quarta-feira, 2 de julho de 2008

E agora, seu dotô?


Pode parecer (e até em certa medida é) cricri, mas me incomoda o nome que a imprensa deu para a nova lei que vai botar pra quebrar em quem for pego dirigindo alcoolizado.

O termo "Lei Seca" me faz lembrar três coisas que não condizem com a importância e gravidade com que deve ser tratada essa lei: Al Capone, eleições e fantasia das classes.

Al Capone porque me remete obviamente à década de 10, 20, quando a venda e consumo eram completamente proibidas nos EUA. Quem entrou no vácuo e no desejo da elite intelecutal (formada pelas classes média-alta/alta) foi o tiozinho aí citado, que enriqueceu como um bom mafioso enriquece: vendendo as ilegalidades.

Eleições porque não se pode beber nas eleições brasileiras.

Fantasia das classes porque, no dia das eleições, os bares do Leblon e das favelas ficam lotados.

O que essas três coisas têm em comum é a manchinha que aparece na repetição incessante do termo "lei seca". Me parece quase uma provocação, uma discordância velada, um "pimenta no dos outros é refresco, mas no seu é desespero". Me parece uma zombaria discordante, que dá um nome carregado de idéias de proibições, desprazer, infortúnio ao termo.

Os jornais são formados pela quase mesma elite intelectual (conceitualmente falando) que formava os universitários e pensadores americanos que deram as mãos aos mafiosos em troca de uma cervejinha. O povo brasileiro é formado da ilegalidade, é patrimônio histórico e cultural. O Leblon, por sua vez, é formado de hipocrisia e uma incrível e mirabolante capacidade de adequar aos seus interesses o que, sem meias palavras, está errado.

Então, faço algumas perguntas, para as quais nem Darcys nem Freires terão as respostas, suponho:

- E o motorista do ônibus Madureira-Saens Peña que, na sexta sagrada, na altura da estação de trem de Quintino, compra aquela geladinha com o ambulante, o Seu Geraldo?

- E a cervejinha dos policiais que vão extorquir os bares da cidade e, posteriormente, vão extorquir com os bafômetros?

- E o que será dessa lei no Carvaval, minha gente? A terra de Marlboro vira terra da Skol.

- E o Zeca Pagodinho?

- E a volta da praia no lindo trajeto Arpoador-Barra. Sem uma gelada não tem quem aguente.

- E o sambinha na Lapa cheio dos revolucionários da Puc e dos comunistas de tardes vazias nos bares das universidades?

- E a produção de amendoim?

É melhor o governo parar com essa palhaçadinha de lei. Ainda mais quando se trata da intocável "cervejinha", objeto totêmico quase inerente ao ser brasileiro.

2 comentários:

Anônimo disse...

Não sei se esse texto está carregado de uma ironia muito acima da minha pobre capacidade de entendimento ou se você realmente defendeu o comportamento criminoso de beber na direção.

Um outro texto com outra visão sobre o tema: http://blogdoantonioprata.blogspot.com/2008/07/varol-bermelho.html

Anônimo disse...

fica tranquilo que foi ironico. Agora, nao é ironia acima da sua capacidade nao. É incapacidade do meu texto ser claro mesmo!!!! hehehe

Sou um grande defensor dessa lei. O que quero falar com o texto é que a "cervejinha", o "nao-cumprir" leis, é algo quase inerente ao brasileiro e quase natural ao carioca (e isso também é ironico e estúpido) . Na verdade, é uma ironia dentro de uma ironia dentro de uma ironia. Enfim....

A cerveja nao é o cinto de seguranca. O cinto prende, a cerveja solta.