sexta-feira, 2 de maio de 2008

Bonitinho, mas...


É muito complicada a relação entre mercado e alma. É a velha discussão entre a flexibilidade de caráter e venda dos ideais. Mas tem gente que , embora participe e ajude a roda a girar, tenta seguir os seus princípios. O ator George Clooney é uma dessas pessoas. Muito se fala dele como galã, mas pouco se fala como um pequeno vírus que de vez em quando deixa Hollywood um pouco doente.

E talvez seja por esse lado mais comercial que ainda tem bala na agulha para produzir obras muito boas, diria fundamentais, que vão contra a corrente do pensamento cinematográfico americano.

Geralmente não têm sucesso de bilheteria. Não sei por decepção do público, que vai ao cinema esperando algo de sua cara bonita e charme. Não sei se porque os projetos que faz são muito críticos ou difíceis para a mente serena dos expectadores reacionários. Fato é que, mesmo na adversidade financeira de suas producoes, segue na batida. Incomoda.

Abaixo alguns filmes do astro que merecem respeito e serem vistos.

Boa Noite, Boa Sorte: Quase um libelo anti-anti comunismo, uma crítica contundente ao Mcartismo dos anos 50. Usa um programa chamado See it Now , comandado pelo jornalista Edward Murrow. O filme é tenso, preto e branco, com uma luz esfumaçada, como se tivéssemos dentro dos tempos difíceis e nebulosos da época. No entanto, fala do passado alfinetando o presente político americano. Feito de diálogos profundos, sérios e da interpretação contida e magistral de David Russell Strathairn. Obra-prima.

Leatherheads: lançamento mais recente. Risco de George Clooney como diretor e produtor. Conta a história do início do futebol americano, quando ainda era feito de heróis mineiros, pobres e bêbados. Bem longe da indústria bilionária que é hoje. Resolveu fugir de uma provável formato épico e emotivo. Transformou o filme num interessantíssimo estudo estético, uma comédia muito bem desenhada, passada nos anos 20, com trilha sonora muito bem encaixada e linguagem leve e criativa.

Syriana: Atua e produz. Drama político que expõe sem vergonhas a indústria do petróleo americano e sua relação suja com alguns países produtores do Oriente Médio. É um filme para se ver três vezes para absorver integralmente o raciocínio dos personagens. Na linha da crítica aos detentores do poder americano (políticos, a CIA e empresários, principalmente). Matt Dammon mostra seu valor.

Confissões de uma Mente Perigosa: dirigido por ele também. Conta a história do homem que inspirou Silvio Santos e, por sua vez, quase todos os brasileiros, com seus programas populares apelativos e inescrupulosos: Chuck Barris. Clooney se virou muito bem ao mostrar uma personalidade complexa, de grande importância e histórias controversas. É um drama forte, experimental e de ótima qualidade.

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