segunda-feira, 23 de junho de 2008

Argentina campeón, Videla al paredón! (Montoneros)


por Bruno Moreno

Quarta-feira, 25/6/8, completará 30 anos que a Argentina ganhou o título da Copa do Mundo de 1978, disputada no próprio país (o primeiro de dois). A final foi disputada contra a Holanda, no Monumental de Nuñez. Os locais ganharam de 3 a 1 da laranja meio bagaco mecanica . Os gols foram feitos por Marios Kempes (2) e Daniel Bertoni. Mas que chato e previsível, nao?


De jeito nenhum. Foi uma Copa cheia de pendengas. Algumas sérias, outras folcróricas. Vivida e transcorrida em um contexto político difícil. Cheia de histórias mal contadas. E faz aniversário redondo quando o país se ergue e tenta se curar de patologias exacerbadas principalmente neste período. Essa semana o Congresso estará exercendo a democracia. O povo argentino poderia acompanhar o desenrolar dos próprios passos. Passos impedidos por muito tempo por botas militares.

Algumas pantuscadas do Mundial de 78:
  • A Copa estava se passando no ápice de uma ditadura violenta, sangrenta e macabra. Dois anos antes, os militares tinham derrubado a Isabel Perón. O chefe da Junta Militar na época era o General Rafael Videla. A inflação crescia no país, as torturas explodiam, os desaparecidos sumiam aos baldes e a Copa passou a ser estratégica na manutenção da ditadura.


  • Também era o momento crítico de uma discussao filosófica que vinha desde os anos 60 no país: como a Argentina deve jogar? Usando a "La nuestra", da rapidez de toques, dos dribles (chamados de "fantasia"), da beleza do esporte pela beleza ou a que há algum tempo estava sendo usada que era o futebol influenciado pelos ingleses, do corpo, da teórica hombridade, da violência, da defesa (optada porque os gambeteios ainda nao haviam trazido resultado). O técnico era Cesar Menotti, que era defensor férreo do primeiro estilo, que disse que os treinadores anteriores tinham matado o futebol argentino e que ia voltar com a "la nuestra". Foi um paradoxo a sua permanencia porque Menotti era um crítico assumido da ditadura, filiado ao partido comunista e com tendencias à liberdade de expressao (só olhar os cabelões dos jogadores). A Junta se calou, precisava ganhar a Copa para manter o povo feliz. Interessante notar também, em mais uma contradição, como a imprensa na época (totalmente controlada pelos militares), vendiam o pensamento de um "jeito de jogar argentino", apelando ao orgulho de ser argentino. Ou seja, a "la nuestra" como uma forma de criar o simbolismo de união nacional, identidade nacional. Por isso, Menotti foi muitas vezes retratado como um herói, como um novo San Martin ou Belgrano, uma espécie de libertador futebolístico do domínio europeu. Nesse caso, do estilo europeu de ver o esporte, com o resgate da verdadeira alma "criolla". O que é muito debatido ainda, já que muitos dizem que de bonito a Argentina apresentou pouco, jogando muitas partidas na base da força e da raça.

  • Maradona nao foi chamado. Era um jovem que ia fazer 17 anos, que estava arrebentando no campeonato local, mas que era considerado inexperiente para um torneiro de tamanha importância, pelo mesmo Menotti.

  • A Argentina é eternamente acusada de roubo com o jogo contra o Peru, em que precisava vencer por 4 a 0 para conseguir passar para a próxima fase. Após ter empatado em um vergonhoso e medroso 0 a 0 com o Brasil, meteram 6 na seleção peruana. Reza a lenda que houve um acerto entre ditaduras para que os argentinos ganhassem (50 milhões de dólares e toneladas de grãos) e fossem pra final. O Brasil, principal afetado por isso, foi o país que mais reclamou. Não se sabe de nada até hoje. Villa, no final de sua carreira jogou junto com o gênio peruano Teófilo Cubillas, quem jurou que não teve acerto nenhum naquele jogo. Menotti diz que o Peru tinha chegado destruído fisicamente à partida, com jogadores fundamentais que não conseguiam nem andar. Além disso, relembrou que a Argentina, meses antes, tinha dado de 3 lá em Lima.
  • Dizem que alguns jogadores argentinos foram dopados. Na verdade, nunca houve comprovação disso, mas alguns fatos levantam suspeitas. Um deles é que, segundo o historiador David Downing, há relatos de que Kempes e Tarantini continuaram correndo no vestiário de um lado para o outro após a partida contra o Peru por uma hora. E o mais engraçado: o exame de doping realizado era tão, mas tão confiável, que uma mostra de sangue de um jogador argentino demonstrou por A mais B que ele estava, indubitavelmente, "grávido".
  • Se os militares acharam que iam esconder as atrocidades cometidas, o tiro saiu direto no Rio da Plata. Foi durante a Copa que a imprensa internacional ficou sabendo com mais detalhes do que estava acontecendo. Foi durante a Copa, por exemplo, que o mundo ficou sabedo da existência das Madres de Plaza de Mayo e o drama de seus filhos desaparecidos.
  • Segundo o mesmo historiador, o governo ditatorial gastou uma fortuna ao contratar uma empresa de relações públicas para criar o slogan e projetar a imagem da ditadura junto ao povo, ou seja, para aproveitar marketeiramente a ocasião. A empresa se chamava Burson & Masteller e foi responsável, além do slogan do evento "25 milliones jugaremos el Mundial" (bem parecido com o hino "90 milhões em ação" brasileiro), pela desapropriação das villas de emergencia (as villas, ou favelas) e expulsão de seus moradores de zonas onde iam acontecer a competição, assim como a tentativa de esconder os bairros pobres na estrada para Rosário com a criação de um muro, no melhor estilo apartheid, que rodeava as casas humildes.
  • Alguns países, como a Holanda, não queriam jogar a Copa como protesto à violação dos Direitos Humanos no país. Ao receberem a medalha de prata, os holandeses, de fato, se recusaram a cumprimentar os representantes do governo ditatorial. Por outro lado, o capitão da Alemanha, Bert Volts, emuldorou a seguinte pérola: "A Argentina é um país onde reina a ordem. Eu não vi nenhum preso político." Onde ele procurou? No Cafe Tortoni?
  • O Papa Paulo VI abençoou a Copa e o governo ditatorial sanguinário e assassino da Junta Militar de Videla.
  • A final com a Holanda foi uma vingança da Copa anterior, quando a Argentina tomou uma piaba de 4 do Carrosel.
  • Quarta agora o Canal Encuentro vai passar um documentário sobre o Mundial e suas polêmicas. Mundial 78: verdad o mentira?
  • Menotti e alguns jogadores são lembrados como coniventes com a ditadura. É uma discussão. Fato é que o Mundial não teve o impacto esperado na alienação total e irrestrita do argentino. A Guerra das Malvinas teria um papel até mais importante, nesse sentido, anos depois. Mas os jogadores foram responsáveis também pela propaganda da ditadura? A classe média também não comprou essa felicidade? Nós não compramos essa felicidade ao achar que ver e admirar futebol , por seu caráter lúdico e mítico, significa desprender os pés do que é real?
Futbol y Dictadura
Menotti herói
Canal Encuentro

2 comentários:

Anônimo disse...

Recentemente, li que Menotti disse que a Ditadura o Usou, existem muitas coisas que aconteceram ali que foram totalmente obscuras, essa COPA foi algo tão bem montado, que até para a divisão da fase final, nas Antigas Semi-Finais, cairam em uma chave, Alemanha Ocidental, Holanda, Italia e Austria e na Outra Chave Brasil , Argentina, Peru e Polonia...então tudo tava muito dirigido....
tem mais um detalhe, O time da Polonia era também todo formado por militares e os mesmos deram uma mãozinha para os Argeninos, não jogaram o que sabiam e assim foram presa Facil para eles...

Bruno Moreno disse...

O Menotti, em outra declaracao, disse que nao podia ser culpado, que nao foi ele quem torturou as pessoas e a copa foi um momento de respiro para a realidade cruel....o problema é q ele era comunistaum e aceitou os louros da vitória....mas pq vamos criticar se todos aceitamos a copa de 70, completamente imersa num cenário ditatorial?