quarta-feira, 7 de maio de 2008

Marcha, rebanho.


Preferia ficar calado sobre isso, mas as opiniões estão aí para serem dadas. O tema é a famigerada “Marcha da Maconha”. Não a marcha em si, que considero válida porque válidas são quaisquer manifestações pacíficas que suscitam diálogo, que mostram visões de mundo, que pregam mudancas sociais ou que só juntam gente (porque juntar gente também está bem). Antes de qualquer coisa, sou a favor dela.

O que, na minha humilde e subterrânea opinião é que temos tomar cuidado é exatamente com essa armadilha das certezas e da opinião como ego (ou seja, defendida com unhas, dentes e violência, criada para não ser posta à prova nem derrubada). Isso, infelizmente, é o que anda passando pelas vozes que discutem o ato e o conceito da manifestação. Principalmente de quem o defende.

Não aprofundo nada aqui, mas me espanta e me decepciona a ausência quase total das falas dos moradores da favela, principais sofredores da violência na cidade (não vítimas ) que, em tese, é um dos temas principais nessa questão.

Me espanta também que os jovens , lideranças jovens (ainda pouco claras), cabecinhas jovens tenham como prioridade esse tema. Ao meu ver, poderíamos juntar nossas mentes brilhantes e peitos opinativos para organizar atos tão ou mais importantes, como a Marcha da Saúde, a Marcha da Educação (escolar, popular, ambiental, democrática), a Marcha da Vigilância Política, a Marcha da Reciclagem, a Marcha do Transporte, a Marcha da Acessibilidade às Pessoas Portadoras de Deficiência e alguns outros assuntos que nos causam mais tensão que relaxamento.
Me causa estranheza também que algumas vozes se tornem tão importantes e afirmem tanto, quando não vejo bagagem nem vivência para ditarem palavras de ordem em vez de uma vontade de diálogo, como a de Tico Santa Cruz. Reconheço sua dor por perder um ente querido, sua indignação com o país etc, mas não pode se tornar um especialista em violência , drogas e descaso político. Não pode se tornar unifonte de reflexão sobre o que passa com esses asuntos, até porque creio que está bem longe de onde realmente acontece e sofre o que critica. Embora concorde com muitas coisas que fala, sei que seu espanto escrito apenas toca algumas faces da superfície dos problemas.
Me decepciona o uso que algunas pessoas fazem da Marcha. Em Buenos Aires, pelo menos, foi uma espécie de quintal hippie sem apelo, sem aprofundamento, discussão, com gente doidona que , em vez de se manifestar, apenas fumaram. Eu nao vejo argumentos claros e pensados, assim como nao vejo jovens e adultos organizando de forma clara os pontos a serem tratados. É um contra-senso porque esse tema raspa em outros diversos, que se conectam na vivencia social como violencia, forças policiais, desigualdade social, estrutura hospitalar, propaganda, indústria farmacêutica, do tabaco, da bebida, educação, planejamento familiar e por aí vai. Quem quer vociferar o uso permitido da maconha, precisa entender o que o seu pulmão respira um ar respirado por outros pulmões.

Em suma, sem querer babar a brenfa, a marcha só será real e eficaz quando já tivermos os pés mais gastos com o debate e as acoes. Caso contrário, dará apenas sono e uma fome estranha.

Um comentário:

Túlio disse...

assino embaixo!