segunda-feira, 7 de julho de 2008

Países de papel, barquinhos de metal.


Faço humilde coro ao absurdo da presença americana nas costas brasileiras. Estou falando da famigerada “4. frota da Intervenção Americana”, criada em 1943 para afundar os submarinos nazistas e desativada em 1950 com o fim da Guerra.

Agora o governo americano a reativou sem nenhuma explicação plausível e respeito ao território alheio. Esse fato se soma a outros, que vão comprovando, pouco a pouco, os movimentos realizados por esse país para uma pressão militar desconhecida desde meados dos anos 80, com o fim das ditaduras financiadas por eles mesmo.

Lula reclamou, Chávez reclamou. E, é verdade, a imprensa nacional “chupó un huevo” (cagou e andou). A vergonha jornalística é brasileira, mas também encontra ecos em seus hermanos argentinos. Silêncio total e alguns pedregulhos éticos.

Ontem, por exemplo, passou no suposto all news Canal 5 daqui uma espécie de Globo Repórter emotivo e tendencioso sobre a nova Nova Iorque sul-americana: Medelín. Isso mesmo. De acordo com o programa, a cidade, antes dominada pelas “guerrilhas” (essa foi a palavra usada) narcotraficantes, agora é um paraíso de paz e bem-estar. A tolerância zero de Uribe deu resultado e, através de depoimentos sem nenhuma base estatística ou contextualizada, mostrou um panorama quase pollyânico da cidade. Sim, obras públicas como o teleférico e a biblioteca doada pelo rei da Espanha ajudaram reduzir a criminalidade e a cidade melhorou um bom por cento. Não quero negar os fatos e as boas ações colombianas. O que me incomoda é a completa falta de crítica de um programa jornalístico importante, com quase duas horas de duração. A “reportagem” foi a apresentação de números do governo e sonoras de crianças que “largaram o tráfico” (essa idéia maniqueísta e jesuítica de recuperação), a classe média que se esconde em seus condomínios e, adivinha, o depoimento de gente do próprio governo. E isso logo após a "umseteúnica" liberação da Ingrid (acabei de saber também que os americanos resgatados já firmaram contrato com Oliver Stone para fazer um filme sobre o drama das selvas colombianas).

Estou parecendo um daqueles comunistas flamejantes e retardados que falam que tudo é culpa do outro. Mas, nao dá pra negar, é tudo espetacular, perigoso e pró-imperialismo demais. Assim como o são:

- Liberação da Ingrid de forma estranha, após a presença de McCain.
- Plano patriota, que permite a presença da Cia e tropas americanas na parte colombiana da Selva Amazônica.
- Patrocínio americano dos planos de conflito na Bolívia, que é país central e simbólico da liberdade da América Latina.
- Pressão na ONU para que Lula abaixe as calcas e entregue a Amazônia.
- Massiva demonizacao midiática de Chávez (críticas à parte, valha-me Deus a parcialidade, né?)
- Pouca atenção midiática ao conflito que ainda persiste entre Colômbia e Equador (o que possibilitaria uma maior presença americana no continente).
- Histórica influencia da inteligência americana nos rumos políticos do continente (ou seja, o curriculum é bom).
- Recursos naturais abundantes no continente em época de crise e desencontro financeiro americano.

E, para completar, a presença assumida e criminosa de mísseis apontados para a nossa cabeça. Em um mundo pós-moderno, com a fragmentação e “informacionalizacao” do indíviduo e suas relações formando uma nova forma de enxergar a realidade, é surreal ver as atitudes quase McCarthistas . Quando se trata de mexer no queijo, toda a teoria de democracia neoliberal, individual e quase levítica de uma sociedade internética, dionisíaca e espiritual, perde espaço para o mais antigo de nossos instintos: o uso da força.


Um comentário:

Anônimo disse...

meu irmão.... FODA! seus textos são sempre muito bons, parabéns! Eu por aqui nada tinha lido sobre isso até agora, será q ando meio desligado e nem sinto meus pés no chão?
tá faltando um post sobre a eleição do Dinamite e a esperança cruzmaltinh!
Abs;
Otto