Assim como é irresponsável e pretensioso julgar um filme exatamente após assisti-lo,
é duvidoso posicioná-lo nesse ranking mental que fazemos das melhores obras que já vimos em nossa vida. Por isso talvez esteja escrevendo ainda com o calor da proximidade e do impacto.
Fato é que , no meu imaginar, “A Visita da Banda” (ou A Banda. co-produção EUA-França –Israel), do diretor israelense Eran Koliri, é um dos filmes mais profundos que vi nos últimos tempos.
Trata-se de uma suposta comédia leve e singela e que fala sobre uma banda de cerimônia egípcia que se perde em um pequeno bairro Israel e se relaciona com seus moradores de formas inusitadas. Por um lado mais intelectual, poderia-se dizer que mostra algo da incomunicabilidade (barreira da língua, cultura e, neste caso, ódio histórico) dos homens e o elogio da comunicabilidade já que, mesmo com essas barreiras, eles se entendem. Pode-se defini-lo de diversas formas, assim como quase tudo na vida.
Mas o que mais me espantou na obra é que ela, antes de tudo, é silêncio. E não é pelo ritmo como as coisas passam. É mais pela simplicidade de mostrar o que tem que mostrar, como lidamos com nossos sentimentos em nossas rotinas, como calamos, de que forma expressamos e o que tentamos resolver e o que escondemos. Sem nenhum artíficio dramático e cenográfico além de pessoas e o diálogo eloqüente e inteligente dos olhos, o filme, cru e ordinário, mostrou um pequeno pedaço desse grande tecido do qual somos feitos.
Os personagens somos nós, em algum momento, em alguma parte que não vemos. O músico que nunca terminou seu concerto e , com as mãos inertes, suprime seu desejo de reger a banda, o general supostamente autoritário e líder da banda que , mesmo responsável por sua dor (há que ver), aprende a lidar lentamente com suas próprias verdades, um rapaz que vê a vida passar como se nada e aceita o cotidiano e o amor como se não tivesse o que fazer, o galã egípcio que, de filho rebelde, passa a ter uma relação de pai com um adolescente israelense, o homem que espera eternamente a ligação da namorada toda as noites num orelhão público, a mulher solitária e generosa que junta os próprios cacos em pedaços de outros homens e a beleza de cada um dos personagens, que o diretor às vezes revela e às vezes cala, como se soubéssemos que algumas histórias e visões de vida vão para o túmulo com a alma de uma pessoa.
Além disso, o filme tem um jogo cênico baseado no corpo, na imobilidade do corpo, que se descolore junto com o monocolorido deserto israelense. Cenas históricas e geniais como o gala egípcio ensinando ao jovem o que fazer com uma garota triste. Cenas oníricas e curtas (como se de propósito) do general explicando o que sente ao reger (sem uma palavra). Há um pouco de cada elemento que vivemos em dois dias aparentemente inusitados, cheios de tristeza, mas com a inevitável renovação de esperança diária, esse sentimento tão falado e pouco entendido (exatamente porque não pertence à compreensão racional).
E para os que procuram um motivo hollywoodiano ao ver um filme, achará na, sem exagero, a mulher mais linda do cinema mundial atualmente, a quarentona Ronit Elkabetz.
Entre tantas definições do que é bom cinema e o que não é, o que deve ser visto e o que nao deve, prefiro ficar com o silencio e a sabedoria de uma obra gigante e simples como "A Visita da Banda".
Um comentário:
Bruno, meu amigo,
eu juro que pensei em escrever um texto sobre A Banda. Mas depois deste seu post, não tenho absolutamente mais nada a dizer. Parabéns, meu amigo.
Deixo aqui meu protesto apenas em relação ao circuito mundial que exibe raríssimas obras israelenses. A produção é boa e vasta, mas restringe-se ao circuito israelense mesmo ou aos festivais de cinema judaicos.
Postar um comentário