segunda-feira, 12 de maio de 2008

Hermetismo, palavra fácil.




O intelectual acaba com a própria intelectualidade.

O que vejo são autores que dimensionam a grandeza de nossas relacoes pelo ego de quem expoe , inventa ,pensa essas relacoes. O autores da nova literatura brasileira parecem ter esquecido que o ato de escrever não é o ofício de mostrar o domínio da palavra, não é encerrar a palavra em si mesma. O hermetismo de alguns livros serve para mostrar não o talento de ser fragmentado, cheio de referências e metafísico. Mas para provar a completa inabilidade de simplesmente contar uma história.

E é nisso que os intelectuais afundam. Em não perceber que o ato de contar uma história, por mais primário que seja, é uma arte difícil de ser exercida. Porque, para contar uma história, é preciso ver de várias formas, lugares e, o mais importante, saber comunicar o que se vê. Além de todo movimento, todo conceito por tras de qualquer coisa, o humano, nossas relacoes e pensamentos , nossa vida comum ou nosso heroísmo, nossa universalidade ínfima ou íntima, é sabida, vivida, modificada, através do que nos contam , do que vivemos e problematizamos nas histórias cotidianas. E essas histórias não podem ser intelingíveis por sua forma. O hermetismo não gera obras sem-tempo. Porque o hermetismo é a miopia da intelectualidade. E , miopes, não transcendemos.

Tudo isso é para elogiar ainda mais o filme “A família Savage”. A obra é mais um fruto do estilo indie americano, com muitas imagens no carro, muito céu e muito piano na trilha sonora. Tem um monte de coisas intelectuais, mas não é hermético, pelo contrário. É generoso ao mostrar a atuação genial de Philip Seymour Hoffman e Laura Linney (aliás, de todos os atores, justiça seja feita), ao ser simples e eficaz ao ser pouco profundo em reflexões e muito denso na ambiência e nas atitudes. Nas pequenas atitudes ordinárias, nos pequenos sentimentos cotidianos. Traz questoes sérias em forma de dilemas, mas muitas vezes é irônico, engraçado e despretensioso ao responde-los. Nos faz identificar, torcer. Conta uma história de maneira clara. E deixa para nós a decisao de deixar a alma turva com o que apreendemos dela.

Faz muitas referências ao pensamento de Bertolt Brecht, mas não impossibilita quem não o domina de entender o que está dizendo (entender tanto quanto quem é especialista no autor). É cheio de piadas inteligentes sobre nosso cotidiano, mas não é elitista, (o risinho do discreto charme da burguesia). Porque mostra que a arte é do humano, não do intelectual. Tem um ritmo europeu (isso é intelectual de minha parte), amplia o costumeiro e banal em importante, expõe os defeitos dos personagens, mas não os julga. Assim como não o faz com as qualidades. No fim, é a história de dois irmãos que aprendem a se comunicar ao se comunicarem com seus traumas, seu pai calado e moribundo e suas vidas atuais. No fim, é apenas uma ótima e emocionante história.

Que os novos intelectuais brasileiros (genios jovens, modernos e descolados) aprendam que compartilhar o mundo é mais difícil e exige mais talento que governá-lo como tiranos. Porque o tirano pensa só.

Um comentário:

Túlio disse...

concordo plenamente. já cansei de ver filme argentino e brasileiro que se perde na intelectualidade...,