terça-feira, 28 de agosto de 2007

Biocombustíveis e o Brasil


SOBRE PERGUNTA BIOCOMBUSTÍVEIS E RELAÇÃO COM MEIO AMBIENTE
* Paulo Renato Porto (geógrafo)



"A preocupação em relação ao uso de combustíveis fósseis não se restringe só à questão do carbono, mas também diz respeito ao uso indiscriminado de fontes de energia não-renováveis. De qualquer forma a questão do "sequestro de carbono" pelas áreas florestadas está em alta no momento, sendo, inclusive uma opção muito rentável para grandes empresas, o que é interessante também para quem quer trabalhar com isso. É óbvio que é preferível uma grande área de floresta do que um canavial gigantesco, que desgastaria o solo, prejudicaria a biodiversidade, além de estar sujeito a diversas pragas, cujo controle se daria através de insumos químicos altamente prejudiciais ao solo e ao lençol freático.


Hoje em dia , sabe-se que a floresta pode oferecer serviços ambientais valiosíssimos (inclusive monetariamente) como: extração de recursos alimentícios, farmacêuticos, estéticos, produção de lenha e madeira, climatização, otimização dos recursos hídricos, utilização para fins turísticos e prática de diversos esportes, além de ser um banco genético muito importante.
Enfim, as florestas estão entre as principais riquezas de um país, o que coloca o Brasil numa posição preponderante, oferecendo oportunidade para ações pioneiras em nível mundial. O problema é explicar para os nossos governantes, cheios de ganância, ignorância e inépcia. Enquanto isso, a Amazônia vai sendo derrubada a passos largos, a soja já invadiu o Cerrado e da Mata Atlântica original restam 7%. O próximo passo - para o qual o Lula acena com veemência, para não dizer abana o rabinho - é destruir a Caatinga para plantar cana e vender álcool para os Estados Unidos.


O assunto é de uma ordem de grandeza que vai ficar difícil comprimir em algumas linhas. A questão energética é uma problemática mundial que toca em diversos pontos delicados e muito variados tais como: desenvolvimento nacional, soberania nacional, padrões de consumo, utilização dos recursos naturais, enfim, é uma questão que envolve inclusive guerras, como todos sabemos (vide Oriente Médio), ceifando muitas vidas humanas, vegetais e animais.
A princípio, todos nós seres humanos dependemos totalmente dos recursos naturais, da menor à maior escala. A questão é vital: como utilizar esses recursos, a fim de garantir a sobrevivência da espécie? O que é necessário para a sobrevivência da espécie? Na verdade, falta-nos a percepção de que a vida humana é possível graças a um sistema infinito, altamente complexo e delicado, uma conjunção de fatores muito difíceis de estimar que forma a "Gaia", o organismo singular que chamamos de Terra.


Na minha opinião, o ser humano, historicamente, é ainda um bebê que quer mamar no peito a vida toda. Há um cálculo que diz que se a existência da Terra tivesse um ano, o ser humano apareceria no dia 31 de Dezembro, às 23:45 hs.


Voltando à questão enérgética: não há um consenso sobre a "melhor" opção energética para o nosso país. Pelo contrário, há discussões intensas sobre esse assunto, envolvendo órgãos e interesses múltiplos. Sabemos, por exemplo, que o compromisso do Lula é com o desenvolvimento econômico, mesmo que esse seja muitas vezes escamoteado atrás do conceito tão alardeado quanto indefinido e subjetivo de "desenvolvimento sustentável". Por isso, quando Marina Silva quer barrar a construção de uma hidrelétrica, ela entra em conflito com o presidente, que vê isso como uma forma de barrar o "desenvolvimento". Na verdade, isso é o que mais acontece: desenvolvimento versus meio ambiente.


Uma questão é factual: precisamos de energia elétrica. Outra é conceitual: quanto precisamos?


Na minha opinião, a questão deve ser resolvida de forma multilateral: o Brasil é um país extenso e deve aproveitar as potencialidades energéticas de cada região. O Nordeste, por exemplo, é rico em insolação e ventos. Já temos aí duas opções energéticas interessantes. Nosso litoral é bastante extenso e já está em desenvolvimento a utilização da energia das marés. Além disso, as grandes hidrelétricas, que inundam áreas extensas, cobrindo florestas e criando problemas sociais (como remoçaõ de comunidades inteiras) já não são necessárias. Os chamados "Grandes Projetos" do Brasil, na verdade têm algo de megalomania e, principalmente, interesse financeiro de grandes empresários, em estrito e escuso vínculo com o Estado. Hoje em dia, há projetos de usinas de pequeno porte, que abastecem localidades específicas e geram emprego e renda para as mesmas. A energia nuclear é bastante interessante para países pequenos (como a Holanda, por exemplo, que tem 70% de sua energia baseada nessa fonte), o que não é o caso do Brasil, pois essa opção envolve riscos serísimos.


Já a questão dos biocombustíveis é interessantíssima. O problema é quando ela toma proporções de "milagre" ou "salvação nacional", voltando-se não para a solução energética, mas sim para a solução econômica, baseada na exportação de nossos recursos naturais, coisa que acontece desde Cabral. Essa posição subserviente é que me incomoda, pois mantém o status quo de dependência e exclusão social. O que os nordestinos ganhariam das enormas divisas geradas pelo àlcool produzido em seu território de origem? Com certeza a exploração do trabalho (quando não o trabalho escravo) e a destruição de seu ambiente natural para a produçaõ extensiva (praticamente uma plantation).


Não se enganem: a questão é complexa e exige uma reflexão não só em nível nacional, mas também em nível pessoal: o quanto custamos para o planeta? O quanto custa para os recursos naturais e humanos nosso desejo de trocar de carro todo ano, de celular assim que aparece um modelo mais novo e bonitinho, de levar meia hora no banho por puro capricho e conforto pessoal, de usar um tênis que escraviza milhares de taiwaneses?


Enfim, é muito fácil ficar no discurso bonito e criticar as ações do Governo, essa entidade quase extra-terrestre.


Refletir sobre nossos hábitos, desejos, nossa forma de viver e se relacionar com o mundo, ah, quero ver quem tem coragem.


O desafio está lançado. "

2 comentários:

Anônimo disse...

entendi nada~~~~~~

Anônimo disse...

explica com palavra + facil~~~~~~