terça-feira, 16 de outubro de 2007

GRAN HERMANO QUE VALE ASSISTIR



Quem é melhor: Pelé ou Maradona? Todos sabem que a esmagadora maioria dos brasileiros escolhem o negão e os argentinos , muitos deles, vociferam o posto de dieguito. No entanto, a tevê argentina deu um exemplo de que essa discussão pode ser aprofundada, alongada e , contra o que dizem os mestres instantâneos de mba’s da vida, encher de cultura o grande palco da espetacularização barra vendas. Nada que ver só com a questão acima. Até porque Armandito ficou fora da resposta à uma pergunta um pouco mais ampla: qual é o maior argentino de todos os tempos?

Mais de dois milhões de portenhos responderam, através da clássica fórmula bigbrotheriana de sms + internet. Quem perguntou foi o programa El Gen Argentino , que passou no canal aberto Telefe. Interessante ver nomes grandiosos como Borges, Fangio, Evita, Che Guevara, Piazolla, Mercedes Sosa, o próprio Dieguito e por aí vai. Melhor ainda verificar o formato do show. Composto por um apresentador e quatro especialistas (três jornalistas e um historiador – que municiavam de informações , elogiosas e críticas, aos telespectadores, assim como respondiam perguntas sobre as figuras históricas), além de uma platéia um pouco mais questionadora que as velhinhas vazias e doces do Sílvio Santos, ‘El Gen’ tentava explicar um pouco dos passos de uma nação através dos seus mitos. Dividiu primeiro em categorias (esportes, artes, política). Depois foi rolando o saudoso mata-mata (volta, Brasileirão!) até se chegar nos finalistas.

Vão dizer que é impossível fazer esse tipo de julgamento, que é perda de tempo, etc. Para mim, a quem interessar possa saber o que acho de alguma coisa, todo tipo de reflexão a ser feita nesse mundo midiático é válida. Ainda mais quando entra em um canal aberto, democrático. O próprio apresentador, antes de anunciar o hermano número 1, agradeceu a oportunidade de se fazer um tipo de programa assim: com análises, informações históricas, debates críticos, sem a presença (incrível essa) de nenhuma modelo-atriz, ator-cantor, famoso-nada, participante-quem, da vida. É um momento de se respirar e dizer, de um certo modo, que ídolos criamos, qual o seu legado, como devemos ver isso, o que lembrar, por que lembrar. O formato da Endemol teve sua hora de anjinho e cochichou coisas boas nos ouvidos dos teles. Curioso notar também que os argentinos também precisam tomar mais óleo de fígado de bacalhau patriótico. Ginobili teve mais votos que Borges, Batistuta na frente de Piazolla e , entre os 30 mais, nenhum ativista política, prêmio Nobel. Um dos julgadores presentes puxou a orelha da galera: “Que tenham mais senso crítico e orientação histórica na hora de votarem” (a eleição para presidente aqui é em duas semanas)”.

Percalços à parte e mesmo merecendo mais votantes, a contenda chegou ao fim. Cara-a-cara, dois monstros sagrados das ações transformadoras de um país e dos seres humanos dentro dele: General San Martín e René Favaloro. O primeiro libertou todo mundo. Nasceu aqui, foi pra Europa, lutou com os espanhóis contra os franceses , voltou e , contra os mesmos espanhóis, quis libertar sua terra. Acabou ajudando a libertar o Chile e o Peru também. O segundo foi só o cirurgião cardíaco que criou o by-pass, a ponte de safena, que salva milhares até hoje. Favaloro operou um bondão da classe pobre de graça e se suicidou em 2000. Deu o General por apertados 55%. De qualquer maneira, uma linda reverência a tudo o que um país criou, uma eficiente referência aos chicos que podem criar mais ainda.

E o Brasil, hein? Por quê não copiamos descaradamente e fazemos algo do tipo? Não vale a pena tirar mitos encruados das entranhas? Recriar Getúlio é mexer no queijo do Lula? Humanizar o Pelé é tirar da indústria folclórica e identitatória do futebol? Dizer que Machado é preto é burrice de movimento? Estamos com medo de que a Xuxa apareça na frente de Paulo Freire?

Será que temos medo de não ter figuras que escapem de fatos vexatórios? Será que daremos conta de que a pergunta que nos corrói e que afinal teremos que fazer é uma pergunta sem resposta?

Quem é melhor: Capitão Nascimento ou Zé Pequeno?

3 comentários:

Anônimo disse...

Que saudade FDP de você, irmão! Consegui abrir seu blog aqui (shhhh!) e agora vou poder ficar de olho nas suas aventuras em terra estrangeira. Beijo!

Eduardo Melido Ribeiro disse...

Capitão Nascimento, fascista como todos nós!!
Alguma dúvida que a Xuxa ganharia fácil? Ah, tah, esqueci que com o Silvio Santos pode haver empate, mas isso representa algum problema, seria sintoma de alguma coisa?

Sei não...

Enfim, foi um bom pretexto para puxar assunto com este ex-companheiro de trabalho que terá que ler nos sites brasileiros como foi a atuação de Romário como técnico...

Abs!

Eduardo Melido Ribeiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.