terça-feira, 19 de junho de 2007

Visões Periféricas?


por Bruno Moreno


Um evento no Rio de Janeiro foi pioneiro e mereceu toda a atenção da sociedade civil. Mas passou desapercebido. O Festival Visões Periféricas acabou essa semana e foi organizado pela Ong Observatório de Favelas. Mostrou a produção audiovisual dos locais em desvantagem social, com películas de cineastas oriundos de escolas e oficinas populares de comunicação e cinema de todo o país. A idéia era inverter um fato que "comemora" mais de 100 anos : mostrar o olhar da periferia sobre a própria realidade.


Acontece que pouca gente viu e se importou. Acontece que esse movimento vem ocorrendo lentamente, em algumas luzes pontuais, discutíveis e polêmicas, mas que não apresenta um destino para se comemorar . Falcão - Meninos do Tráfico, pode ser considerado o ápice e o início de um filme quase puramente da favela. Deu um baque, que durou o tempo do fogo de duas palhas. Seguiu-se uma moda global disso. Cidade dos Homens, Central da Periferia, as spice girls pobres Antônias. Independente de qualquer crítica, foi a primeira vez que essa presença maçiça dos locais ditos como "informais" apareceu como parte do cotidiano da cidade, não só no samba, mas em formas estruturais, urbanísticas e de cultura. Em formas de imagens. Mas parou por aí. O que se seguiu, e paralelamente a isso, foi que a periferia foi mostrada com festa demais. Diretores ganharam dinheiro com os pobres (Cidade Baixa, Cidade de Deus, Amarelo Manga), Cacá Diegues teve sua carreira ressuscitada ao se tornar o paladino cinematográfico do pobre, acadêmicos adotaram cada um a sua favela nas universidades públicas e particulares. Mais: ter um projeto audiovisual virou coqueluche orçamentária nas Ongs e quase uma exigência dos patrocinadores dessas organizações. Críticas à parte, ainda era um festival para se ver.
A idéia de se contar a própria história é magnifíca. Ajuda na transformação da estigmatização histórica que a periferia sofre. Desde tempos do Cinema Novo (Sim!), Rio 40graus e Pixotes da vida. É a revolução midiática que deveria ter acontecido, mas ainda é absorvida pelos que detém o poder de transmissão. E transmitem como querem. E esses não moram em barracos. Além disso, o novos possuidores das câmeras estão se subjugando aos ditames da elite branca (sim!) cinematográfica. Digo objetivamente que a forma de contar essa realidade é manipulável, assim como manipulável são as aprovações dos patrocínios. É preciso cuidado no jogo do toma lá da cá para não se perder os fins, já que os meios desviaram-se a princípio.


O Festival Visões Periféricas teve um grande valor. Mostrou que as coisas estão sendo feitas. Em quantidade e qualidade. Pena, novamente, que tenha servido para se afagar a cabeça do fudido e para a senhora madama dizer "que bonitinho o que ele fez". Valeu para marcar a existência de algo que está sendo sutilmente redefinida em favor das mesmas pessoas que fabricaram as visões errôneas e estereotipadas de que querem fugir as lentes atuais da periferia. Mesmo que quase ninguém saiba, tenha visto ou veja a realidade social que se afigurou há mais de 100 anos. E que ainda não foi bem contada.

3 comentários:

MEET US disse...

Que pena que não me avisou antes. Adoraria ter assistido alguma coisa.

Tô gostando de ver o blog. Bons textos.

Beijo!

Anônimo disse...

A Globo comprou Falcão e foi cmprando os preto pra deixar tod mundo bonitinho. esse festival teve boa iniciativa mas foi só amigo. É nóis,leke.

Anônimo disse...

Muito bom o texto, Bruno! Realmente, os meios técnicos já estão mais acessíveis, mas a ideologia, a forma de se olhar a periferia ainda não conseguiu se libertar e se revolucionar ...
Vou estar sempre bizoiando por aqui :)
beijos!