quinta-feira, 4 de outubro de 2007

O ensinamento de um mito



Dezembro de 2007 será o mês de aniversário de uma revolução. A primeira, de duas. Provavelmente não será comentada como o marco de uma era, e do modo de vida de uma era. Provavelmente o seu líder , o Buendía do sapato brilhoso, será o foco distorcido de um acontecimento lindo. No dia 01 do mês referido, há 25 anos atrás, o álbum Thriller, de Michael Jackson, era lançado nos Eua.


Foi pioneiro ao levar à criação da linguagem dos videoclipes modernos, como na faixa-título. Foi profético ao mostrar (a ainda invisível) monstrualização de um artista. Foi suave , na junção melódica perfeita com Paul Mcarney em ‘Girl is Mine’. Foi genial por causa também da genialidade de Quincy Jones, como no arranjo de Beat It (salve Van Halen), uma faixa perdida em mais de centenas, que encontrou o ouvido privilegiado de um negão jazzístico. Foi pop, profundamente pop e em tudo o que isso pode significar além da fama e quantidade (de grana, de flashes, de polêmicas, de palavras) , no feito quase insuperável de ‘Billie Jean’. Não foi um disco.


E também não foi daí que o mito de MJ surgiu, mas foi a partir dele que houve o casamento quase sagrado de um homem, sua música, do mundo e de como esse mundo se move. Thriller e MJ entraram como água nos parafusos do sistema pré-neo-liberal, no embrião das tvs musicais, do mercado paralelo da fama, do espetáculo, no apocalipse imagético preconizado por Debord, da imagem acima de tudo. A música do álbum também era imagem, e imagem virtualizada, na pura acepção de fluidez (Bauman) , metamorfoses. Era um mosaico de identidades possíveis (o trash, o romântico, o pop). Indicava o fim da modernidade tão comentada pelos pós-modernos. Era o que a indústria da música precisava pra vender, era o que a indútria televisiva precisava para aprender a fabricar mitos em mundo que já metia o pé na globalização, era o que as pessoas do mundo precisavam para aprender a consumir e a se desforrar de alguns penduricalhos. E está aí a revolução. Não era apenas música, mas também não era comportamento (só o Sgt Peppers bastava se fosse). O álbum não foi o marco de uma era. Ele ensinou o que essa ‘era’ poderia ser.
Mas sua importância se perdeu no tempo (anti-tempo, pós-tempo, destempo). Exatamente porque as engrenagens são tão líquidas que não têm memória. Um deus não é tão deus assim. Ficou em segundo plano porque o seu general pulou para o primeiro. E, nesse movimento, está a segunda revolução citada lá em cima. Um dos criadores da maneira de se ver as coisas no mundo, cortou os olhos do mesmo mundo (como Buñuel e Dalí fizeram em Cão Andaluz). Ele se monstrualizou. E fez a maior crítica já feita a esse sistema.


Aí é outro pequeno e pretensioso texto. No mais, parabéns aos 25 anos de uma obra-prima da música. Do avô de tudo o que se conhece como pop atualmente.

2 comentários:

Ciana Lago disse...

e viva o Thrillerrrr

otimo texto!!

sou sua fã!

Anônimo disse...

Ótimo álbum, ótimo texto.

Thriller é genial do primeiro gritinho até o último falsete.