sábado, 26 de abril de 2008
Aspira Lugo
por Bruno Moreno
É batido, mas quando se sai do Brasil e se conhece um outro país da América Latina, fica clara a distância que existe entre ele e o resto. A língua é uma desculpa pouco criativa, já que não existe diálogo nem culturalmente falando (consumimos o inglês, mas não o espanhol). É triste, porque o Brasil está sozinho nisso, já que todos os outros países sabem o que passa com o outro. Desde a história até os pequenos costumes. Estão se tocando constantemente, mas não sabem nada do Brasil, exceto que é um gigante isolado. A imprensa tupiniquim, a escola e os meios intelectuais acham que América Latina não é pauta. Se acham, não agem como.
Econômica e politicamente, no entanto, há uma maior aproximação. O mercosul anda a passos lentos, mas anda. A última pelea entre Colômbia e Equador provou que tamo e junto e misturado na questão da manutenção da soberania e da irmandade. E, por mais desentendimentos que haja, a questão do gás obriga a uma conversa entre presidentes. Mas é pouco. E, quando há uma ação mais conciliadora, a IBR (Imprensa brasileira reacionária), evoca o imperialismo armado (da última vez que o Moralez tentou nacionalizar o gás e o governo brasileiro usou da diplomacia, a Miriam Leitão só faltou chamar o Lula de frouxo por não invandir a Bolívia e obrigá-los a comercializar ou botar a Petrobrás. Ou seja, no mais claro "pimenta nos olhos dos outros / chegou nossa vez de explorar outra nação").
E essa integração tem mais um desafio agora.
O Paraguai não é o Acre. Ele existe e não é café-com-leite no pique-esconde. Está vivendo uma fase importantíssima agora. Fase que todos os brasileiros deveriam acompanhar para diminuir um pouco mais esse isolamento, que é burro e pode jogar contra. Mas a IBR continua achando que as prévias dos democratas nos Eua é a coisa mais importante do mundo e a Isabella continua com a alma inquieta de tanta arbitrariedade.
Com novo presidente, o Paraguai tem a chance de sair do ocaso e ser parte integrante e efetiva da pauta política da Am.Latina. O novo presidente vem com muita carga, tanto para as dificuldades e quanto para as mudanças. Fernando Lugo vem com a "p" do aspira de diminuir a corrupção e a pobreza gigantes do país, de lidar com uma oposição que sugou mais de 20 anos da presidência, de fazer reformas políticas e jurídicas importantes, de resolver a pendenga do gás com Brasil (Lula diz que não quer nem saber. O Celso diz que vai ver) e Argentina (Cristina disse que está toda ouvidos), de conciliar sua vocação eclesiástica e etéreas com ações bem concretas e humanas, e devolver a confiança e orgulho à população que, em sua própria fala, "historicamente é feita de guerreiros". Lugo está sendo visto com grande expectativa pelos paraguaios. Uma espécie de Lula com fala mansa e óculos de alguns anos atrás.
Ele deu uma boa entrevista para o canal TN aqui da Argentina essa semana, no programa El Juego Limpio, apresentado por Nelson Castro (vídeo da entrevista). Vai abaixo algumas falas.
História e Futuro
Não estou afiliado a nenhum partido político. Minha vida política sempre foi atrelada à luta com grupos campesinos, indígenas e movimentos sociais. Minha família, no entanto, sempre teve uma história de luta social e política intensa no Paraguai. Fato é que, se dediquei mais de 30 anos a Deus, por que não posso me dedicar 5 anos ao meu país?
Vocação religiosa
Tem sido muito dificil para mim ter largado o sacerdócio. E não consigo deixar de esconder a tristeza com o Vaticano (nota: o Vaticano o suspendeu das atividades eclesiásticas. Mas ainda estava rolando a negociação. Até o momento desse texto, a Igreja não havia dado a decisão final). Fui chamado por alguns de o bispo rebelde. Mas respeito e entendo a decisão do Vaticano. É a Igreja que amo e seguirei suas ordens.
Tenho uma admiração imensa por João Paulo II. E sei que ele teria entendido minha decisão. Porque foi o principal porta-voz da harmonia entre as diferenças, do amor mesmo que se partilhe visões diferentes. Ele sabia e me ensinou que nenhuma igreja e religião têm o monopólio do Espírito Santo.
Governabilidade
Há que se conversar com todos os grupos políticos. Sei que vai ser um desafio. Mas sempre vou dialogar. Não fiz promessas demagógicas ao povo paraguaio. Sei das dificuldades e que as coisas se resolvem em anos. Mas prometi lutar por mudanças e pela cidadania de todos. E nos dói essa fama de país corrupto. Sei que a estrutura não é quimicamente pura, mas vamos governar com transparência.
Energia
É um tema central no nosso governo. Vamos lutar para que tenha um preço justo. Pelo preço de mercado.
Sobre o fato de Lula não negociar os preços: há que pensar na integração, na coalizão. Sei que depois de passar essa fase de adaptação vamos sentar e ter um diálogo racional, sereno. E com compreensão.
Reeleição
Não vou me candidatar novamente.
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Um comentário:
Não dá pra comparar a situação do gás da Bolívia com a questão de Itaipu. É comparar comparar coelhos com laranjas.
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