quinta-feira, 8 de maio de 2008

SAMBA TORTO



Mesmo com a velocidade da internet e da circulação de informações, algumas coisas (principalmente as boas) demoram para chegar em nossos ouvidos. Um desses ótimos acontecimentos foi o lançamento do disco de Clara Moreno, Samba Torto , que saiu em Abril do ano passado. Só agora tive conhecimento de sua existência.

Uma pena, porque perdi um bom tempo para apreciar um dos melhores discos de mpb dos últimos anos. Clara já faz música há alguns anos, quando pequena cantou em obras de Egberto Gismonti e , olha que lindo, do Originais do Samba (com a ilustre presenca de Mussum), cresceu e lançou 5 discos , misturou bossa, mpb, música eletrônica e resolveu fazer um estilo mais acústico nesse.

Ela também segue um pouco do caminho de outros artistas, como Bebel Gilberto, de lancar discos fora (por isso até a dificuldade de achar aqui, pela dificuldade das gravadoras e empresários apoiarem e reconhecerem bos artistas). É filha de nada mais nada menos do que a "monstruosa" Joyce (Clara / Ana / E quem mais chegar). E, para essa obra, ganhou da mamae e de Celso Fonseca duas composicoes primorosas (a primeira com Quem Sabe e o segundo com Litoranea, onde fazem um dueto singelo e elegante).

O disco tem regravações de alguns clássicos como "Morena Boca de Ouro", de João Gilberto e "Bahia com H", gravada pelo mesmo chatinho. Além de "Vem Morena Vem", do Ben. Para quem diz que samba é coisa de pobre, preto e nao merece respeito, ela elitizou o canto numa belissima versao "samba-sincopada-voz-susurro" de "Mon Manege a Moi", conhecida na voz de Edith Piaf, tocada e arranjada por Joyce.

Além das belas composições e do virtuosismo dos instrumentos (um trio apenas a acompanha), a gravacao bruta (sem efeitos, interferências eletrônicas) do disco abre espaco para a voz de Clara, que traz a real interpretação das músicas, não gritos esgarniçados e um tom lugar-comum (como a da Céu). Sua voz é encantadora, de uma fragilidade pensada, meio falada, meio Lapa, meio cachaça. Em plena Bossa Nova. Na verdade é isso. Tirou um pouco da chatice da Bossa Nova. O disco tira o estilo do platô monossilábico e plácido dos deuses e a enche de pequenos defeitos da alma. É íntimo. É a música de elevador que faz o ascensorista sambar.

O nome não poderia ser melhor. O samba "torto" que endireita os pés de quem ouve.

Um comentário:

Ej Equipamentos disse...

Olá! Estava eu a passear pela net e acabei encontrando seu blog.
Por sinal muito interessante.

És brasileiro ou argentino?

Um forte abraço e uma ótima semana.

http://salvacaoplena.blogspot.com

Mário