Nao precisei ir muito longe para ver uma açao de coletividade funcionando. Virei a esquina. Aqui em Buenos Aires , em plena era do elogio do consumismo e prazer pessoal, os cidadaos, exercendo o papel de verdadeiros consumidores (os que entendem que a força está em quem compra, nao em quem vende) deram uma aula de organizaçao e atitude. E o vilao dessa história nao é nenhuma mega –corporaçao. Trata-se de um serzinho vermelho, meio fruta meio legume, com pele fina e vascularizada: o tomate.
Há um embate aqui sobre as taxas de inflaçao, o chamado INDEC, divulgadas pelo governo. O presidente Kirschner diz que elas estão corretas, ou seja, baixas, controladas. Alguns outros órgãos independentes, de entidades de consumidores (Defensa de usuarios y consumidores, Centro de Educación al Consumidor, Asociación de Defensa de Usuarios y consumidores ,etc) dizem que não. E, para provar, compararam o preço do tomate divulgado pelo INDEC e o preço real. Parece piada. Na tabela do governo, o fruto está em torno de 04 pesos, o kilo. Nas prateleiras de supermercados e nos mercaditos ou verdulerias (umas lojinhas bonitas e organizadas que vendem frutas e verduras e que estão quase em toda esquina) chegam a 18 pesos. Ontem passei por uns três aqui no bairro de Palermo. De manhã o tomate estava custando 16, o kilo, em média.
Pois bem. Os argentinos ,então , pararam de reclamar e agiram. Tais entidades convocaram a populaçao para uma semana de boicote ao vermelhinho. Nas ruas, apoio total. Quase ninguém compra tomate. Todos acham um absurdo, que há alternativas para a salada e para os molhos. Até os comerciantes fazem aquela cara de sem-graça e concordam com a ação. É uma mobilização para mostrar que o governo está enganado (ou querendo enganar). Alguns supermercados, eles mesmos, se juntaram e comunicaram que não vendem mais tomate até o preço abaixar. O presidente da Federação de Comércio de Buenos Aires, o Raúl Lamacchia, declarou ao Clarín que o alto preço é fruta da grande demanda, resultado do crescimento que vem passando o país. Os agropecuários se calam. A favorita à sucessão da presidência, Cristina Kirschner, diz que essa dinâmica nos preços é razoável, normal. E voltou, junto com o marido, a defender o INDEC. Detalhe que no almoço de ontem dela com alguns empresários, de acordo com o La Nacion, uma bela salada caprese, com um belo recheio de tomate. A oposição faz o seu papel (se opor) e diz que, nas palavras de Roberto Lavagna, adversário direto de Cristina ( e ex ministro da Fazenda de Kircshner)o governo fez um monte de besteiras na área econômica e que suas intervenções fazem cair os investimentos.
Palavras à parte, li o Clarín de hoje e vi que o preço dos tomates tinha baixado drasticamente. Em apenas um dia. Fui novamente no mercadito aqui perto de casa. Cheguei na seção do fruto, o dono me olhou sabendo que eu só estava lá pra ver, checar, assim como muitos outros o faziam na mesma hora. Fui embora com a comprovaçao do Clarín e da força das atitudes coletivas. Em pouco mais de 24 horas o kilo do tomate da salada caprese de Cristina Kirschner tinha baixado de 16 para incríveis 9 pesos. “Tenho que baixar. Ninguém compra tomate” – disse o dono do mercadito. E ainda temos uma semana pela frente.
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