sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

35 anos Innervisions




Mais uma data comemorativa nesse blog. Mais uma vez de música. Daqui a alguns meses, em agosto desse ano, completará 35 anos um dos álbuns mais importantes da black music: Innervisions. Black music é ignorância, mas é assim que os ignorantes entendem.

O disco faz parte de uma espécie de trilogia fundamental para quem quer entender a evolução do soul-funk-pop mundial e do próprio Stevie Wonder (algumas pessoas tratam essa época, primeira metade da década de 70, como o período fundamental de Stevie, eu prefiro falar dessas três obras).

O primeiro braço é o Talking Book, de 1972, terra de músicas como “Superstition” e “You are the sunshine of my life”. O início do uso de sintetizadores, vocais irados , suingue máximo e afirmação do artista como um homem que toca grande parte dos instrumentos do disco. O clássico posterior, de 76 (embora tenha lançado o Fulfillingness' First Finale dois anos antes, após o acidente de carro que o deixou em coma) é o duplo Songs in the key of Life (considerado por muitos o elemento fundamental das tranças do negão). É álbum dos eternos "I Wish", "Isn’t she lovely" e , para mim, o primeiro rap já composto e obra-prima: Pastime Paradise.

Compará-los é um exercício ridículo. Por isso digo que quando digo que Innervision é a obra, digo que o é para mim , na minha pouco interessante formação musical. E na de Kanye West,por exemplo, que diz que não quer fazer rap para ser melhor que 2pac, jay-z, big notorious e sim porque sonha em realizar um álbum tão absurdo como Innervision ou Songs in the Key.

Faixas poderosas, feitas de sangue , coração e uma levada impressionantes como "Too High" e "Higher Ground". Políticas, comoventes e cujo vocal é difícil de alcançar como "Living for the city". Baladas esperançosas como "Don’t worry bout the thing". Ou tristes como "All in love is fair". Tem de tudo. Até a referência clara, de uma alma que enfim se movia com força dentro da própria alma, a sua cegueira na angustiante “Visions” ( But what I'd like to know / Is could a place like this exist so beautiful / Or do we have to find our wings and fly away / To the vision in our mind ?) . Além da capa do disco, ou um desejo ou uma afirmação de que ele via mais e além.

Innervisions é o Stevie Wonder cru. Cego, negro e com desejo de amor. E com a benção de uma música genial.


Fangio e Cuba



O
que tem a revolução cubana com o automobilismo? Muito pouca coisa a não ser um fato que ocorreu há 50 anos e que envolve o líder Fidel Castro e um dos maiores pilotos da história: Fangio.

É isso que nos conta o La Nacion. Muito boa sacada editorial (ainda mais agora com a renúncia do querido barbudo).

O lendário corredor argentino foi sequestrado pela revolução, em pleno olho da batalha desta contra Fugencio Batista e os assanhados americanos.

O ditador (esse sim um ditador) chamou o piloto a Cuba porque queria usar o automobilismo como circenses em meio à crise de seu mandato e à ameaça cada vez mais cristalizada dos revolucionários. Fangio se preparava para jantar e um homem moreno e educado lhe disse: “Desculpe, Juan, você terá que me acompanhar”. Todos parados, frizados. O homem, impassível, lança: “Sou do Movimento 26 de Julho”. Cena de filme.

Do hall do hotel até o cativeiro , Fangio passou por uma agonia imensa ao se ver conduzido e em alta velocidade (depois soube que a fuga rendeu um acidente grave com os carros da frente). O argentino contou em seu livro que ao chegar lá deu autógrafo para o filho de uma senhora e manteve uma relação de incrível amizade com os revolucionários. Estes, por sua vez, passaram a se preocupar com a segurança do piloto. Tinham medo que Fugencio o matasse e colocasse a culpa no Movimento. Fidel, inclusive, direto da selva cubana, pagou esporro geral e desaprovou o sequestro de Fangio. Achou perigoso demais. Poderia custar a vida do argentino.

Mas tudo deu certo no final. Ele foi devolvido na embaixada de seu país e, após os anos, continuou a relação de amizade com seus próprios sequestradores.

A foto aí de cima é de Fangio com Arnold Rodriguez, o homem que o sequestrou e que se tornou pessoa importante no governo de Fidel.

Esporte vale mais quando tem história pra contar.

Matéria La Nacion