se faz o caminho inverso ao filme do Andy Garcia (anti-castro), Cidade Perdida (igualmente anti-castro), que foi exibido nos EUA, mas boicotada na América do Sul em 2005?

Parece que o Le Monde cita uma fonte da indústria americana que diz que exibir o Che seria como exibir uma obra sobre Hitler ignorando o Holocausto e se concentrando na retomada econômica alemã.

Com a diferença que as empresas americanas não patrocinaram o governo cubano (embora a Cia tenha patrocinado a Fidel Castro no início da queda de Batista) e que, embora não concorde, os fuzilamentos do Che não tiveram natureza étnica ou religiosa.

(sim, estou tentando pensar sobre o que nem deveria se comparar).

Vai um pedaço do trailer aí acima.


Preferem o barbudo...

Não é novidade, mas me impressiona essa imagem positiva do Governo Lula aqui em Buenos Aires. Se o Ibope fizesse uma pesquisa, daria mais ou menos uns 92% de aprovação. Mais, se o PT quisesse se esconder de suas manchas e erros, está na hora de lançar candidatos aqui, principalmente o nosso querido presidente.

Hoje eu fui comprar uma água no kiosco perto do trabalho e o senhor que atendeu, que sempre que me vê canta um sambinha, falou:

- Seu grande chefe está aqui, né?
- Ah, o Lula. Sim.
- O que você está fazendo aqui? O seu país que é uma maravilha, um grande país, cheio de oportunidades...

Tentei dizer que não era bem assim. E de repente percebi que o Brasil é tão complexo, que qualquer afirmação é vã. Numa pseudo análise mal ajambrada, deve-se , em grande parte, essa popularidade, ao “crescimento magnífico” da economia nacional. Como as notícias que chegam aqui são completamente fora do contexto, ou melhor, apenas dentro do contexto numérico, o Brasil é um dos países mais importantes do mundo. Aqui não se chegam notícias sobre CPIs e patacas do congresso com relação ao nosso meio ambiente. Mas é capa de jornal quando descobrimos petróleo.

Além disso, e isso é coisa que pouca gente sabe aí no Brasil (pelo menos meus amigos mais chegados, gente da classe média genial e estática) é que realmente as empresas tupiniquins estão investindo em tudo aqui. Uma consultoria privada disse que, ano passado, mais de 20% do total dos investimentos no país foram brasileiros. Além disso, os turistas brazucas invadem Buenos Aires, dando a idéia de que câmbio forte significa robustez a longo prazo.

Durante a questão do campo, batiam muito na tecla do investimento do governo Lula na agricultura e no incentivo aos agricultores (nada se falou sobre a exploração de monocultura e mao de obras das corporações estrangeiras). Ou seja, é tudo uma questão de dados, nunca de análise.

Uma coisa interessante é que hoje as capas do Clarin e do La Nacion eram sobre a visita do Lula. No Globo, nem bola.

Como diria minha avó: Calamar a distância é baleia no brejo.

sábado, 2 de agosto de 2008

Não existe pesticida para a cobiça.


Aqui vão dois textos bem sem voz na grande imprensa. Embora falem de assuntos diferentes, intuitivamente sei que formam figuras idênticas nesse mosaico da política brasileira atual: o meio ambiente, a ecologia e a influência maligna (sim, como um tumor) do capital privado estrangeiro. Dois assuntos de extrema importância que estamos deixando passar sem entendimento, nem a busca por entendimento.

Artigo Stédile completo

"Hoje, quase todos os ramos de produção agrícola estão controlados por grupos de empresas oligopolizadas, que se coordenam entre si. Assim, no controle da produção e comércio de grãos, como a soja, milho, trigo, arroz, girassol, estão apenas a Cargill, Monsanto, ADM, Dreyfuss, e Bungue, que controlam 80¨% de toda produção mundial. Nas sementes transgênicas, estão a Monsanto, a Norvartis, a Bayer e a Syngenta. Com controle de toda produção. Nos lacticínios e derivados encontramos a Nestlé, Parmalat e Danone. Nos fertilizantes, aqui no Brasil, apenas três empresas transnacionais controlam toda produção das matérias primas: Bungue, Mosaico e Yara. Na produção do glifosato, matéria prima dos venenos agrícolas, apenas duas empresas: Monsanto e Nortox. Nas máquinas agrícolas também o oligopólio é divido entre a AGco, Fiat, New Holland, etc.

Esse movimento que se desenvolveu a partir da década de 90, se acelerou nos últimos dois anos, com a crise do capitalismo nos Estados Unidos. As taxas de juros nos países centrais caíram ao nível de 2% ao ano, e, comparado com a taxa de inflação levou a que os bancos percam dinheiro. Então, o capital financeiro para a periferia dos sistema para se proteger da crise e manter suas taxas de lucro. Nos últimos dois anos, chegaram ao Brasil cerca de 330 bilhões de dólares na forma de dinheiro. Parte desse recurso foi aplicado através dos bancos locais, para incentivar as vendas a prazo, de Imóveis,eletrodomésticos, e automóveis, a taxas médias de 47% ao ano. Uma loucura, comparado com as taxas dos países desenvolvidos."


Entrevista Telma Monteiro

Para a pesquisadora autônoma na área de energia Telma Monteiro, os projetos de construção de hidrelétricas no Rio Madeira e em Belo Monte somam uma série de problemas não considerados pelo governo federal brasileiro. Em relação à matriz energética do país, ela diz que o Brasil está sendo ultrapassado, pois não vem aproveitando seus recursos para ser menos atingido pelas conseqüências do aquecimento global. “Nós estamos indo completamente na contramão da história. Ficamos em 42° no ranking de países que sofrerão os impactos das mudanças climáticas, entre 168 países. Não estamos prevenindo nada. Continuamos a desmatar a floresta Amazônica e a destruir nossos ecossistemas importantes e cruciais com usinas do porte dessas do Rio Madeira e Belo Monte”

É interesse político e das grandes empreiteiras, que precisam de grandes obras. Assim, temos dois projetos de hidrelétricas no Rio Madeira superdimensionadas nos estudos feitos pela Furnas e pela Odebrecht. A meu ver, essas empreiteiras estão gritando agora contra essa atitude da Suez justamente por causa disso. A Odebrecht tinha uma idéia de economia de escala ao fazer duas hidrelétricas. Então, existe um grande interesse financeiro de grandes empreiteiras ao projetar nessas obras grandes lucros. No entanto, o governo federal não está considerando isso.