terça-feira, 12 de agosto de 2008

Por un corazón...

A tragédia é algo realmente que tem a ver com a alma argentina. Como escolha de modo de ver o mundo, como manifestação artística e até como reconhecimento de suas mentes mais brilhantes. Neste último caso, um fato curioso e triste que comprova essa tragédia é o Prêmio Nobel.

O país tem 5 premiados em sua história: os médicos e fisólogos Bernardo A. Houssay e César Milstein; o químico Luis Fedérico Leloir , o ex-ministro Carlos Saavedra Lamas e o arquiteto Adolfo Pérez Esquivel.

Mas talvez nenhum desses teve uma influencia tão grande quanto o Saavedra. Ele ganhou o Nobel da Paz após intermediar o sangrento conflito entre Paraguai e Bolívia, impulsionado por grandes empresas petrolíferas como Shell e Esso, e que ficou conhecida como a Guerra do Chaco (1932-1935). Além disso, Saavedra foi chanceler da ditadura imoral e assassina de Juan B. Justo e Ministro de Victorino de La Plaza, que ficou após a morte de Saenz Peña (seu sogro).

Mas qual é a tragédia? A tragédia não está só no não-reconhecimento de gente supra-humana, como Borges, mas pela escolha de um representante argentino corrupto em detrimento de um considerado como o nobelista moral daqui, René Favaloro.

René Favaloro foi um cirurgião que simplesmente criou a “ponte de safena”, salvando um trilhão de pessoas na história. Além disso, criou um mega hospital filantrópico que realizava essas e outras cirurgias em Buenos Aires. Se essas ações não merecem o Nobel, me digam o que pode merecer.

Por outro lado, Saavedra ganhou. E nada menos adequado, para colocar um eufemismo. Acontece que, primeiro, a autoria dos ditames da mediação que lhe condecoraram como o “autor da paz” do Chaco é de um embaixador americano chamado Cordell Hull, que deu, presenteou toda a tese ao argentino porque se fosse ele a apresentar a idéia, por ser americano (e rondar uma richa Inglaterra-Eua pelo mercado platense) simplesmente não teria a unanimidade necessária para o cessar-fogo (que, agora sim, premiaria os bolsos americanos).

Fora isso, que é o menor dos casos, Saavedra, quando tinha um proeminente posto na já referida infame ditadura de Justo, em 35, recebeu cerca de 100 mil pesos (hoje, seria o equivalente a quase 2 milhões de dólares) para pressionar e influenciar o Congresso a deixar passar uma lei que garantia os serviços de luz da cidade de Buenos Aires nas mãos de uma empresa espanhola por mais de 60 anos. Essa lei não só fazia isso, como tirava as obrigações de investimento em infra-estrutura por parte da empresa, tirava as obrigações de algumas leis trabalhistas, perdoava uma dívida de mais 60 milhões de pesos ao Estado por cobrança indevida e perpetuava essa relação cruel dos detentores de riqueza estrangeiros e nacionais com a miséria da população. Foi esse ser humano que recebeu o Nobel da Paz.

E sabe o que aconteceu com Favaloro? Se suicidou em 2000 por conta da crise financeira pela qual passava sua fundação. Os 2 milhões de dólares de Saavedra poderiam poupar sua vida.

Toca o tango e chora a milonga de nossos dias..

Um comentário:

Túlio disse...

os caras são penta no Nobel... não é pra qualquer um.