Por Fânia Rodrigues
“É maldição do homem gênio que na própria medida em que ele aparece aos outros, grande e admirável, estes lhe pareçam pequenos e mesquinhos. Contudo tem que calar toda a vida essa opinião, como eles calam a sua. Entretanto é condenado a viver numa ilha deserta, onde não encontra ninguém que se lhe assemelhe, e sem outros habitantes senão macacos e papagaios” é o que fala Friedrich Nietzsche.
Esse é um dos grandes dilemas da humanidade. Porque quanto mais conhece, mais sensível, humano se torna o homem e conseqüentemente mais vulneráveis as dores do mundo, já que as palavras, os gestos, as atitudes fazem mais sentido quando se conhece mais profundamente a razão, a história e a mente humana.
Segundo a psicanálise o homem vive em função dos seus prazeres, desse modo o homem é escravo dos seus desejos. Ele vive para suprir as necessidades que ele mesmo criou, e antes de satisfazê-las cria novos desejos. Tudo para fugir da dor, que tanto o apavora.
No entanto, o mais interessante é que, quem dá a medida do prazer é exatamente a dor. Por isso é que Nietzsche defende a dor como os estado positivo do homem, pois segundo ele só na dor o homem se sente profundamente. Pois alegria não é reflexiva, ela externa, portanto ela se dá no estado da ausência humana.
E defende que o homem só se conhece profundamente na dor e segundo ele “o conhecimento é tristeza: aqueles que mais sabem são os que mais profundamente devem lamentar a fatal verdade, a árvore do conhecimento não é a da vida”.
Segundo Schopenhauer, se nossa existência fosse ilimitada e ausente de dores, talvez nenhum homem tivesse tido a idéia de perguntar a si próprio porque existe o mundo e se encontra constituído de justamente desta maneira. Tudo se compreenderia por si mesmo.
Para Schopenhauer, se todos os desejos, apenas formados, fossem imediatamente realizados, com que se preencheria a vida humana, em que se empregaria o tempo? Coloque esta raça num país de fadas, onde todos os desejos são realizados o mais facilmente possível, os homens morreriam de tédio ou iriam enforcarem-se, outros matarem-se, e causarem-se mutuamente mais sofrimento do que a natureza agora lhes impõe.
Portanto a dor e solidão são maus necessários, pois como o homem poderia se dar conta que a alegria existe se não tivesse a dor para medi-la. E a solidão, por sua vez é um estado natural do humano. É a ausência do outro, e principalmente algo que acontece dentro, e não fora das pessoas, ou seja, fugir da solidão é como fugir de si mesmo, do que pensa, do que sente e do que é.
Sobre a eterna juventude
Há uma frase do ator americano James Dean que ilustra bem a psicologia da juventude. Ela diz: “viver cada dia como se fosse o último e sonhar como se fosse imortal”. O duque francês La Rochefoucauld já dizia “A juventude é uma longa intoxicação: ela é a razão em estado febril”.
Essa juventude que vai da adolescência até os 20 e poucos anos, é incrivelmente imediatista. Mas temos que inventar atividades prazerosas que possam ir além do sexo, drogas e rock’n’roll. Caso contrário, corremos o risco de vivermos uma vida que será apenas de uma nostalgia melancólica de um tempo que já passou.
O quero dizer é que o prazer não vem apenas do corpo, assim como a espiritualidade não vem apenas da religião. Ela pode vir do prazer proporcionado pelas artes plásticas, pela literatura, da música, da ciência e da filosofia. São atividades que não dependem de atributos corporais para ser exercidas. São prazeres proporcionados pela mente e não pelo corpo, já que este último rapidamente envelhece.
Um comentário:
Nossa mãe! "prazer não vem apenas do corpo, assim como a espiritualidade não vem apenas da religião". Isso é muito bom! Parabéns, Fânia.
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