Cristina é populista. Mas tudo na Argentina nao é o que parece, assim como no Brasil o que se torna, causa a consequencia inversa (reforco policial aumenta a violencia, um maracana lotado faz o local perder, prender políticos corruptos moderniza as táticas de corrupcao). Entao, deve-se dizer que Cristina e Nestor sao populistas. Mais, que o povo argentino precisa de um "populismo controlado e médio". Ou seja, fazem acoes demagógicas populistas, embora sacrifiquem um pouco da máquina estatal por um bom funciomanento social. Ao mesmo tempo que ela promete, numa atitude ridícula, usar o dinheiro das retencoes para construir mais hospitais ( sem estudo, sem ver a real necessidade de quem realmente necessita, sem pensar em investir nos que já existem, num atitude sanguínea e desesperada pra jogar o campo contra a cidade), ela nao abre mao de que o estado tenha braco forte , dê subsídios e impeca o encarecimento do transporte público, por exemplo (com o que concordo plenamente. Aqui o metro tá 90 xilins, o onibus 1 dinheiro e o trem 7o centavos de patacas. Um trabalhador da classe menos favorecida, que geralmente se desloca mais, nao gasta, como no Rio de Janeiro, mil reais pra ir na esquina).
Sao quase peronistas, mas transformam a ditadura em hermetismo institucionalizado. Cristina nao dá conferencias de imprensa porque seu discurso é unilateral. Ela fala pra bilhar e sem contestacoes. Sao quase peronistas, mas nao batem nos sindicatos, se únem a eles. Mas aí, quando o país parece ter readquirido forca e estar, até pouco tempo, de forma tao estável e rumo a Tóquio, a crise do campo vem.
Crises sao boas, minha gente. É com a crise de talento que o Dunga vai embora. É com a crise que nosso corpo expulsa a febre. É com a crise conjugal que mudamos pra melhor nossa relacao com o ser amado. Isso tudo, claro, se nos cuidarmos, se nos abrirmos aos fatos, se dialogarmos, se aceitarmos os erros, se pensarmos com paz. Caso contrário, o Dunga fica pra sempre e inventará um meio-campo feito de zagueiros, a febre se transforma em pneumonia e o casal se mata com tiros de prata. Por isso que a chamada crise do campo veio num momento bom para que o governo e o próprio argentino nao entrassem na roda viva de que foi vítima com os anos. Em países emergentes, os governos fazem tudo para o povo ficar quieto, os ricos mais ricos, os militares mais gordos e os americanos mais americanos. Quando tudo está assim, é que se deve despertar.
Uma das ótimas questoes que essa crise toda vem plantar atrás da orelha alheia é algo que deve ser pensado por todos os países latinoamericanos e que tem a ver com essa forma populista (palavra legal) de governar: a indústria é a riqueza de um país?
A pantuscada comecou quando Cristina aumentou as retencoes e disse que usará esse dinheiro, entre outras coisas, para investir na indústria. Ou seja, dar dinheiro para o povo pobre usar as maos como ferramentas e ter trabalho. Acontece que as pessoas fixaram a atencao no pouco dinheiro que ficaria para a galera do campo (super válido), mas esqueceu de questionar algo muito claro, que é o anacronismo dessa justificativa.
O mundo ainda é baseado na producao? A riqueza de um país e seu desenvolvimento ainda está baseado na indústria? Porque entao os Eua tem um grau de industrializacao de 19% e a Argentina de 25%? Por ser mais industrializada, a Argentina é mais rica que os Eua? E por que os homens mais ricos do mundo, os maiores investimentos feitos, estao na área da comunicacao e informacao?
O populismo de Cristina e de muitos governantes latinoamericanos está agora, além da demagogia, no anacronismo. Pintam um quadro da década de 50, baseando o crescimento de um país no suor manchado de óleo dos trabalhadores somente. Esquecem a virtualizacao das relacoes e do mundo. Falam em um idioma que nao existe mais. E, como em todas as relacoes comerciais através dos anos, vao ficando pra trás, na corrente inversa. Quando deveriam investir na indústria , importam e vendem matéria-prima. Quando deveriam investir na pesquisa tecnológica e de informacao (a verdadeira riqueza hoje produzida), congelam a máquina do estado para a indústria (e sem modernizá-la). E, quando tehm um mercado propício para impor a importancia dos produtos agrícolas, usam a crise da pior forma e se arriscam a perder a oportunidade ideal pra barganhar com os europeus famintos e com petróleo caro.
A classe média que bate panelas e a classe pobre "que nao existe" (ver post anterior) devem ver a crise como um momento de reflexao, nao de guerra e desespero. Devem parar de usar as acoes populistas quando bem lhe convém e perceber que esse peronismo incrustado em cada pele argentina como uma tatuagem interna e inconsciente, se tornou um cadáver dentro de um corpo que se move com dificuldades.
Caso contrário, o Dunga fica , a febre aumenta e nao haverá mais companhia para dormir de conchinha.
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Amo o Dunga. De paixao. Como jogador, como campeao, como ídolo. É por isso que acredito que ele deva se preservar um pouco. Carlinhos Violino para técnico da selecao!!
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