quarta-feira, 30 de abril de 2008

Kravitz Ressuscita



Lenny Kravitz é um artista que, apesar de ter a imagem extremamente associada ao vazio fuxiquê do showbiz, ainda vota na arte.

Embora tenha escorregado num romantismo pop e sem sentido nos últimos anos, sempre deixa o sangue musical aparecer esporadicamente. Seja em faixas excelentes perdidas em discos mortos ou na busca real e válida por sua identidade artística.

Esse ano lançou mais um disco (It's time for a love Revolution) e , parece, respirou e voltou a fazer música. O álbum tem boas levadas de rock, um romantismo comedido nos arranjos e o pulso que o fez surgir na cena.

É interessante, porque Lenny é um mosaico muito bom de outros artistas. Nao é uma cópia mal-feita. Pelo contrário.

Então, para quem quer entender o cara, a sugestão é escutar:

Commodores: no romantismo e na incrível semelhança de algumas músicas, como Sliperry when Wet (essa é inacreditavelmente Kravitz há 30 anos).

Jimi Hendrix: na guitarra incipiente, num princípio de admiração pela distorção.

Prince: pela referência estética, pelo bissexualismo atraente, pelos vocais iguais.

Stevie Wonder: pelo multi-artista que toca e arranja tudo, pelos vocais e agressividade em algumas músicas (da fase mais política do stevie).

E os brancos nessa influência?

Bem, ao que ainda consta, Lenny continua preto.


segunda-feira, 28 de abril de 2008

40 ANOS HOJE

Foto Site Paulinho da Viola


Não há muito o que falar sobre o que ainda não se aprendeu a escutar. Pelo menos para mim, falta um longo percurso no caminho de sentir com plenitude sua arte. Se o tempo dele é sempre hoje, o contrario ao comemorar seu passado.

Em plena revolucao metafísica, espiritual, musical, física do mundo, das instiuicoes do mundo, há 40 anos, Paulinho da Viola lançava dois discos de complexidade sem-tempo, que é o tipo da complexidade do samba e no que ele transformou o samba.

Na primeira parte do ano, um dueto fundamental com Elton Medeiros, no clássico e magistral “Samba na Madrugada”. Depois, o lançamento do seu primeiro disco solo, intitulado simplesmente “Paulinho da Viola”.

Na Madrugada” é uma curva um pouco radical no trabalho do artista, que antes mostrava sua vocação no grupo A voz do Morro, baseado em chorinho e arranjos mais tradicionais. Junto com a musicalidade mais popular e bruta de Elton , no entanto, encontrou uma terra fértil e amorosa para o seu lirismo escondido. O violão jazzístico junto com a caixa de fósforo. Era um indício genial da transformação que geraria.

Depois, já sozinho, lança um novo tipo de sonoridade, ao agregar uma harmonia meio bossa nova com um trabalho mais refinado dos elementos musicais. Não era só a voz suave. Todos os instrumentos trabalhavam para polir a alma da samba. A herança do choro, a influência de seu pai , a de Elton e a da vida nos morros confluíam nos dedos do homem . Faz poesia, faz prosa , música e crônica como uma coisa só. Sem tempo, no tempo hoje e universal de suas mãos de artesão. Tudo como um sussurro, como silêncio.

"Sem melodia ou palavra, para não perder o valor".
O valor da gratidao que os brasileiros devem a um de seus gênios.


sábado, 26 de abril de 2008

Aspira Lugo


por Bruno Moreno

É batido, mas quando se sai do Brasil e se conhece um outro país da América Latina, fica clara a distância que existe entre ele e o resto. A língua é uma desculpa pouco criativa, já que não existe diálogo nem culturalmente falando (consumimos o inglês, mas não o espanhol). É triste, porque o Brasil está sozinho nisso, já que todos os outros países sabem o que passa com o outro. Desde a história até os pequenos costumes. Estão se tocando constantemente, mas não sabem nada do Brasil, exceto que é um gigante isolado. A imprensa tupiniquim, a escola e os meios intelectuais acham que América Latina não é pauta. Se acham, não agem como.

Econômica e politicamente, no entanto, há uma maior aproximação. O mercosul anda a passos lentos, mas anda. A última pelea entre Colômbia e Equador provou que tamo e junto e misturado na questão da manutenção da soberania e da irmandade. E, por mais desentendimentos que haja, a questão do gás obriga a uma conversa entre presidentes. Mas é pouco. E, quando há uma ação mais conciliadora, a IBR (Imprensa brasileira reacionária), evoca o imperialismo armado (da última vez que o Moralez tentou nacionalizar o gás e o governo brasileiro usou da diplomacia, a Miriam Leitão só faltou chamar o Lula de frouxo por não invandir a Bolívia e obrigá-los a comercializar ou botar a Petrobrás. Ou seja, no mais claro "pimenta nos olhos dos outros / chegou nossa vez de explorar outra nação").

E essa integração tem mais um desafio agora.

O Paraguai não é o Acre. Ele existe e não é café-com-leite no pique-esconde. Está vivendo uma fase importantíssima agora. Fase que todos os brasileiros deveriam acompanhar para diminuir um pouco mais esse isolamento, que é burro e pode jogar contra. Mas a IBR continua achando que as prévias dos democratas nos Eua é a coisa mais importante do mundo e a Isabella continua com a alma inquieta de tanta arbitrariedade.

Com novo presidente, o Paraguai tem a chance de sair do ocaso e ser parte integrante e efetiva da pauta política da Am.Latina. O novo presidente vem com muita carga, tanto para as dificuldades e quanto para as mudanças. Fernando Lugo vem com a "p" do aspira de diminuir a corrupção e a pobreza gigantes do país, de lidar com uma oposição que sugou mais de 20 anos da presidência, de fazer reformas políticas e jurídicas importantes, de resolver a pendenga do gás com Brasil (Lula diz que não quer nem saber. O Celso diz que vai ver) e Argentina (Cristina disse que está toda ouvidos), de conciliar sua vocação eclesiástica e etéreas com ações bem concretas e humanas, e devolver a confiança e orgulho à população que, em sua própria fala, "historicamente é feita de guerreiros". Lugo está sendo visto com grande expectativa pelos paraguaios. Uma espécie de Lula com fala mansa e óculos de alguns anos atrás.

Ele deu uma boa entrevista para o canal TN aqui da Argentina essa semana, no programa El Juego Limpio, apresentado por Nelson Castro (vídeo da entrevista). Vai abaixo algumas falas.

História e Futuro

Não estou afiliado a nenhum partido político. Minha vida política sempre foi atrelada à luta com grupos campesinos, indígenas e movimentos sociais. Minha família, no entanto, sempre teve uma história de luta social e política intensa no Paraguai. Fato é que, se dediquei mais de 30 anos a Deus, por que não posso me dedicar 5 anos ao meu país?

Vocação religiosa

Tem sido muito dificil para mim ter largado o sacerdócio. E não consigo deixar de esconder a tristeza com o Vaticano (nota: o Vaticano o suspendeu das atividades eclesiásticas. Mas ainda estava rolando a negociação. Até o momento desse texto, a Igreja não havia dado a decisão final). Fui chamado por alguns de o bispo rebelde. Mas respeito e entendo a decisão do Vaticano. É a Igreja que amo e seguirei suas ordens.

Tenho uma admiração imensa por João Paulo II. E sei que ele teria entendido minha decisão. Porque foi o principal porta-voz da harmonia entre as diferenças, do amor mesmo que se partilhe visões diferentes. Ele sabia e me ensinou que nenhuma igreja e religião têm o monopólio do Espírito Santo.

Governabilidade

Há que se conversar com todos os grupos políticos. Sei que vai ser um desafio. Mas sempre vou dialogar. Não fiz promessas demagógicas ao povo paraguaio. Sei das dificuldades e que as coisas se resolvem em anos. Mas prometi lutar por mudanças e pela cidadania de todos. E nos dói essa fama de país corrupto. Sei que a estrutura não é quimicamente pura, mas vamos governar com transparência.

Energia

É um tema central no nosso governo. Vamos lutar para que tenha um preço justo. Pelo preço de mercado.

Sobre o fato de Lula não negociar os preços: há que pensar na integração, na coalizão. Sei que depois de passar essa fase de adaptação vamos sentar e ter um diálogo racional, sereno. E com compreensão.

Reeleição

Não vou me candidatar novamente.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Dor, educação, JN e Isabella


Muitos autores estão se debatendo atualmente para definir, enquadrar, nomear a sociedade, o tipo de sociedade, se é mesmo sociedade, o período que vivemos. Com a imediatização de tudo, por consequência com o movimento da história indo cada vez mais para o presente quase-futuro das coisas e dos homens, está se alterando (ou já se alterou) a hierarquia, o tempo e a importância de "lugares de educação" de um indivíduo.

Roubando um diálogo que tenho com uma amiga , vejo que a escola sempre se comportou como uma ferramenta de intermediação da concepção do mundo, com o entendimento desse mundo. Se o mundo atual é o "sendo" e não o "sido", nossa discussão, entre outras coisas, está na capacidade da escola e do educador de se adaptar, ler, reler, contextualizar e dialogar esse mundo aos educandos. Ao mesmo tempo que concebe esse mundo para si mesmo. Abram uma ponte (ainda cheia de tijolos e não-concluída), porque ainda se pensará mais essa questão.

Imediatamente meu pensamento vai para um "lugar de educação" fundamental nessa dinâmica desse mundo fluido. Mesmo não sendo exatamente um lugar, a mídia (que é tanta coisa, fechando-a nos veículos de comunicação e nas novas tecnologias e tecnoações desses veículos), e exatamente por ser um não-espaço, mas ao que ao mesmo tempo comunga com a instantaneidade das informações, sendo parte integrante dessa fluidez e gira-gira constante, um peso como fonte e espaço como formador, ajudador, da concepcão do mundo, do próprio mundo que move.

O ponto é esse: não é distante dele, porque também o faz. Não toma um objeto para análise porque interfere nesse objeto e precisa mantê-lo em um caminho que dome a fluidez desse mundo para, em última instância e sem muita filosofia, sustentá-lo financeiramente. Assim, mesmo que tudo na mídia seja informação e eduque, o jornalismo é a parte diretamente atrelada aos elementos mais concretos desse mundo, a busca da verdade, o paralelepípedo no meio do mar.

A questão é: onde está essa verdade se não há afastamento, se está dentro do que mostra, e se precisa, pelo menos em teoria, mostrar o que o viabiliza economicamente? (Não é isenção jornalística, não é neutralidade) Some isso ao fato de confundir público consumidor, com público consumidor de informação e educando. O jornalismo, como conhecemos, acabou. Deve ser chamado de outra coisa. E o profissional, de outro nome.

Toda essa baboseira é para me somar à visão de alguns blogueiros (seiqueláistas ou não), que mesmo instintivamente já entenderam a mudança desse barco, e estão, necessariamente raivosos, atacando a cobertura da imprensa do caso Isabella.

Alberto Dines disse genialmente que "a mídia, sobretudo a TV, usa o sofrimento para driblar o sofrimento. Quanto mais instantâneas as catarses, mais intensidade transfere-se para o espetáculo". O Jornal Nacional, que é feito de homens e mulheres, carne e osso, não uma entidade inteligente e automatizada, colocou mais um paralelepípedo, uma corrente, no encaminhamento desse mundo. Mais para o próprio porto. Um freak show da dor, falsamente vestido de interesse jornalístico, que descaradamente ditou as ordens dos fatos do mundo, do certo e errado e de algo que, de certa maneira ainda tem uma "moral" no baile todo, que são as instituições jurídicas. Não matamos tanto porque , mesmo de forma muito torta, ainda seremos julgados, ainda temos direito a sermos julgados e, até que provem o contrário, o tribunal não é forca.

A audiência triplicada e a onipresença (antecedida de onisciência) do caso, da intenção de culpabilidade, da lenha na fogueira, mostrou o perigo desse "lugar de educação" como espaço não-espaço de concepção de mundo de um educando.

Há que assumir o fim do jornalismo como o conhecemos, não por atividade egocêntrica de um ombudsman, mas por nosso compromisso como educadores desse mundo fluido. Mais: há que se destrinchar a intencionalidade da mídia porque ela não é espelho nem olhos de mais ninguém. Ela é feita de homens e mulheres. E, nesse mundo fluido e mosaico, o homem se torna cada vez mais humano. Principalmente nos erros.

O Bonner não atira seus gêmeos pela janela.



quarta-feira, 23 de abril de 2008

Catador de Façanhas



O
futebol é muito. Tanto, que intelectuais fundos, do alto das coisas humanas e divinas, ainda sonham com uma pelota cheia de barro, com o drible descomunal e impossível no adversário fantasma, e o gol lento e eterno que o acorda ainda mais das noites insones. Tanto, que apesar de ganhar caminhos alheios ao caminho que deveria seguir, o futebol segue intuitivamente, como se seus deuses comprados não tivessem poder nenhum sobre o fogo roubado de um homem da bola.

De todos os times do mundo, o Boca me parece ser o que ainda cria seus mitos e o que ainda tem o futebol como silêncio e ato, não como palavra e invenção. Os mitos não são os montados pelas cores e imagens e sim os esculpidos de suor no campo e grito de uma torcida faraônica. Sua camisa pesa nos olhos de quem vê e na alma de quem veste. Redimensiona o mundo todo, e os todos do mundo, para um retângulo cujas linhas não delimitam fim nenhum, já que o ato não pode ser delimitado.

Os heróis , na Bombonera, ainda lutam por seu primeiro pedaço de pão, como se não tivessem história. Contraditoriamente, a história de luta está no invisível visível do espaço jogado. Riquelme olha Maradona ao errar um passe. Maradona, do alto de si mesmo, sofre com se ali padecessem seus ídolos, como se quisesse e temesse aquela bola tão estranha. O ego de cada um se compartilha lentamente até formar uma unidade. No desespero, na alegria, no quase, o futebol vai criando pensamento próprio e, por isso, já que sua grandeza não tem espelhos, funde a todos numa cor só. O azul e o amarelo se pagam numa sem-imagem inconfundível e cristalina da paixão xeneize, do que é além dessa paixão.

O Boca é o time que ainda está ao alheio aos deuses. Porque os deuses não se pensam. Mas também não se amam, nem se apequenam. Ainda é um bairro, antes de uma nação. Ainda é uma pelada entreônibus e fome, antes de um jogo oficial. Ainda prefere o gol à foto, a lenda ao fato, o cheiro de cansaço de uma vitória impossível à distância inodora e indiferente da derrota aceita.

O Boca precisava de tudo para se classificar à próxima fase da Libertadores. Mas precisou apenas de si mesmo. E o Boca, como o futebol, é muito mais do que existe.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

HUMO A TOQUIO



Buenos Aires vive as questões do mundo. Físico, digo. Não sei se é conjunção de espíritos ou encarnações anteriores, mas sempre há algo relacionado com o tempo, com a colheita, com a pedra e o pau. Depois de sairmos (talvez, ainda estão negociando) de uma crise entre campo e governo, quando as prateleiras ficaram vazias mesmo havendo comida, entramos agora no período do humo nos pulmões. Não é a charmosa fog londrina, nem a maresística carioca, tampouco a fria de petrópolis. É uma fumaça que infesta toda a cidade, incrivelmente. Coisa de filme, o ataque da fumaça ninja, os anti-bronquíolos atômicos. A qualquer hora vai descer um ET dizendo que havia substâncias químicas nocivas na fumaça e todos os portenhos estão prestes a morrer ou virarem fumaça.

Aeroportos fechados, estradas com barricadas policiais, algumas aulas foram suspensas, ao obelisco não se vê. Tudo porque estão queimando pasto no Delta, para arar a terra de uma forma econômica e perigosa. E aí o Et volta, coloca a Cristina contra o campo novamente ("irresponsáveis"), mata gente em acidentes nas estradas porque não viam nada, queima os olhos argentinos para nada verem e diz sarcasticamente que o capitalismo é um vírus alienígena criado há alguns anos para acabar com natureza e, consequentemente (mas não obviamente, parece) com o homem.

Já estão organizando aqui na Praça de Maio o incensorolazzo e o marijuanazzo, para dar uma aliviada nos pulmões e na mente.

O que quero lhe dizer...é que a coisa aqui tá preta.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Noel Rosa é do povo, como o céu é do avião.



Em 2008, a obra de Noel Rosa será de domínio público. Direitos autorais são a antítese da arte. É uma fita métrica para recortar a alma livre e infinita da criação artística. É uma maneira dos parentes de olhos duros se alimentarem , sugarem, até babar, o legado de um artista. É dar valor para o que se supõe não ter. É capitalismar o choro e a alegria. Achar que a miopia de um pintor precisa de óculos de graus. Direitos autorais são a comprovação de falhamos como humanos ou como idéia de humanos.Fato é que, no Brasil, precisamos esperar 70 anos depois da morte de um autor para usar sua obra, sua visão de mundo, maestria, como deveria-se usar sempre: livremente. “Todo artista tem que ir aonde o povo estar”, já cantava Milton. A criação de um indivíduo inserido dentro de um contexto social pode ajudar em muito o caminhar dessa sociedade. Os jovens e crianças têm que ter acesso a tudo o que é feito. Teriam que ter acesso ao Noel Rosa de forma livre. Aos seus erro e acertos. Ao homem.

Se estamos em um período transmoderno, onde se supõe a tribalização, o toque íntimo e humano de coisas antes divinas, por que a arte, tão libertária, imaterial e anti-ortodoxa, precisa de um dízimo para ser apreciada ?

Ou teremos que matar nossos heróis de overdose para amá-los?
Dado intressante: na Jamaica, esse tempo é de 50 anos após a morte do autor. Isso significa que nossos filhos terão acesso livre à obra de Bob Marley em Maio de 2031. Falta pouco.

domingo, 6 de abril de 2008

Reforma Curricular



    Texto que recebemos de uma leitora do blog. Muito bom. Merece ser lido e encaminhado. Uma discussão que precisa ser aprofundada com exaustão.

    Que estamos vivendo momentos conflituosos, não é novidade para ninguém.

O fato de estarmos no auge da intolerância, da impunidade, da insensibilidade, que todos nós sofremos na pele, nos reporta a uma simples pergunta : Onde iremos parar com tudo isto ?

Sabemos que o esclarecimento, altera o ânimo das pessoas, a sabedoria o abranda, porém há que ter vontade política para que as coisas aconteçam.

A escola é o lugar onde muita coisa acontece e a educação é a melhor arma para todo e qualquer mal.

Desde 1948, quando foi promulgada a Declaração Universal dos Direitos Humanos pela Organização das Nações Unidas, começamos a olhar diferente para o que eram e o que significavam estes tais : Direitos Humanos.

Muitos grupos antes marginalizados, tiveram seu lugar ao sol e começaram a ser vistos de uma maneira mais digna.

O alerta vermelho sempre esteve firmado no descompasso histórico inevitável entre a previsão do Direito e sua real efetivação.

Atualmente muitos direitos são violados e o advento da Globalização veio a reforçar algumas desiguladades.

E não há como não ser pela educação que o sujeito adquire o conhecimento, parte para a defesa do Direito, adquire o respeito, promove e a valoriza os mesmos.

Nós, latinoamericanos sempre sofremos muito em função da violação destes direitos e também pelo expresso na segurança, na sobrevivência, na identidade cultural e bem-estar mínimo.

Emerge que façamos algo como salvo conduto à nossa dignidade e como supra citado, sugiro que através da força massificadora que só o esclarecimento, a aquisição do conhecimento e a educação tem, é que conseguiremos formar opiniões, idéias e manisfestações em busca ao resgate de nossa tão esquecida dignidade.

Porém esta busca precisa estar baseada em estudos, em leis, resoluções, decretos de lei, pareceres e todo o mais necessário que ampare e assegure o direito como tal e sua efetivação.

Precisamos urgentemente promover a inserção da educação em direitos Humanos nos processos de formação inicial e continuada dos trabalhadores (as) em educação, nas redes de ensino e nas unidades de internação e atendimento de adolescente em cumprimento de medidas sócio-educativas, incluindo, dentre outros (as), docentes, não docentes, gestores (as) e leigos (as).

Em primeira instância o que pressuponho que seja necessário é que seja feita uma mudança no currículo formador de educadores. Ele precisa estar mais próximo da realidade e da necessidade, pois atualmente temos ano após ano, professores se formando para ensinar a alunos-padrão, sendo que hoje em dia são poucos os alunos-padrão. Também percebo que o currículo não prepara os professores para que atuem com classes populares, o que é outro desafio nos dias atuais.

Quando concluí o Ensino Superior e iniciei a atuação como profissional da área da Educação, senti um grande vazio, muito do que eu havia aprendido, não poderia aplicar tendo em vista este distanciamento da realidade-necessidade. Esta questão muito me preocupa, que Universidades tendo em vista um currículo que não contempla a diversidade, forme pessoas sonhadoras e bem intencionadas que depois terão que recolher seus sonhos, um a um, por falta de campo de aplicação, pois o que almejam está muito fora do que pode ser utilizado.

Também se faz urgente propor a edição de textos de referência e bibliografia comentada, revistas, gibis, filmes e outros materiais multimídia em Educação dos Direitos Humanos.

Tendo como premissa que para que possamos criar uma Cultura de Direitos Humanos, precisamos de referências e suportes bibliográficos, aliados a uma política de implementação sugerida na ação anterior, para que possamos orientar, instruir e educar para o conhecimento de tais direitos, como conseqüência teremos adeptos por identificação e o acontecimento na prática será inevitável.

Estas duas ações são perfeitamente possíveis de serem implantadas nas escolas, tendo em vista o desconhecimento dos civis de um modo geral dos Direitos Humanos e suas implicações. Elas só não são possíveis como são urgentes, bastando para isso que tenhamos suporte das autoridades competentes, pois são mudanças de certa forma radicais, porém extremamente necessárias.

O que me pergunto paralelamente à análise na necessidade e da urgência é se há interresse que se alerte para o que é de direito. Muitas vezes é mais interessante ou conviente que tenhamos um exércitos de serviçais, que obedeçam sem questionamentos, do que pessoas esclarecidas que conhecem os direitos que a assistem e lutam por eles, por que normalmente estas pessoas « encomodam » ou desacomodam a maneira de se lidar com as leis ou de ignorá-las.

Carmen Luiza Riva é Diretora de

Escola Pública Municipal e

Pós Graduanda pela UFRGS

sexta-feira, 4 de abril de 2008

E o meu medo maior é o espelho se quebrar.



E
m algumas práticas xamânicas, o silêncio (interior e exterior) é unidade básica para o caminho do equilíbrio, da harmonia e sabedoria. Às vezes, quando duas pessoas discutem, o silêncio se torna resposta , principalmente porque só dizem o que vale a pena dizer.

Acontece que , na Internet, as pessoa falam muito. Querem falar de si, dos outros. Consegue-se , na mesma mente, o egoísmo e a entrega do ego ao coletivo (nota: nunca perdê-lo), para que o coletivo reivente, julgue, movimente esse ego.

Por isso que esse blog ficou muito tempo sem um post. É porque, quem o escreve, não teve algo que valesse a pena dizer.

Volto com um assunto pontual e ínfimo, mas que em minha subterrânea opinião merece destaque: o espelho de uma presidenta.

Falo de Cristina Kirchner. Em tempos de porradaria entre campo e governo, panelaços de uma classe média meio perdida e pré-crise americana, o que mais me chamou atenção nessas semanas, foi um pequeno discurso que a dita cuja proclamou contra uma charge de si mesma que viu no Clarin.

A charge é de Hermenegildo Sábat, um reconhecidíssimo cartunista argentino.
Está aí acima. A reclamação venho em tons amedrontadores, evocando a uma tentativa de golpe sem tanques, mas com idéias, chamando a ilutração de quase mafiosa, apontando alguma suposta perseguição por parte de um grupo portenho (qual ele é, me parece ainda muito, mas muito indefinido).

A presidenta falou como se fosse um absurdo a legítima, intocável, quase divina, expressão subjetiva, artística, de um desenhista, antes de um cidadão, antes de um homem ou mulher ou criança. Poderia ser no muro, na árvore, na folha da prova de Matemática. A expressão de uma opinião, de um ponto de vista, sem braços verde e oliva que o obriguem a aceitar. O dizer, quando se tem algo a dizer.

Cristina deu aviso-pressão ao jornal, subiu demais no próprio poder e desapontou a democracia que tantas vezes citou nos discursos contra a atitude dos ruralistas em não abastacerem a cidade.

A presidenta não aceitou a sua própira imagem em outro espelho. Temos que aceitar nossa própria imagem nos espelhos alheios.