sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Miriam para presidente do Suriname!


Me deixa muito triste essa "bronca" competitiva entre países. Mostra cada vez mais o limite humano de seres que pensam que conhecimento e razao significam sabedoria.

Miriam Leitao é uma jornalista brihante, com posicoes que nao concordo na maioria das vezes (quase todas, aliás, em todas as vezes) , mas que tem acesso e é incansável na busca de informacoes (embora a qualidade dessas informacoes seja questionável também na maioria das vezes). Mas parece que precisa ter muita luz ainda como ser humano, pelo menos na arte de enxergar o outro.

Esse artigo é um crime, um atentado mimado contra nossos irmaos latinoamericanos. Nao temos que comemorar que estamos melhores que ninguém. Em uma rápida olhada na história, vemos que essas fases de crescimento sao isso, fases (porque geralmente nao vehm atreladas a uma estrutura a longo prazo, de seriedade educacional e de um rompimento real com as estruturas arcaicas de poder).

Festejar que estamos melhores , além disso, é uma miopia social. A Argentina, por exemplo, passa por um momento difícil, mas carregado de debate , de exposicoes de verdades que permitem uma pessoa ver com mais profundidade os andaimes fantasmas que ainda persistem dentro da construcao. É um país que , bem ou mal, nao pára. A Bolívia está dividida, mas se mexeu no queijo de uma elite social preconceituosa e que , declaradamente, quer manter o higienismo interessado dos poderosos. Ver a Venezuela, com todas as suas questoes, é ver como um país está freando a sanha americana de dominar o petróleo. Bem ou mal é resistencia, nao a estática, mas a resistencia que quer apontar nossa cabeca para algumas verdades que veículos como O Globo, historicamente, fizeram questao de esconder.

Em vez de abrir o champanhe pra dizer que estamos melhores, a jornalista, com todo o respeito, deveria brindar a hora de enxergamos nossos vizinhos, aprender com suas experiencias, estender as maos economicamente e pensar que o Brasil nao é nada sozinho. Que ser auto suficiente em coisas, nao é suficiente pra alma.

POST DELA

domingo, 17 de agosto de 2008

Quem fala, discorda.


Se arma na Argentina uma proliferação interessada de contestações ao modelo Kirchnerista. E é claro que, como se trata de um governo nacional da importância de um país como a Argentina, as bocas contestadoras são muitas, de muitos níveis e origens, assim como as bocas e mentes que o defendem.

O que mais me chamou a atenção nos últimos meses foi um setor da sociedade, um ator social (termo na moda) que foi (tempo passado, o corpo cansa e a resignação mora) vítima de meus ataques de ira impotentes no Brasil: a intelectualidade.

Ser intelectual, no Brasil, é sentar no Bar Jobi , no Leblon, sempre o Leblon, e cantar louvores a atos passados e a incapacidade de adaptação a pseudo-atos presentes e a não-atos futuros. Ou usar tênis vermelho, ver e comentar filmes iranianos, saber de pobreza num disco de Candeia num loft-soft-apê-modern-decor numa zona privilegiada. Ou fazer turismo com o dinheiro do Cnpq.

Aqui, pelo menos, a inteligentsia se organizou e lançou o movimento Cartas Abiertas. Trata-se de reuniões bimensais e elaboração de propostas em várias áreas feitas por educadores, médicos, artistas, comunicadores, filósofos e vamos botar água no feijão. Tudo isso surgiu com a questão do campo, do tremelique das bases sociais, da exposição dos defeitos democráticos argentinos e da real necessidade de se pensar em conjunto o quebra-cabeça.

Acontece que nem tudo é maravilha nesta história. Boa demais a iniciativa desses intelectuais, louvável a idéia do debate de opiniões, melhor ainda a redação de cartas com propostas para o governo, mas há que se ter cuidado e extrema transparência ao dar papel a esses atores.

Beatriz Sarlo, uma comunicóloga genial, voz quase sempre consciente desse mundo pós-moderno, foi uma que "denunciou" (e por isso tacaram 20 pedras em seu cabelo meio laqueado) algo que se deve vigiar: esses intelectuais, em sua maioria, são kirchneristas. E entraram na onda golpista que a Cristina quis vender. Conhecidos, respeitados, validados, mas com tendências políticas claras e história caminhada no reconhecimento dos Kirchner. Prova disso é que essas Cartas, embora leitura obrigatória para se entender bem alguns movimentos da América Latina atual, são documentos que apoiam bastante ao governo do casal.

Há pontos de concordância e discordância com relação a essas cartas. Isso é natural e necessário. O perigo (olho no lanceee!) é que o exercício democrático do debate leve para uma defesa egóica e totalitarista da opinião. "Querer estar certo" foi o país onde Napoleão perdeu a guerra. Nestas cartas, há trechos altamente pró-K (e sem a isenção crítica mínima) e há trechos minunciosos e críticos que traçam um perfil ainda pouco explorado e perigosos da nova direita latinoamericana.

Há que agradecer as mãos ao céu e bater no peito: a intelectualidade levantou a bunda do café e está fazendo algo de concreto pelo país.

Enfim, essa proliferação interessada de contestações não pode ser vista como algo ruim, como sempre se quer ver o que se contesta. Parece que a economia neo-liberal e essas palavras em latim da bíblia da economia de especulações, reativou uma idéia progressista e moderna de mundo. Se não houver ordem, a bolsa cai. É a volta dos professores que dão fórmulas para "fazer uma boa poesia" (clássica cena de Sociedade dos Poetas Mortos). É a volta dos médicos pré-psicanalistas que vêem a revolta e o olhar alternativo como a presença do diabo. É uma ameaça quase que divina de reis absolutistas e de um clero que não quer alfabetizar seus crentes na própria religião (como já vimos na história do mundo).

Enfim, passada essa análise de um quarto de tijela, o que quero dizer é que a Argentina está quebrando o pau no debate. E, como diria minha avó, brigar é saudável pra criança. Mas atenção para o empresariado histórico e reacionário nacional (e por que não dizer latinoamericano ?) que, ao ver um governo abalado e uma inflação crescendo, adora plantear o apocalipse e para uma mídia que, em grande parte, pertence a esse empresariado. Atenção com a suposta vitória do campo e suas diversas facetas, como o campo bilionário agro-exportador e o charcarero ferrado que não está vendo a coisa melhorar. Atenção para o racha em um setor fundamental pra governabilidade argentina (ainda mais essa com o vulto do Peron babando cada movimento) que é o dos sindicatos (que estão revivendo uma briga muito parecida com a que surgiu na década de 20 , na época do radicalismo , aqui e que criou diversas forças sindicais contrárias. É basicamente a disputa entre quem quer ficar perto do governo para receber vantagens e andar com a roda e quem quer ficar isento e ter liberdade para questioná-lo quando quiser). Atenção para o hermetismo dos K que, mesmo com consultorias de imagens que deram a idéia pra Susana Vieira dar mais entrevistas, se fecham em seu quarto de forma bem pouco democrática e transparente (são viciados em sexo, só pode ser).

Vai abrindo aí que tem caldo....

Análise irônica da Carta Abierta 1.


Carta 1

Carta 2

Carta 3


Pré-carta 4

Entrevista Beatriz Sarlo

Um país rebelde e em estado de assembéia

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Sem foto e com vergonha

Post com um quê inútil de indignacao. É sobre os gastos publicados dos candidatos a prefeito do Rio de Janeiro. Sei que é impossível pensar em campanhas sem esses gastos estratosféricos, mas defendo um limite (bem mais abaixo) para tal "infame necessidade democrática".

Falo isso porque, comparando a soma dessa grana com algumas áreas básicas de nosso cotidiano, o aburdo é mais claro.

No total, os candidatos gastarao (nota, esse é o previsto. É o previsto que sempre passa. E isso contando o primeiro turno) cerca de 51 milhoes de reais.

Tomando como base o orcamento da saúde do Estado de 2006-2007 (porque o Sérgio Cabral vetou uma lei que permite o acompanhamento do orcamento do Rio pela Internet), vemos que
é mais do que gasta, NO ANO, o movimentado e necessário Hospital do Andaraí, na Zona Norte carioca, só para dar um exemplo. E da última vez que estive lá, havia uma fila de cerca de 100 pessoas (maioria idosas de comunidade de baixa renda) porque nao havia enfermeiro à disposicao para fazer um exame em uma máquina que precisava ser consertada de tomografia. Ou seja, nao tinha ninguém pra te levar à nada.

Deixo aqui a indignacao inútil também desse referido veto do Sérgio Cabral à prestacao de contas on-line do Governo. Falar que é um roubo, uma imoralidade e um absurdo, soa infantil. É muito mais que isso. É uma enganacao entubada nesse termo vago e esfumacado que é a "democracia". Vai um link abaixo:


Cabral rejeita publicar contas na internet
da Folha de S.Paulo, no Rio
O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), vetou projeto de lei aprovado de três deputados estaduais da oposição que propunha colocar as contas do Estado na internet.
A decisão, publicada ontem no “Diário Oficial”, contraria promessa de campanha de Cabral, que havia assumido em agosto com a Firjan (federação das indústrias do Estado) o compromisso de abrir o Sistema Integrado de Administração Financeira para Estados e Municí­pios (Siafem) ao público.
Hoje apenas os integrantes do governo e os parlamentares têm acesso ao sistema, que permite o acompanhamento dos gastos públicos





terça-feira, 12 de agosto de 2008

Por un corazón...

A tragédia é algo realmente que tem a ver com a alma argentina. Como escolha de modo de ver o mundo, como manifestação artística e até como reconhecimento de suas mentes mais brilhantes. Neste último caso, um fato curioso e triste que comprova essa tragédia é o Prêmio Nobel.

O país tem 5 premiados em sua história: os médicos e fisólogos Bernardo A. Houssay e César Milstein; o químico Luis Fedérico Leloir , o ex-ministro Carlos Saavedra Lamas e o arquiteto Adolfo Pérez Esquivel.

Mas talvez nenhum desses teve uma influencia tão grande quanto o Saavedra. Ele ganhou o Nobel da Paz após intermediar o sangrento conflito entre Paraguai e Bolívia, impulsionado por grandes empresas petrolíferas como Shell e Esso, e que ficou conhecida como a Guerra do Chaco (1932-1935). Além disso, Saavedra foi chanceler da ditadura imoral e assassina de Juan B. Justo e Ministro de Victorino de La Plaza, que ficou após a morte de Saenz Peña (seu sogro).

Mas qual é a tragédia? A tragédia não está só no não-reconhecimento de gente supra-humana, como Borges, mas pela escolha de um representante argentino corrupto em detrimento de um considerado como o nobelista moral daqui, René Favaloro.

René Favaloro foi um cirurgião que simplesmente criou a “ponte de safena”, salvando um trilhão de pessoas na história. Além disso, criou um mega hospital filantrópico que realizava essas e outras cirurgias em Buenos Aires. Se essas ações não merecem o Nobel, me digam o que pode merecer.

Por outro lado, Saavedra ganhou. E nada menos adequado, para colocar um eufemismo. Acontece que, primeiro, a autoria dos ditames da mediação que lhe condecoraram como o “autor da paz” do Chaco é de um embaixador americano chamado Cordell Hull, que deu, presenteou toda a tese ao argentino porque se fosse ele a apresentar a idéia, por ser americano (e rondar uma richa Inglaterra-Eua pelo mercado platense) simplesmente não teria a unanimidade necessária para o cessar-fogo (que, agora sim, premiaria os bolsos americanos).

Fora isso, que é o menor dos casos, Saavedra, quando tinha um proeminente posto na já referida infame ditadura de Justo, em 35, recebeu cerca de 100 mil pesos (hoje, seria o equivalente a quase 2 milhões de dólares) para pressionar e influenciar o Congresso a deixar passar uma lei que garantia os serviços de luz da cidade de Buenos Aires nas mãos de uma empresa espanhola por mais de 60 anos. Essa lei não só fazia isso, como tirava as obrigações de investimento em infra-estrutura por parte da empresa, tirava as obrigações de algumas leis trabalhistas, perdoava uma dívida de mais 60 milhões de pesos ao Estado por cobrança indevida e perpetuava essa relação cruel dos detentores de riqueza estrangeiros e nacionais com a miséria da população. Foi esse ser humano que recebeu o Nobel da Paz.

E sabe o que aconteceu com Favaloro? Se suicidou em 2000 por conta da crise financeira pela qual passava sua fundação. Os 2 milhões de dólares de Saavedra poderiam poupar sua vida.

Toca o tango e chora a milonga de nossos dias..

sábado, 9 de agosto de 2008

Sua ação é válida, meu caro índio.


Artigo do Clarin sobre o referendo na Bolívia. Gostei muito e traduzi porcamente, mas de coração. Mais um dado para a teoria conspiratória da invasão alienígena yanqui na América do Sul, o NEW NEW NEW DEAL FUCK YOU CABECITAS NEGRAS.

por Oscar Raul Cardoso

N
ão há melhor maneira de lidar com uma crise que entender, de modo cabal , o que a ocasiona. Esse é o caso da que está se acontecendo na Bolívia e que atingirá outro marco amanhã, quando a população decidirá se deseja revogar o mandato do presidente Evo Morales e de oito dos nove prefeitos (governadores) dos estados do país.

Se olharmos somente para as ordens ensurdecedoras e fechadas do oficialismo e a oposição, além das repetitivas notícias jornalísticas , seríamos levados a acreditar que se trata de uma disputa pela riqueza básica (petróleo, gás natural, pontencial agropecuário) do país, cuja maior parte é acumulada em quatro de seus estados (Santa Cruz, Beni, Pando e Tarija), ou pelos conteúdos da reforma constitucional ou então por uma luta que busca opor uma dose de federalismo a um sistema nacional ferreamente centralizado, ou ainda a busca de uma definição final do “eterno combate” entra a esquerda e a direita.

O problemas destes enunciados é que tentam definir a totalidade de um problema que é muito mais complexo e que tem muito mais fatores. Por exemplo, o conteúdo racista que apresenta: sabe-se que um importante setor da sociedade boliviana (não só numericamente, mas pelos meios que historicamente vem monopolizando) não pode fazer as pazes com o triunfo indígena – Morales – nas eleições presidenciais de dezembro de 2005 e com a primeira maioria absoluta da história institucional do país.

Existe também uma dimensão maior neste problema, que atravessa as fronteiras do país e que a coloca sob uma perspectiva que pode ser rastreada no resto da região latinoamericana. Trata-se do árduo processo de reformular o contrato social de suas democracias, permitindo a inclusão de setores esquecidos pela modernização das últimas décadas, através da redistribuição de ingressos.

Uma redistribuição que, por mais que a imaginemos tranquila, obriga aos que ganharam bastante dinheiro em um passado recente, a se conformarem com um pouco menos daqui pra frente. Ninguém parece querer abordar esta face do problema de modo franco, nem na Bolívia nem em outros lugares. Quatro meses de conflito entre o Governo Nacional e o campo, na Argentina, tiveram este denominador comum. O mesmo pode ser visto, assim que os nervos se acalmarem , no debate dosmético venezuelano pelo governo de Hugo Chávez ou na raiz da resistência da oposição ao projeto de reforma constitucional de Rafael Correa, no Equador.

O desafio a Morales está justificado, segundo seus críticos mais implacáveis, na necessidade de evitar a construção “de um modelo socialista”, que debilita a vigência da lei, ameaça a propriedade e torna impossível a chegada do investimento internacional. Mas desafia também a um governo que inseriu a mais de dois milhões de crianças e idosos nos planos de assistência social em um país onde a pobreza ainda faz parte do cotidiano de 60 por cento de seus habitantes.

Morales também vem realizando uma reestruturação dos contratos com as empresas petrolíferas internacionais que operam no país, o que permitiu ao Estado participar com uma cota maior nos lucros e que tem mantido o orçamento nacional longe do vermelho durante os últmos dois anos, algo que há pouco tempo poderia parecer um conto-de-fadas na Bolívia.


A disputa pela distribuição da riqueza sempre precisa, para ser resolvida, de uma definição prévia: saber quem manda. E como este interrogante básico ainda não foi revelado na Bolívia, não será este referendo revogatório que dará a resposta necessária. Não parece haver um trunfo na manga – de qualquer dos dois lados que estão competindo – tão claro que não deixe margem para a continuidade do conflito.

As pesquisas sobre o que as urnas dirão amanhã, antecipam que Morales, muito possivelmente, obtenha os votos necessários para manter seu governo (assim como a seus prefeitos). Por causa dos muitas vezes inexplicáveis labirintos legais do país, o presidente precisa de 46, 3 por cento dos votos (a mesma porcentagem que votou contra ele em 2005) enquanto que os prefeitos vão precisar de 50 por centro para conseguir a continuidade. Mas nada parece prever uma vitória como a registrada em 2005.

Vários dos prefeitos ameaçados por um resultado eleitoral negativo, disseram que simplesmente vão ignorá-lo caso aconteça , fazendo ameaças nem um pouco veladas. Manfredo Reyes Villa, um ex-militar que atualmente governa Cochabamba , é um desses prefeitos e prometeu a Morales: “se quiserem guerra, terão guerra”.

Há algo particular na história da Bolívia. Desde 1825, ano de sua independência, a violência recorreu seu território em muitas oportunidades, colocando-a cada vez mais à beira do precipício histórico. Apesar disso, sempre se evitou esse salto ao vazio – por exemplo, uma guerra civil – alguns se perguntam se a inércia da crise fará que, desta vez, seja impossível deter-se na beirada.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Puberdade


Nao sei se isso é informacao que ajuda em algo, tampouco sei se posso chamá-la de informacao. Fato é que, em conversas internas aqui com pessoas que trabalham com televisao esportiva, fui informado de um lado do Lionel Messi, la pulga, o craque, o prodígio e amor argentino, que eu nem desconfiava: que ele é um cara com alguns problemas.

Nada sério, nenhum trauma ou comportamento psicopata. Mas o relato é que, após uma entrevista em Barcelona com o garoto, ele vira para os jornalistas e pergunta em um tom tímido e voz baixa:

- Voces vao fazer algo hoje? Vao sair?

E os jornalistas, meio estupefatos e com vergonha, dizem:

- Sim, a gente tava pensando em beber uma cerveja.

E aí Messi, mais timidamente:

- Posso ir com vocês?

- Claro. A gente só vai ali agradecer o seu pai pela entrevista e falar com ele...

- Nao, por favor, nao fale nada pra ele que eu vou sair, por favor...

Pessoal falou que ele parecia meio preso e meio sufocado. Lembrando, ele é ainda é um adolescente, que quer fazer suas besteiras, mas é um investimento e os pais o protegem de tudo.

Outro conhecido do pessoal disse que ele tem sérias dificuldades para "chegar" em uma mulher. Ele fala, "pô, gostei daquela menina, mas ela nao vai me dar bola..." e fica na dele. Ao mesmo tempo que é legal (porque é o contrário do que faria a esperteza-malandragem do Renato Gaúcho, por exemplo), é meio estranho.

Ora, meu filho. Voce é o Messi. Use de sua condicao de ser a voce mesmo!!

Mas, apesar de tudo isso, os relatos sao quase unanimes ao afirmarem que se trata de uma figura simples, simpática e boa índole. E parece ser verdade mesmo. Outro dia ele chegou aqui e falou com cinco bilhoes de jornalistas, sozinho, sem seguranca, sem assessor, sem óculos escuros, correntes de outro, sem Ipod, sem nada. E, depois, simplesmente desenrolou para entrar num táxi e ir pra casa.

Falta só que rompa a pelota nessas Olimpíadas e substitua o imaginário "ídolos viciados" que vem se perpetuando na mente hermana.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Festa de obeso no Mac Donald's


A Argentina chora por mais um ídolo viciado. Pelo menos choram os gallinas. Dessa vez é o Burrito Ortega, meia de rara habilidade, que se entregou ao álcool e preocupa o pessoal. Simeone, técnico do River, equipe da qual Ortega é ídolo e pela qual estava jogando, não aguentou os vacilos do craque e o mandou passear. Disse, em coletiva hoje, que é o mais triste nesta história, que está fazendo isso como amigo e para que o jogador busque de uma vez por todas um tratamento.

Ortega está com uma aparência meio macabra, com dentes podres e cara , realmente, de bêbado. Mas dizem as boas línguas, inclusive Simeone, que ele estava fazendo uma pré-temporada maravilhosa e talvez fosse o melhor da equipe. Pôs tudo a perder com atrasos e sumiços. Semana passada, por exemplo, em Palermo, ele saiu de uma boate-restaurante e bateu com o carro num posto de gasolina.

Mas os fãs do futebol do baixinho não vão ficar órfãos (texto careta de matéria do globo). O Burrito foi emprestado ao Independiente de Mendoza, time pertencente a segunda divisão argentina, por 500 mil dinheiros americanos. A torcida do La Lepra, como é conhecida a equipe, estão bem contentes. O presidente do clube, num afã de felicidade e marketing, disse que, inclusive, ele e sua própria família ajudarão ao jogador a sair da ressaca. Cidade menor, sem tentações, sabe como é.

Agora, vocês me digam. Como é que vão levar um alcoólatra para jogar em Mendoza, terra onde é produzida a grande parte dos vinhos nacionais? Que beleza....

Monsanto e USP




Seguindo na onda verde economica do brogue, segue matéria da Brasil de Fato sobre um acordo da digníssima e honesta Monsanto e a USP. Trata-se de um projeto de iniciacao científica para o ensino médio. Eu nao sei muito o que achar disso.

A Monsanto é uma das donas do país e tem um segundo emprego como uma das sete bestas do apocalipse (junto com o Bush, a Coca, o McDonalds, a Nike, o anonimo do petróleo e o Flamengo).

Nao sabemos até que ponto é interferencia na autonomia e na educacao crítica universitária e até que ponto é um incentivo academico. Mas eu nao aceito doces de estranhos psicopátas. Nessa onda, sugiro também o filme Michael Clayton, com o gala político George Clooney, que fala sobre as sujeiras de uma transgaláctica agrícola. Trecho aí acima.

Monsanto firmou um convênio com a Universidade de São Paulo (USP), no
início deste ano, cuja versão original do contrato, revisto após pressão de
professores e estudantes, submetia a USP a sigilo absoluto e a subordinava a uma
lei dos EUA. Uma cláusula que permaneceu no documento, a oitava, estabelece que
a Universidade e sua Fundação, a Fusp, são obrigadas a manter sigilo em relação
à toda informação relacionada às atividades da Monsanto.

Para Ermínia Maricato, representante docente da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo no Conselho de Pesquisa da USP, o convênio com a transnacional pode
prejudicar a imagem da instituição de ensino. “Não concordo que a USP assine
convênio com essa empresa, contra a qual existem fatos graves”, finaliza.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Dois dias de solidão

Macondo é a cidade onde se desenrola a trama do livro Cem Anos de Solidão, de Garcia Marquez. Logo nas primeiras linhas da obra, vemos um Coronel Buendía diante de um pelotão de fuzilamento e lembrando de sua infância, quando seu pai o levou para conhecer o gelo. Mais a frente descobrimos que se trata de uma feira repleta de ciganos, mágicos, e gente das arábias que traziam sempre as inovações e invenções , reais ou fantásticas, do mundo moderno. Essa feira foi criando raízes e sendo fundamental no desenvolver imaginário da família Buendía e seus 100 anos de história.

Mas o que tem isso a ver com o que eu vou dizer?

Incomodou, nessa última visita do Lula à Argentina, o séquito de empresários que vieram junto com ele e que deram declarações perigosas e de contextos vários , já conhecidos, e que desembocam em uma só coisa: desigualdade e perigo à democracia. Segundo o Clarin, por exemplo, um diretor da indústria paulista afirmou que o melhor para a argentina é não deixar o Estado interferir na economia. O presidente da Fiat disse que os países que seguem as regras da economia internacional, sempre melhoram. O Lula mesmo bateu na tecla dessa integração econômica, que a invasão de empresas brasileiras não é nociva para a Argentina e que o dinheiro tem que circular entre os países.

A invasão da feira mágica-moderna em Macondo teve um cunho econômico inegável. Os ciganos vendiam porções mágicas, os das arábias vendiam vitrolas e todos ganhavam dinheiro. No entanto, ao vermos o desenrolar da história, é inegável que o que cria laços e afeta o imaginário e as atitudes dos moradores da cidade com essa feira é o caráter simbólico dos inventos, a característica irreal do que é mostrado, os costumes do estranho, o onírico, a descoberta. Tanto, que ela deixa de ser mambembe e se estabelece no cotidiano local.

O problema, ao meu ver, de um intercâmbio e acordos carregados de um tom comercial, e apenas comercial, é que o dinheiro caminha na direção das limitações do homem: anda por interesse, por sobrevivência, quase nunca por humanidade. Entra e sai com suas cifras , quase nunca com o símbolo. E é esse o cunho da conversa que estamos vendo há muito tempo entre os dois países. O argentino está vendo o brasileiro como matéria, não como descoberta e fantasia. O brasileiro está vendo o argentino como oportunidade financeira e não como povo. Simplificando: a troca que também deve ser feita, junto com a comercial e que estabelece vínculos além do dinheiro, além dos lucros e realmente criará o símbolo de uma região unificada (e não como dois vizinhos que formulam um discurso mas que, na primeira tempestade, cada um vai para sua barraca), é a cultural e a artística. A cultura e a arte são exatamente essas mágicas, esse mundo fantástico que fez das invenções ciganas e das arábias parte do cotidiano de Macondo, que despertou o imaginário do impossível e do improvável nas mentes dos Buendía e os fez entrarem num turbilhão de transformações e movimentos que mudaram a vida de todos. Além da língua, falta aos dois países o real reconhecimento de irmandade. E esse nunca se dá em uma relação de benefícios e trocas puramente materiais.

Além do lado macondiano da relação, é histórica, pelo menos na Argentina, a relação escusa de empresariado e democracia. Foi por causa dos interesses empresariais e petroleiros estrangeiros (e de algumas famílias locais) que se formou a tradição de ditaduras, iniciada em 1930 e finalizada mais de 50 anos depois. Esse séquito de empresários acompanhando o Lula, me lembrou a formação da “primeira ditadura” argentina, a de 1930, com o general Uriburu (dono de terras e acionista de empresas), que entre seus ministros ( na maioria civis e “liberais”), 80% eram diretores de alguma empresa de petróleo, advogados de empresas de petróleo, donos de fábricas, acionistas de grandes empresas ou tudo isso, junto. Me incomoda o fato de, historicamente, sabermos que o capital e o liberalismo caminham para o interesse de pouquíssimos, perseguindo desejos individuais, raramente do povo e da maioria. E o discurso é sempre esse, que o financeirismo tem a inteligência suficiente para não ter dedo do Estado. Acontece que o Estado representa os que, na hora do aperto, são as principais vítimas do abandono e repugnância “liberal”.

Algum esforco está sendo feito, vide a presenca brasileira nas semas artísticas ou nos grandes eventos artísticos. Ainda sim a entrada é mais espetacular que real, que de base, de conversa e de trocas cotidianas.


Da próxima vez que o Lula vier, que traga professores, médicos, artistas, cientistas, que têm muito o que conversar e aprenderem uns com os outros. Que traga mais mágicos e uma certa dose de sonho e imaginação , que é o que falta ao dinheiro. Que é o que dá algum tom de humanidade a homens e mulheres com caminhos tao diferentes. Que traga Macondo, a cidade comum e ainda subterranea que existre entre Brasil e Argentina.


segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Che, mesmo no túmulo.



É muito curioso. O filme de Che, dirigido por Soderbergh e com Benicio Del Toro (que ganhou Cannes com o papel), que tem 4 horas de duração e dizem ser incrível, está quase abrindo um rombo no bolso de quem investiu porque não tem distribuição.

Acontece que é previsível que não seja distribuído nos EUA, mas por que não consegue ser exibido na América Latina e , principalmente, em seu país de origem? Que forças estão regendo essa história?

A “película” tem 4 horas (vai ser divido em dois), é falado em espanhol (comparando com discursos televisionados do guerrilheiro, que volta e meia passam aqui no Canal Encuentro, o Toro ta falando igualzinho ao Che), fala sobre um homem que transformou os EUA no maior demônio de todos e que teve uma vida complexa demais para ser fielmente retratada em imagens. Tudo bem, mas é documento histórico, é esforço intelectual e de debate, é um dever cívico e humano, além do comercial e ideológico, arranjarem distribuição para esse filme.

(Sim, estou falando com Pollyanas de barba, barrigas grandes e que pagam putas sistematicamente).

Será que esse boicote silencioso terá êxito. Por que não se faz o caminho inverso ao filme do Andy Garcia (anti-castro), Cidade Perdida (igualmente anti-castro), que foi exibido nos EUA, mas boicotada na América do Sul em 2005?

Parece que o Le Monde cita uma fonte da indústria americana que diz que exibir o Che seria como exibir uma obra sobre Hitler ignorando o Holocausto e se concentrando na retomada econômica alemã.

Com a diferença que as empresas americanas não patrocinaram o governo cubano (embora a Cia tenha patrocinado a Fidel Castro no início da queda de Batista) e que, embora não concorde, os fuzilamentos do Che não tiveram natureza étnica ou religiosa.

(sim, estou tentando pensar sobre o que nem deveria se comparar).

Vai um pedaço do trailer aí acima.


Preferem o barbudo...

Não é novidade, mas me impressiona essa imagem positiva do Governo Lula aqui em Buenos Aires. Se o Ibope fizesse uma pesquisa, daria mais ou menos uns 92% de aprovação. Mais, se o PT quisesse se esconder de suas manchas e erros, está na hora de lançar candidatos aqui, principalmente o nosso querido presidente.

Hoje eu fui comprar uma água no kiosco perto do trabalho e o senhor que atendeu, que sempre que me vê canta um sambinha, falou:

- Seu grande chefe está aqui, né?
- Ah, o Lula. Sim.
- O que você está fazendo aqui? O seu país que é uma maravilha, um grande país, cheio de oportunidades...

Tentei dizer que não era bem assim. E de repente percebi que o Brasil é tão complexo, que qualquer afirmação é vã. Numa pseudo análise mal ajambrada, deve-se , em grande parte, essa popularidade, ao “crescimento magnífico” da economia nacional. Como as notícias que chegam aqui são completamente fora do contexto, ou melhor, apenas dentro do contexto numérico, o Brasil é um dos países mais importantes do mundo. Aqui não se chegam notícias sobre CPIs e patacas do congresso com relação ao nosso meio ambiente. Mas é capa de jornal quando descobrimos petróleo.

Além disso, e isso é coisa que pouca gente sabe aí no Brasil (pelo menos meus amigos mais chegados, gente da classe média genial e estática) é que realmente as empresas tupiniquins estão investindo em tudo aqui. Uma consultoria privada disse que, ano passado, mais de 20% do total dos investimentos no país foram brasileiros. Além disso, os turistas brazucas invadem Buenos Aires, dando a idéia de que câmbio forte significa robustez a longo prazo.

Durante a questão do campo, batiam muito na tecla do investimento do governo Lula na agricultura e no incentivo aos agricultores (nada se falou sobre a exploração de monocultura e mao de obras das corporações estrangeiras). Ou seja, é tudo uma questão de dados, nunca de análise.

Uma coisa interessante é que hoje as capas do Clarin e do La Nacion eram sobre a visita do Lula. No Globo, nem bola.

Como diria minha avó: Calamar a distância é baleia no brejo.

sábado, 2 de agosto de 2008

Não existe pesticida para a cobiça.


Aqui vão dois textos bem sem voz na grande imprensa. Embora falem de assuntos diferentes, intuitivamente sei que formam figuras idênticas nesse mosaico da política brasileira atual: o meio ambiente, a ecologia e a influência maligna (sim, como um tumor) do capital privado estrangeiro. Dois assuntos de extrema importância que estamos deixando passar sem entendimento, nem a busca por entendimento.

Artigo Stédile completo

"Hoje, quase todos os ramos de produção agrícola estão controlados por grupos de empresas oligopolizadas, que se coordenam entre si. Assim, no controle da produção e comércio de grãos, como a soja, milho, trigo, arroz, girassol, estão apenas a Cargill, Monsanto, ADM, Dreyfuss, e Bungue, que controlam 80¨% de toda produção mundial. Nas sementes transgênicas, estão a Monsanto, a Norvartis, a Bayer e a Syngenta. Com controle de toda produção. Nos lacticínios e derivados encontramos a Nestlé, Parmalat e Danone. Nos fertilizantes, aqui no Brasil, apenas três empresas transnacionais controlam toda produção das matérias primas: Bungue, Mosaico e Yara. Na produção do glifosato, matéria prima dos venenos agrícolas, apenas duas empresas: Monsanto e Nortox. Nas máquinas agrícolas também o oligopólio é divido entre a AGco, Fiat, New Holland, etc.

Esse movimento que se desenvolveu a partir da década de 90, se acelerou nos últimos dois anos, com a crise do capitalismo nos Estados Unidos. As taxas de juros nos países centrais caíram ao nível de 2% ao ano, e, comparado com a taxa de inflação levou a que os bancos percam dinheiro. Então, o capital financeiro para a periferia dos sistema para se proteger da crise e manter suas taxas de lucro. Nos últimos dois anos, chegaram ao Brasil cerca de 330 bilhões de dólares na forma de dinheiro. Parte desse recurso foi aplicado através dos bancos locais, para incentivar as vendas a prazo, de Imóveis,eletrodomésticos, e automóveis, a taxas médias de 47% ao ano. Uma loucura, comparado com as taxas dos países desenvolvidos."


Entrevista Telma Monteiro

Para a pesquisadora autônoma na área de energia Telma Monteiro, os projetos de construção de hidrelétricas no Rio Madeira e em Belo Monte somam uma série de problemas não considerados pelo governo federal brasileiro. Em relação à matriz energética do país, ela diz que o Brasil está sendo ultrapassado, pois não vem aproveitando seus recursos para ser menos atingido pelas conseqüências do aquecimento global. “Nós estamos indo completamente na contramão da história. Ficamos em 42° no ranking de países que sofrerão os impactos das mudanças climáticas, entre 168 países. Não estamos prevenindo nada. Continuamos a desmatar a floresta Amazônica e a destruir nossos ecossistemas importantes e cruciais com usinas do porte dessas do Rio Madeira e Belo Monte”

É interesse político e das grandes empreiteiras, que precisam de grandes obras. Assim, temos dois projetos de hidrelétricas no Rio Madeira superdimensionadas nos estudos feitos pela Furnas e pela Odebrecht. A meu ver, essas empreiteiras estão gritando agora contra essa atitude da Suez justamente por causa disso. A Odebrecht tinha uma idéia de economia de escala ao fazer duas hidrelétricas. Então, existe um grande interesse financeiro de grandes empreiteiras ao projetar nessas obras grandes lucros. No entanto, o governo federal não está considerando isso.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

A Visita da Banda



Assim como é irresponsável e pretensioso julgar um filme exatamente após assisti-lo,
é duvidoso posicioná-lo nesse ranking mental que fazemos das melhores obras que já vimos em nossa vida. Por isso talvez esteja escrevendo ainda com o calor da proximidade e do impacto.

Fato é que , no meu imaginar, “A Visita da Banda” (ou A Banda. co-produção EUA-França –Israel), do diretor israelense Eran Koliri, é um dos filmes mais profundos que vi nos últimos tempos.

Trata-se de uma suposta comédia leve e singela e que fala sobre uma banda de cerimônia egípcia que se perde em um pequeno bairro Israel e se relaciona com seus moradores de formas inusitadas. Por um lado mais intelectual, poderia-se dizer que mostra algo da incomunicabilidade (barreira da língua, cultura e, neste caso, ódio histórico) dos homens e o elogio da comunicabilidade já que, mesmo com essas barreiras, eles se entendem. Pode-se defini-lo de diversas formas, assim como quase tudo na vida.

Mas o que mais me espantou na obra é que ela, antes de tudo, é silêncio. E não é pelo ritmo como as coisas passam. É mais pela simplicidade de mostrar o que tem que mostrar, como lidamos com nossos sentimentos em nossas rotinas, como calamos, de que forma expressamos e o que tentamos resolver e o que escondemos. Sem nenhum artíficio dramático e cenográfico além de pessoas e o diálogo eloqüente e inteligente dos olhos, o filme, cru e ordinário, mostrou um pequeno pedaço desse grande tecido do qual somos feitos.



Os personagens somos nós, em algum momento, em alguma parte que não vemos. O músico que nunca terminou seu concerto e , com as mãos inertes, suprime seu desejo de reger a banda, o general supostamente autoritário e líder da banda que , mesmo responsável por sua dor (há que ver), aprende a lidar lentamente com suas próprias verdades, um rapaz que vê a vida passar como se nada e aceita o cotidiano e o amor como se não tivesse o que fazer, o galã egípcio que, de filho rebelde, passa a ter uma relação de pai com um adolescente israelense, o homem que espera eternamente a ligação da namorada toda as noites num orelhão público, a mulher solitária e generosa que junta os próprios cacos em pedaços de outros homens e a beleza de cada um dos personagens, que o diretor às vezes revela e às vezes cala, como se soubéssemos que algumas histórias e visões de vida vão para o túmulo com a alma de uma pessoa.

Além disso, o filme tem um jogo cênico baseado no corpo, na imobilidade do corpo, que se descolore junto com o monocolorido deserto israelense. Cenas históricas e geniais como o gala egípcio ensinando ao jovem o que fazer com uma garota triste. Cenas oníricas e curtas (como se de propósito) do general explicando o que sente ao reger (sem uma palavra). Há um pouco de cada elemento que vivemos em dois dias aparentemente inusitados, cheios de tristeza, mas com a inevitável renovação de esperança diária, esse sentimento tão falado e pouco entendido (exatamente porque não pertence à compreensão racional).

E para os que procuram um motivo hollywoodiano ao ver um filme, achará na, sem exagero, a mulher mais linda do cinema mundial atualmente, a quarentona Ronit Elkabetz.

Entre tantas definições do que é bom cinema e o que não é, o que deve ser visto e o que nao deve, prefiro ficar com o silencio e a sabedoria de uma obra gigante e simples como "A Visita da Banda".

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Feira Orgânica da Glória - Um passo para um mundo melhor


Sim, é difícil nao se sentir cada dia pior diante do que nós mesmos fazemos ao mundo. Principalmente no que diz respeito ao meio ambiente. Mas algumas coisas estao bem perto, ao lado da nossa vontade.

Outro dia estava vendo um documentário da BBC, Truth About Global Warming. Nele, além de dados alarmantes e preocupantes sobre o nosso futuro próximo, vi uma simulacao muito interessante, que aproxima os problemas ambientais dos nossos atos. Inventaram uma tal de família Carbono , composta por pai, mae, uma casal de filhos e um cachorro. Eles sao da classe média inglesa, legais, amáveis, ajudam nas festas da comunidade, tehm bom coracao e acreditam em Deus. Mas sao parte atuante e fundamental de uma dura verdade: metade do dióxido de carbono lancado na atmosfera, vem de atividades domésticas (ao terem dois carros, ao consumirem muita carne, ao gastarem água, ao gastarem luz, ao gastarem no aquecedor etc). O doc fala também de alguns passos para reduzirmos nossa carga nesse assassinato.

Boa parte desses passos é simples e imediatamente viável, mas existe uma um pouco complicada diante da mentalidade de nossos irmaos e dos fatos concretos que temos em vista.: consumo de produtos agrícolas de agricultores locais.

Há idéia é que os alimentos locais nao precisam de transportes longos, nao gastam combustível e sao ecologicamente menos agressivos (já que o pequeno produtor nao pode fazer mal à própria terra).

Fiquei pensando nisso e como poderia fazer aqui de Buenos Aires. Nao encontrei uma alternativa aos grandes supermercados e aos mercados chineses. Mas me lembrei de algo que me mortificou pela inércia porque quando tive a oportunidade, simplesmente nao fiz nada.

No Rio de Janeiro, há uma ótima feira de produtos organicos, todos cultivados por produtores da cidade. É a única na cidade e acontece todo sábado de manha na Glória. E isso é o legal: além de ser local, feita por pessoas do interior do estado e cidades vizinhas, tem produtos de extrema qualidade, sem agrotóxicos, sem hormonios nem nada.

Mais interessante ainda é que a Associacao da Feira já tentou realizá-la em outros bairros mas, por algum motivo estranhamente secreto e absurdo, a Prefeitura colocu panos quentes e fez esquecer as solicitacoes. Se o consumo de produtos locais é um dos passos para um mundo ecologicamente melhor e viável, por que a prefeitura do Rio nao incentiva essa feira?

Bem, enquanto ninguém faz nada, nao faca como eu: pra quem é do Rio, vá a essa feira. Voce ajuda ao comércio local, ao meio ambiente e ao próprio corpo. Pra quem é de Buenos Aires, uma ajuda a achar algo parecido aqui.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Democracia é crise.


A palavra crise , em sua origem, significa o "juízo", ou a tomada de decisao por um juiz ou médico. Mais ou menos a finalizacao de um processo em um sentido ou outro. A priori, nao carrega o fato de um aspecto positivo ou negativo.

Acontece que jornalista é poeta. E dos piores poetas. O que nao sabem criar neologismos, mas redimensionam a palavra para proveito próprio. E me assusta, tanto no Brasil, quanto na Argentina, a carga catastrófica que se dá a palavra e maneira apocalíptica como é empregada.

Anteontem, Julio Cobos, vice-presidente da Nación, teve "huevos" e votou contra um mal-pensado e triste imposto de taxas sobre a producao agrícola. Seu voto foi o de Minerva após um empate no Senado. Ele, com voz embargada (de medo e de emocao suponho, tamanho o peso da responsa) foi contra as intencoes da presidente Susana Vieira, jogou água na própria fogueira de gestao e se tornou o inimigo número 1 da máfia do D´Elia (o CPK, o Comando Piqueteiro Kirchnerista). Antes da votacao, duas manifestacoes gigantes, no mesmo dia, na mesma hora, a poucos quilometros de distancia. No Centro, com cara de popstar sem jeito e com um incrível tom populista, Nestor tentou inflamar as massas e denunciar um golpe de estado. Em Palermo, vários dirigentes agrários, inclusive o Angeli, agradeciam ao apoio popular e puxavam a sardinha pra própria brasa. Corta.

Miriam Leitao, em seu brogue, após ouvir um especialista, fala que essas manifestacoes democráticas sao crise, sao divisao, que o senado ter empatado os votos é ruim, é racha no Congresso, é crise de governo. Ora, o legal da democracia nao é esse? Eu, do fundo do coracao, nunca vi no Brasil um processo tao lento, tao sério, mas que envolvesse tanta gente, que fizesse o argentino conhecer mais do próprio campo, que mobilizasse tantos aspectos e, na medida possível, de uma forma livre e intensa. A impressao que passa, ao ler seu textos, é que a Argentina vai virar Angola amanha. Corta.

Mas o mau exemplo também é hermano. Embora se de muita trela para muitas discussoes legais de sociólogos, agricultores, políticos e até a velhinha do pao da esquina, está faltando o próximo passo do debate. E qual seria? A questao (e nao crise) do campo permitiu, como em pouquíssimas oportunidades, reavaliar infinitas relacoes históricas e conjecturais do país como o campo como fonte principal da riqueza na cidade, elites agrárias e povo que planta, agrobusiness internacional na Argentina, populismo, peronismo, neo-peronismo, ultraneoperonismo, afro-peronismo, estado como máquina de calar a classe média, democracia, crise x debate, investimento em tecnologia, enfim, relacoes que acompanham esse povo desde a chegada do radical Yrigoyen ao poder no início do século e sua mexida no cenário aristrocrático argentino. O que faltou aos meios de negócios comunicativos daqui foi o que com certeza também faltaria nos brasileiros: ser um espaco democrático de pensamento, nao um gerador imparável de neologismos interessados.

Ainda há atores por trás das cortinas. Infelizmente, quando já estamos quase puxando a corda para revelá-los, nos perderemos no carnaval que está tocando lá fora.


quinta-feira, 17 de julho de 2008

Bizarra é a história


Ontem vi um rapaz engraçado falar na TV. É um bonachão chamado Daniel Riera, jornalista e que está lançando um guia inusitado da cidade: Buenos Aires Bizarro. Como já disse, é como um guia de coisas portenhas inusitadas, desde construções, passando por personagens peculiares e intervenções urbanas feitas pelas pessoas. O formato é uma foto e uma pequena reportagem, contando a história da bizarrice.

É legal porque uma cidade ela é feita dessa história. Por onde se anda uma pessoa, já andou gente que mudou o mundo, já teve sangue derramado, luta, choro, superação. Além disso, a cidade é , fisicamente, onde culmina e se torna aparente as mudanças sociais, intelectuais e internas. Como o tempo passa, às vezes temos que aprender a ler entre os vestígios e o não tão aparente para entendermos em que ovos pisamos.

Bem, no livro você vai encontrar alguns lugares das batalhas pela independência argentina (que não se deram necessariamente no Centro) , um percurso "turístico" pelos prédios que já abrigaram crimes sangrentos, violentos e conhecidos, além de uma mulher que , por conta própria, cuida do túmulo da cantora de cumbia e lenda Gilda, e lê as cartas deixadas pelos fãs para ele e sua família (morta num acidente com ela) e diz se comunicar com a artista. Há coisas bem engraçadas como o monumento nosense ao "dedo gordo", isso mesmo, ao dedo gordo, um museu destinado a homenagear um único barrabrava (torcedor violento de torcida organizada) e uma esquina das ruas Rafael Hernández com a rua...ops, Rafael Hernández (perto do River). Tem até uma referência à Igreja Universal gigante que tem Abasto. Na verdade, e isso eu descobri ontem, o gigante é só fachada (meu deus!), o prédio atrás dela está vazio.

Essa idéia não é nova e parece que foi realizada em outras cidades como Santiago, Bogotá e Lima.
Serve pra incentivar meu próprio passeio turístico bizarro pela cidade. E eu já tenho dois lugares pra ir: a casa onde o Che Guevara passou a adolescência-fase adulta e o trajeto do massacre de operários por parte do governo em 1919 ali pertinho em Villa Crespo, perto do cemitério de Chacaritas, conhecida como a Semana Trágica e que mudou muita coisa no país.

terça-feira, 15 de julho de 2008

O Diabo já sabe.




Se alguém acha que aquele filminho decepcionante dos irmaos Coé Mané , Onde os fracos...., era violento, deve assistir ao angustiante e lindo Antes que o Diabo Saiba que Você está morto. (Parece que está na moda títulos grandes, como uma onda retrô do realismo mágico latino da literatura).

Mas por que o "Antes" é tao bom?

Primeiro, e acho que nao se precisa falar mais nada dele, pelo Phillip Seymour, o gordinho louro que só faz filmes, no mínimo, ótimos (até sua ancestral participacao em Twister se destaca). Depois pelo igualmente grande ator Ethan Hawnk. Terceiro porque é a pólvora acesa de vidas comuns, de uma maneira ordinária, sem muitos alardes ou tramas mirabolantes: o fio da navalha está aí e qualquer um pode apertar o botao e fazer a casa cair. Quarto, porque todos os personagens, todos, sem a mínima excecao, sao maus. Sao muito maus. Nao há sopro de heroísmos que nao sejam bem menores que as atitudes macabras. Nem o suposto bonzinho Ethan escapa. Quinto, porque a Marisa Tomei ressuscita das trevas como atriz e como beleza. Sexto, porque é simples. E a crueldade também é. Comeca, acaba, e continuamos com dor.

sábado, 12 de julho de 2008

Grito de Córdoba é mais vovô (reforma universitária faz 90 anos)

foto roubada daqui e cuja explicação é "Alunos da Universidade de Córdoba festejam a Reforma universitária de 1918"

C
omo o blog gosta de uma data redonda, lá vai mais uma. Nessa zona que vai de junho a setembro é muito importante para lembrar ações universitárias históricas. E elas se deram na Argentina, mais notadamente em Córdoba , em 1918.

Há 90 anos atrás, o presidente de la nación era Hipólito Yrigoyen, do partido radical, que teria um papel importante nisso. Só pra entender , o partido radical (e Hipólito) não era tão radical assim.

Imagine uma Argentina no final do século 19 e início do 20 sem o sufrágio universal, com latifundiários ricos e políticos controlando as eleições e a economia (basicamente agroexportadora). Com o catolicismo e a manha européia civilizante progressista quase nobre e xenófoba dominando o terreiro. Ao mesmo tempo um país que havia conquistado sua liberdade na porrada, com a marra criolla de mártires como San Martin, Belgrano, que culminou em gerações que tinham sangue europeu, mas também aborígene e, o mais importante, tinha aprendido a lutar por um país que viram construir. Junte isso a melhor organização operária-sindicalista da América Latina, que começava a aprender com os movimentos populares na Rússia e França. Agora volte lá pra cima e faça a conta, levando em conta que aqui reinava o acordo comercial clássico com a Inglaterra: te dou o leite, vc me dá a mamadeira (exportação de produtos agrícolas e importação de industrializados). Quem ganhava a mamadeira eram poucos. E a galera toda ficava sem mamar. Não era de se esperar, a porrada começou a cantar.

A partir daí começaram a ver que a exploração e manipulação eleitoreira descarada davam mais prejuízo que lucros. Os pobres já tão começando a invandir minha casa, a favela já tá descendo. Os radicais entraram aí nesse nicho de mercado: pediam leis trabalhistas mais justas e eleições universais e honestas e se tornaram uma opção , oposição politicamente válida para essa nova realidade (várias vezes tomaram províncias e derramaram muito sangue após embate com as tropas governistas). Mas , aí é que é a patota, não as pregavam como revolução social, igualdade de classes ou que possa parecer: o voto e essas leis apenas abrandariam as revoltas, já que o líder do país seria um líder eleito pela maioria, de forma clara e transparente.

Nosso querido Hipólito surgiu aí e se destacou na peça. Em 1916 foi eleito na primeira eleição livre para todo o país (a lei do sufrágio universal se chama lei Saenz Peña, de seu antigo e moderado adversário político, o Roque, que morreu em 1914). Embora sem a intenção de botar pra quebrar, foi visto com muito receio pela elite, gerando tipos de comentários preconceituosos
e arrogantes típicos da família, tradição e propriedade. De fato, sua entrada trouxe muitas coisas boas pra galera, como a luta pelas leis trabalhalhistas, um pouco mais de divisão da mamadeira, a ida da classe média e dos imigrantes ao cenário político e uma política internacional que mandou os Eua se ferrar. Por outro lado, usou e abusou da força contra os próprios trabalhadores que jurou defender, em massacres contra manifestações e greves e sua conexão comprovada com fascistas (que, no futuro, iriam dar dor de cabeça). De qualquer maneira, a elite, que ainda dominava, tinha um presidente que gostava um pouco do cheiro dos pobres e de certas idéias modernas demais.

O cenário era mais ou menos esse quando um grupo de estudantes da Universidade de Cordoba mudou a história das universidades no país e foi grande inspiração para mudanças em outros. Como diz o nosso querido e incansável historiador Felipe Pigna em seu livro "Los mitos de la historia argentina", eram os filhos da mamadeira que, em sua maioria, podiam entrar na universidade. Isso foi até a chegada do radicalismo ao poder, quando a classe média teve mais espaço e respaldo para buscar a formação para ascender socialmente. Mas antes de democratizar o pandeiro, tinham uma estrutura bem fortificada pra raspar. Como diria Pigna, "o sistema universitário vigente era obsoleto e reacionário. Estava décadas atrasado. Na universidade de Cordoba, a influência clerical era imensa e os calouros, independente do credo, tinham que jurar sobre os santos católicos. Um exemplo do atraso do programa de filosofia: aprendiam sobre as regras de como mandar em um servo".

A bomba estorou no final de 1917, quando o reitor, sem dizer lé com cré, mandou acabar com o internato no Hospital das Clínicas. Os estudantes de medicina, direito e engenharia se juntaram, se mobilizaram, reclamaram, pediram coisas, não foram atendidos e em Março declararam greve geral dos universitários. Em abril, a universidade foi fechada. E aí o comitê estudantil foi ficando mais sério e começou a reclamar com o ministério da educação, propondo mudanças curriculares, demissão do reitor, troca de professores, modernização de estrutura e autonomia. Essas idéias foram se espalhando pelo país, até que chegaram nos estudantes de Buenos Aires. Comitês e federações universitárias foram criadas e começavam a fazer bastante barulho, para horror da elite social reacionária e católica.

A coisa ficou tão forte que a direção da greve de Córdoba teve uma reunião com o nosso querido Hipólito que, por sua vez, deu uma carta branca, azul, rosa e cheia de purpurinas aos estudantes dizendo que "seu governo pertencia ao espírito dos novos tempos e que se identificava com as justas aspirações estudantis". Depois disso, mandou um interventor federal ver qual era do caô lá em Cordoba. O cara viu e voltou falando as piores coisas pro presidente. Em 6 de Maio, Yrigoyen dá um decreto pedindo novas eleições lá. Muitos sacerdotes-professores semi-deuses consideraram isso um afronte e pediram demissão. E pela primeira vez na história votaram pelos cargos docentes democraticamente. Deu na cabeça a centena e o milhar: a maioria dos professores eleitos eram do agrado dos comitês estudantis. Só que ainda faltava o reitor. Os universitários apresentaram o seu candidato mas, após uma manobra dos reacionários católicos, quem ganhou mesmo foi um perpetuador da situação. Acontece que os estudantes tinham sangue nos olhos e botaram novamente pra quebrar. Quebraram a universidade, a invadiram e declararam a "greve geral, a revolução universitária e a universidade livre". Mais que isso: conseguiram o apoio dos estudantes em Buenos Aires, assim como do movimento dos trabalhadores, elite intelectual e algumas organizações políticas da capital. No final de Junho, escreveram o Manifesto Liminar, que foi dirigida aos "homens livres da América do Sul" e era um clamor apaixonado que evocava a Bolívar, a Zapata e a Lênin e dizia que a revolução das consciências estava sendo feita, assim como o rompimento com uma sociedade monárquica, monástica e tirânica. Em agosto e setembro, mais manifestações, agora com a adesão dos movimentos sindicais. O comitê, além disso, tomou a universidade, assumiu interinamente sua direção e declarou que ela estava fechada indefinidamente. A elite reacionária cordobesa, que ainda era imensamente poderosa, reagiu com a porrada policial. A bagunça tava armada. O Hipólito , então, mandou outro interventor para resolver a mamona. Dessa vez foi o próprio Ministro, José Salinas, que foi , reorganizou as coisas, aceitou a demissão do reitor e do resto dos professores anti-modernidade, reabriu o Hospital das Clínicas, chamou novas eleições, botou reformistas na cabeça da universidade e, dessa vez sem mutreta, viu um reitor "estudantil" assumir o trono. A coisa se espalhou para os países vizinhos (1919 no Perú, 1920 no Chile, 1922 na Colombia, 1923 em Cuba, 1928 no Paraguai e em todo o continente nos anos seguintes).

Pigna conclui: "o movimento universitário reformista renovou os programas de estudo, possibilitou a abertura da universidade a um número maior de estudantes, promoveu a participação dos mesmos na direção das universidades e impulsionou uma aproximação das faculdades aos problemas do país. Implantou a co-direção da universidade pelos graduados, docentes e alunos; a liberdade de cátedra e a autonomia".

O historiador chileno Gustavo González diz que o Grito de Córdoba, como foi conhecida essa história, pode ser considerado o ato de fundação dos manifestos estudantis latinoamericanos contra sistemas autoritários ou modelos obsoletos. Pode-se ir mais além e dizer que o "grito" foi pioneiro na reforma universitária no mundo todo, já que a Europa (lembrando que estava no fim da devastadora primeira guerra) demorou , em alguns países, muito tempo para sair de um regime universitário medieval. No Maio de 68, de fato, vários estudantes franceses (e até um editorial do Le Monde) disseram que o que eles estavam fazendo já tinha sido iniciado 50 anos antes na Argentina. Pouca merda é bobagem.

Enfim, fica um post gigante , mas acho que legal, sobre uma luta válida, suada e cujos resultados transcenderam os tempos e ainda inspiram.

As universidades do Brasil precisam dar seu grito também. É só os estudantes pararem de fazer turismo barato em encontros e fumarem maconha nos centros acadêmicos. Já seria um bom meio passo.

Voz maneira sobre o grito de cordoba

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Dinamite entrando na passarela!


Daniel Passarella, o flamante capitão da Argentina campeã de 78, senhor de uma porrada homérica em nosso central Edinho, ídolo do ríver, polêmico técnico das mesmas gallinas , da seleção argentina e até do Curíntia, será o presidente do time de Nuñez em 2009.

Pelo menos é assim que ele quer. Para isso, o diminuto porradeiro-habilidoso, já está fazendo por onde. Ganhou uma nomeção como embaixador pela paz através do esporte, diz pra todo mundo que está recusando propostas para ser técnico de outros times, diz que vai trazer o Ramon Diaz (outro ídolo gallina ) pra ser técnico do time e que isso e que aquilo outro.

Alguns torcedores, como o tempo é estranheza, esqueceram completamente do que ele já jogou por sua equipe e país depois das declarações que deu há algum tempo dizendo que era boca quando pequeno e que queria matar as gallinas. Além disso, é acusado de mercenário por sair do clube por dinheiro e de ficar rico às custas do clube. Outros dizem que é ótimo, que pelo menos vai tirar de lá o corrupto José Maria Aguillar, que ele é um torcedor do river incontestável, que pagou do bolso dele o salário de jogadores na década de 90 (quando o clube quase foi à falência) e que enterrou seu filho (morto num acidente de carro trágico) com bandeira do river posta sobre o caixão.

É a controvérsia o acompanhando desde sempre. Nessa candidatura, não poderia ser diferente.

Falo tudo isso porque estava faltando meu post vascaíno. Demorado, mas sincero, da alegria de ver Roberto Dinamite , outro ex-jogador e ídolo de um grande time, na cabeça da nação vascaína. Robertão vem mais como paladino da glória do que como traidor polêmico, mas seu trabalho será igualmente gigantesco.

Aa felicidade, no entanto, não é porque o Roberto Cuoco quando jovem é maravilhoso, o deus da honestidade e da eficiência administrativa. É pelo simples fato de ter tirado o sapo-bolha da Colina. E por trazer ares de esperança a quem só respirava cansaço. É por ele ter acabado com a pantuscada de aposentar a camisa 11 (se for aposentar, aposenta a do Chico, do Expresso da Vitória) e pela viabilidade da volta de jogadores maravilhosos ao clube, além da volta quase natural de vascaínos verdadeiros às dependências do estádio mais bonito do Brasil. É pelos meus quinze minutos de alegria, futuro e ilusão. Afinal, o futebol não é sobre isso?

Que os dois presidentes se encontrem numa final de Libertadores. E que o Vasco seja tricampeão com um gol de falta do Pernambuquinho. De novo, e com a mesma emoção.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Países de papel, barquinhos de metal.


Faço humilde coro ao absurdo da presença americana nas costas brasileiras. Estou falando da famigerada “4. frota da Intervenção Americana”, criada em 1943 para afundar os submarinos nazistas e desativada em 1950 com o fim da Guerra.

Agora o governo americano a reativou sem nenhuma explicação plausível e respeito ao território alheio. Esse fato se soma a outros, que vão comprovando, pouco a pouco, os movimentos realizados por esse país para uma pressão militar desconhecida desde meados dos anos 80, com o fim das ditaduras financiadas por eles mesmo.

Lula reclamou, Chávez reclamou. E, é verdade, a imprensa nacional “chupó un huevo” (cagou e andou). A vergonha jornalística é brasileira, mas também encontra ecos em seus hermanos argentinos. Silêncio total e alguns pedregulhos éticos.

Ontem, por exemplo, passou no suposto all news Canal 5 daqui uma espécie de Globo Repórter emotivo e tendencioso sobre a nova Nova Iorque sul-americana: Medelín. Isso mesmo. De acordo com o programa, a cidade, antes dominada pelas “guerrilhas” (essa foi a palavra usada) narcotraficantes, agora é um paraíso de paz e bem-estar. A tolerância zero de Uribe deu resultado e, através de depoimentos sem nenhuma base estatística ou contextualizada, mostrou um panorama quase pollyânico da cidade. Sim, obras públicas como o teleférico e a biblioteca doada pelo rei da Espanha ajudaram reduzir a criminalidade e a cidade melhorou um bom por cento. Não quero negar os fatos e as boas ações colombianas. O que me incomoda é a completa falta de crítica de um programa jornalístico importante, com quase duas horas de duração. A “reportagem” foi a apresentação de números do governo e sonoras de crianças que “largaram o tráfico” (essa idéia maniqueísta e jesuítica de recuperação), a classe média que se esconde em seus condomínios e, adivinha, o depoimento de gente do próprio governo. E isso logo após a "umseteúnica" liberação da Ingrid (acabei de saber também que os americanos resgatados já firmaram contrato com Oliver Stone para fazer um filme sobre o drama das selvas colombianas).

Estou parecendo um daqueles comunistas flamejantes e retardados que falam que tudo é culpa do outro. Mas, nao dá pra negar, é tudo espetacular, perigoso e pró-imperialismo demais. Assim como o são:

- Liberação da Ingrid de forma estranha, após a presença de McCain.
- Plano patriota, que permite a presença da Cia e tropas americanas na parte colombiana da Selva Amazônica.
- Patrocínio americano dos planos de conflito na Bolívia, que é país central e simbólico da liberdade da América Latina.
- Pressão na ONU para que Lula abaixe as calcas e entregue a Amazônia.
- Massiva demonizacao midiática de Chávez (críticas à parte, valha-me Deus a parcialidade, né?)
- Pouca atenção midiática ao conflito que ainda persiste entre Colômbia e Equador (o que possibilitaria uma maior presença americana no continente).
- Histórica influencia da inteligência americana nos rumos políticos do continente (ou seja, o curriculum é bom).
- Recursos naturais abundantes no continente em época de crise e desencontro financeiro americano.

E, para completar, a presença assumida e criminosa de mísseis apontados para a nossa cabeça. Em um mundo pós-moderno, com a fragmentação e “informacionalizacao” do indíviduo e suas relações formando uma nova forma de enxergar a realidade, é surreal ver as atitudes quase McCarthistas . Quando se trata de mexer no queijo, toda a teoria de democracia neoliberal, individual e quase levítica de uma sociedade internética, dionisíaca e espiritual, perde espaço para o mais antigo de nossos instintos: o uso da força.


quinta-feira, 3 de julho de 2008

É em 2012, os maias disseram!


A liberação de Ingrid Bettancourt não é apenas uma suposta vitória contra uma suposta ditadura terrorista da Farc. Tem alguns desdobramentos políticos, com personagens se movendo lentamente em busca de ações importantes no futuro. Personagens que botam o dedo nessa relação tão complexa entre a América Latina e o “combo” EUA-União Européia.

Primeiro se deve atentar para as idéias que envolvem as Forças Revolucionárias Colombianas. Para o “combo”, ela é terrorista. Para Brasil e Argentina, por exemplo, ainda têm sua veia política marxista-leninista, embora sejam repreendidas publicamente por suas ações. Para a mídia brasileira, são simplesmente traficantes de drogas. Para alguns intelectuais, é um gigante anacrônico ue ainda tenta seguir o plano de revolução comunista agrária, mais parecida com os términos maoístas que os propriamente soviéticos. Muito se debate sobre o objetivo da Farc: conquistar o poder com o povo ou conquistar o poder usando o povo.

Acontece que alguns fatos são curiosos nessa patota. Um, que os EUA só reconhecem poderes terroristas em áreas estratégicas de exploração energética. No caso da Colômbia, essa questão entra em dois caminhos: o primeiro é , de alguma maneira, achar uma justificativa anti-democrática para entrar na Venezuela, a sétima maior reserva de petróleo do mundo (maior, fora do Oriente Médio e, junto com o Canadá, a maior reserva de um tipo de petróleo mais difícil de ser retirado e tratado mas que, no futuro, pode ser necessário), e tirar o Chávez e colocar algum marionete.
É a tática que não muda desde a “luta contra comunistas” e o famigerado Plano Aliança para o Progresso, nas décadas de 60 e 70 que espalharam “ditaduras democráticas” por todo o continente e aumentou a dependência financeira dos países sul-americanos com relação ao capital estrangeiro.
A Colômbia tem um marionete ideal, é fronteiriço e quer porque quer uma pendenga com a Venezuela. O segundo atalho é a provável desculpa na luta contra as Farcs para a implementação do “Plano Patriota”, que busca defender fronteiras e matar todo mundo do movimento guerrilheiro. Acontece que conta com verba, apoio financeiro, de inteligência e militar dos EUA. Acontece que este último precisa entrar num vácuo e numa incógnita energética gigante que se chama Amazônia. É praxe de um líder mundial: não tomar bola nas costas com o que o sustenta. Isso se junta com as últimas pressões nos Congressos da ONU em cima do Lula. O “combo” quer a “legalização” do verde brasileiro. A Cia já deve estar fazendo curso de verão com os mosquitos. E a teoria da conspiração já não é tão conspiratória: é imensamente possível.

Tudo isso é para falar que o McCain foi lá fazer campanha, deu aquela pressão no Uribe, praticamente garantiu a permanência dos bonecos uribianos ao lhe colocarem como paladino da democracia (e ganhar o apoio eleitoreiro fundamental da Ingrid) e deu um aviso inegável ao Chávezs e aos Lulas: nós temos a p...maior que a de vocês. E agora temos uma p...que o mundo acha linda. Jogaram com a emoção para mascararem as tramas políticas.


E ainda tem um ponto muito importante, que ainda não foi esquecido, que é a briga com o Rafael Correa. As farc, desculpa central dessa briga, agora estao nas mãos (politicamente) do “combo”.


No dia em que ela estourar, o Chavez apoiará o Rafael. A pergunta é: os EUA terão a senha para entrar na Venezuela? E o que o Lula e a Cristina vão falar? A Cristina mantém uma relação muito amistosa com o Hugão (mesmo com a nacionalização de empresas argentinas lá). O Lula terá uma potencia apavorada e sedenta por meios alternativos de energia tocando na porta de casa. E pode acreditar que os EUA vão tentar meter o bedelho nas próximas eleições brasileiras (quem sabe pensando em um perfil mais família, tradição e propriedade de um Neves) para tirar a rocha tupiniquim do sapato, se o Lula realmente se mostrar como pedra na hora do "vamover".

Meio filme de espião e bastidores políticos inverossímeis, não é?
As ditaduras lationamericanas, com patrocínio e sangue dos norte-americanos, também foram feitas de histórias para boi e povos dormirem. E despertamos um pouco tarde.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

E agora, seu dotô?


Pode parecer (e até em certa medida é) cricri, mas me incomoda o nome que a imprensa deu para a nova lei que vai botar pra quebrar em quem for pego dirigindo alcoolizado.

O termo "Lei Seca" me faz lembrar três coisas que não condizem com a importância e gravidade com que deve ser tratada essa lei: Al Capone, eleições e fantasia das classes.

Al Capone porque me remete obviamente à década de 10, 20, quando a venda e consumo eram completamente proibidas nos EUA. Quem entrou no vácuo e no desejo da elite intelecutal (formada pelas classes média-alta/alta) foi o tiozinho aí citado, que enriqueceu como um bom mafioso enriquece: vendendo as ilegalidades.

Eleições porque não se pode beber nas eleições brasileiras.

Fantasia das classes porque, no dia das eleições, os bares do Leblon e das favelas ficam lotados.

O que essas três coisas têm em comum é a manchinha que aparece na repetição incessante do termo "lei seca". Me parece quase uma provocação, uma discordância velada, um "pimenta no dos outros é refresco, mas no seu é desespero". Me parece uma zombaria discordante, que dá um nome carregado de idéias de proibições, desprazer, infortúnio ao termo.

Os jornais são formados pela quase mesma elite intelectual (conceitualmente falando) que formava os universitários e pensadores americanos que deram as mãos aos mafiosos em troca de uma cervejinha. O povo brasileiro é formado da ilegalidade, é patrimônio histórico e cultural. O Leblon, por sua vez, é formado de hipocrisia e uma incrível e mirabolante capacidade de adequar aos seus interesses o que, sem meias palavras, está errado.

Então, faço algumas perguntas, para as quais nem Darcys nem Freires terão as respostas, suponho:

- E o motorista do ônibus Madureira-Saens Peña que, na sexta sagrada, na altura da estação de trem de Quintino, compra aquela geladinha com o ambulante, o Seu Geraldo?

- E a cervejinha dos policiais que vão extorquir os bares da cidade e, posteriormente, vão extorquir com os bafômetros?

- E o que será dessa lei no Carvaval, minha gente? A terra de Marlboro vira terra da Skol.

- E o Zeca Pagodinho?

- E a volta da praia no lindo trajeto Arpoador-Barra. Sem uma gelada não tem quem aguente.

- E o sambinha na Lapa cheio dos revolucionários da Puc e dos comunistas de tardes vazias nos bares das universidades?

- E a produção de amendoim?

É melhor o governo parar com essa palhaçadinha de lei. Ainda mais quando se trata da intocável "cervejinha", objeto totêmico quase inerente ao ser brasileiro.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Errado é sonhar com o certo, que o certo dá sempre errado.



Ao se falar de samba, muitas vezes a figura de Hermínio Bello de Carvalho fica em segundo plano. Se não é a intelectualidade e a sambalidade do meu Brasil que chama, o povo fica sem saber da importância desse homem. Se Paulinho é a alma, Candeia a memória e Cartola o talento, Hermínio é o coração e as pernas do gênero no país (o samba é tão grande que é só transformando-o em corpo para não nos desbordarmos).

Foi amigo profundo de muitos artistas, os melhores, fez letras geniais, produziu, trouxe nomes fundamentais à tona. No seu extenso hall de parcerias estão monstros como Pixinga, Paulinho da Viola, Elizeth Cardoso, Eltão Medeiros, Nelson Sargento, Cartola e por aí seguiremos. É muito conhecido por seu esforço de juntar a música popular da música erudita (como colocar no mesmo palco a Clementina e o virtuoso violonista Turíbio Santos). Mostrou que a erudição real vem da alma e os rótulos são coisas de dedos presos e gente que não sabe cantar. Enfim, Hermínio é o incansável e flamante batalhador de uma , como dizer, ciência dionísiaca do samba. Mexe com sua história, com seu futuro, com suas composições, compositores e de como anda na sociedade (o samba anda sambando?).

E não é que essa coisa de brógue é democrática, quase comunista? Pois bem, patrocinaram um blog pro Hermínio. Talvez seja um dos melhores na rede. Lá você vai encontrar raridades incríveis, coisas que fazem chorar os gostantes e respirantes da música. Fortunas como fotos do casamento de Cartola e Dona Zica, gravação na casa do cara com Paulinho da Viola e Clementina (essa é incrível!), partituras, letras originais, vídeos e o escambau. É coisa para perder dias e dias.

A cultura não é inacessível. Quase inacessível, no Brasil, é saber aculturar-se.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

"Sashird Lao é vanguarda"







Sashird Lao é um trio frances de jazz que rompe os ouvidos. É a mistura de uma linda vocalista egípcia, com voz imponente e com um sax destruidor, um rapaz que faz baixo vocal de forma perfeita e um virtuose no sopro e na percurssao. Um powertriomodernurbanmixjazzband. Só assim para defini-los.

Mais que defini-los, no entanto, há que escutar o som desses malucos. É forte, azeitado, ousado, tem cheiro e tem cor. Eles estiveram no Brasil há poucos dias e participaram de um festival da Alianca. A mídia, pelo que parece, falou pouco. Oportunidade perdida e incompreensível já que os editores das músicas modernas adoram um grupo estrangeiro, que mistura sons e tem cara de vanguarda (termo roubado de meu amigo Túlio). Mas eles vao além do estereótipo.

No site dos caras, e da senhorita, dá pra escutar algumas músicas (originais e versoes). De qualquer maneira, vao uns vídeos do quase comunista iútubí.

terça-feira, 24 de junho de 2008

CARPINHAS PAZ E AMOR


Notas de um dia interessante sobre os cascudinhos das carpas na Praca de Maio.


  • Clarin e La Nación querem muito criar um clima de tensao e sangue com essa questao do Congreso estar debatendo as rentencoes do campo. É o momento exato e clássico em que o jornalismo tem que respirar e deixar de atropelar palavras e teorias catastróficas. É a hora que tem que dizer para acabar a palhacadinha de certos e errados. De parar de reclamar democracia e fazer por ela. Como disse agora pouco uma congressita: "Me perdoe a emocao com que estou falando (realmente emocionada). Mas temos que separar aqui debate de discurso. Temos que perceber que nao estamos de lados opostos. Isso nao é um Boca e River. Ouco falar em democracia, mas vejo autoritarismo por parte do governo e por nossa parte, ao falar apenas de dinheiro e taxas. A ditadura nao nos tirou a confianca na democracia, mas a confianca de sermos cidadaos". Calei depois dessa.


  • Ninguém deu muita trela, mas foi impagável os manifestantes kirchneristas e pró-campo jogando uma pelada de rugby em frente a Casa Rosada. O esporte do contato físico, da forca, da ascendencia sobre o outro, se reverteu numa forma simbólica e fofinha de dizer que ninguém quer confusao e que a hora é de diálogo. Assim como foi impagável o CQC de ontem colocando o ministro do transporte e o presidente do sindicato dos taxistas, dentro do táxi deste último, discutindo o assunto dos cascudinhos das faixas exclusivas.



  • Fiquei escutando as posicoes no Congresso e acho genial o fato de que ele volte a ser um espaco de real discussao das leis e nao um apendice político do Executivo. Além disso, percebi o cuidado de cada congressita em mostrar serenidade e reconhecerem que a discussao é difícil e que nao adianta brigar. Nas vezes que se excederam, os políticos pediram desculpas. Embora muita coisa se resolva nos bastidores, o "evento" que se tornou o diálogo televisivo, é um avanco democrático inegável. Acontece que, em uma chamada de break e após exposicoes bem calmas dos legisladores, a apresentadora do TN diz: "Vamos para um intervalo e já voltamos para essa tensa e acalorada discussao". Foi como se falasse ao ver dois meninos de 5 anos brigando: "Já voltamos com essa briga perigosa, de músculos exacerbados e golpes titânicos e violentos. Fiquem em suas casas. A polícia está chegando para apartar".



  • Na frente do Congresso, os apoiantes de cada visao ficavam se explicando um para o outro. A reedicao moderna da Ágora grega. Pelo menos como um espaco de debates.



  • Dizem que o pessoal do campo ganhou a pelada do rugby por dois tries a favor.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Argentina campeón, Videla al paredón! (Montoneros)


por Bruno Moreno

Quarta-feira, 25/6/8, completará 30 anos que a Argentina ganhou o título da Copa do Mundo de 1978, disputada no próprio país (o primeiro de dois). A final foi disputada contra a Holanda, no Monumental de Nuñez. Os locais ganharam de 3 a 1 da laranja meio bagaco mecanica . Os gols foram feitos por Marios Kempes (2) e Daniel Bertoni. Mas que chato e previsível, nao?


De jeito nenhum. Foi uma Copa cheia de pendengas. Algumas sérias, outras folcróricas. Vivida e transcorrida em um contexto político difícil. Cheia de histórias mal contadas. E faz aniversário redondo quando o país se ergue e tenta se curar de patologias exacerbadas principalmente neste período. Essa semana o Congresso estará exercendo a democracia. O povo argentino poderia acompanhar o desenrolar dos próprios passos. Passos impedidos por muito tempo por botas militares.

Algumas pantuscadas do Mundial de 78:
  • A Copa estava se passando no ápice de uma ditadura violenta, sangrenta e macabra. Dois anos antes, os militares tinham derrubado a Isabel Perón. O chefe da Junta Militar na época era o General Rafael Videla. A inflação crescia no país, as torturas explodiam, os desaparecidos sumiam aos baldes e a Copa passou a ser estratégica na manutenção da ditadura.


  • Também era o momento crítico de uma discussao filosófica que vinha desde os anos 60 no país: como a Argentina deve jogar? Usando a "La nuestra", da rapidez de toques, dos dribles (chamados de "fantasia"), da beleza do esporte pela beleza ou a que há algum tempo estava sendo usada que era o futebol influenciado pelos ingleses, do corpo, da teórica hombridade, da violência, da defesa (optada porque os gambeteios ainda nao haviam trazido resultado). O técnico era Cesar Menotti, que era defensor férreo do primeiro estilo, que disse que os treinadores anteriores tinham matado o futebol argentino e que ia voltar com a "la nuestra". Foi um paradoxo a sua permanencia porque Menotti era um crítico assumido da ditadura, filiado ao partido comunista e com tendencias à liberdade de expressao (só olhar os cabelões dos jogadores). A Junta se calou, precisava ganhar a Copa para manter o povo feliz. Interessante notar também, em mais uma contradição, como a imprensa na época (totalmente controlada pelos militares), vendiam o pensamento de um "jeito de jogar argentino", apelando ao orgulho de ser argentino. Ou seja, a "la nuestra" como uma forma de criar o simbolismo de união nacional, identidade nacional. Por isso, Menotti foi muitas vezes retratado como um herói, como um novo San Martin ou Belgrano, uma espécie de libertador futebolístico do domínio europeu. Nesse caso, do estilo europeu de ver o esporte, com o resgate da verdadeira alma "criolla". O que é muito debatido ainda, já que muitos dizem que de bonito a Argentina apresentou pouco, jogando muitas partidas na base da força e da raça.

  • Maradona nao foi chamado. Era um jovem que ia fazer 17 anos, que estava arrebentando no campeonato local, mas que era considerado inexperiente para um torneiro de tamanha importância, pelo mesmo Menotti.

  • A Argentina é eternamente acusada de roubo com o jogo contra o Peru, em que precisava vencer por 4 a 0 para conseguir passar para a próxima fase. Após ter empatado em um vergonhoso e medroso 0 a 0 com o Brasil, meteram 6 na seleção peruana. Reza a lenda que houve um acerto entre ditaduras para que os argentinos ganhassem (50 milhões de dólares e toneladas de grãos) e fossem pra final. O Brasil, principal afetado por isso, foi o país que mais reclamou. Não se sabe de nada até hoje. Villa, no final de sua carreira jogou junto com o gênio peruano Teófilo Cubillas, quem jurou que não teve acerto nenhum naquele jogo. Menotti diz que o Peru tinha chegado destruído fisicamente à partida, com jogadores fundamentais que não conseguiam nem andar. Além disso, relembrou que a Argentina, meses antes, tinha dado de 3 lá em Lima.
  • Dizem que alguns jogadores argentinos foram dopados. Na verdade, nunca houve comprovação disso, mas alguns fatos levantam suspeitas. Um deles é que, segundo o historiador David Downing, há relatos de que Kempes e Tarantini continuaram correndo no vestiário de um lado para o outro após a partida contra o Peru por uma hora. E o mais engraçado: o exame de doping realizado era tão, mas tão confiável, que uma mostra de sangue de um jogador argentino demonstrou por A mais B que ele estava, indubitavelmente, "grávido".
  • Se os militares acharam que iam esconder as atrocidades cometidas, o tiro saiu direto no Rio da Plata. Foi durante a Copa que a imprensa internacional ficou sabendo com mais detalhes do que estava acontecendo. Foi durante a Copa, por exemplo, que o mundo ficou sabedo da existência das Madres de Plaza de Mayo e o drama de seus filhos desaparecidos.
  • Segundo o mesmo historiador, o governo ditatorial gastou uma fortuna ao contratar uma empresa de relações públicas para criar o slogan e projetar a imagem da ditadura junto ao povo, ou seja, para aproveitar marketeiramente a ocasião. A empresa se chamava Burson & Masteller e foi responsável, além do slogan do evento "25 milliones jugaremos el Mundial" (bem parecido com o hino "90 milhões em ação" brasileiro), pela desapropriação das villas de emergencia (as villas, ou favelas) e expulsão de seus moradores de zonas onde iam acontecer a competição, assim como a tentativa de esconder os bairros pobres na estrada para Rosário com a criação de um muro, no melhor estilo apartheid, que rodeava as casas humildes.
  • Alguns países, como a Holanda, não queriam jogar a Copa como protesto à violação dos Direitos Humanos no país. Ao receberem a medalha de prata, os holandeses, de fato, se recusaram a cumprimentar os representantes do governo ditatorial. Por outro lado, o capitão da Alemanha, Bert Volts, emuldorou a seguinte pérola: "A Argentina é um país onde reina a ordem. Eu não vi nenhum preso político." Onde ele procurou? No Cafe Tortoni?
  • O Papa Paulo VI abençoou a Copa e o governo ditatorial sanguinário e assassino da Junta Militar de Videla.
  • A final com a Holanda foi uma vingança da Copa anterior, quando a Argentina tomou uma piaba de 4 do Carrosel.
  • Quarta agora o Canal Encuentro vai passar um documentário sobre o Mundial e suas polêmicas. Mundial 78: verdad o mentira?
  • Menotti e alguns jogadores são lembrados como coniventes com a ditadura. É uma discussão. Fato é que o Mundial não teve o impacto esperado na alienação total e irrestrita do argentino. A Guerra das Malvinas teria um papel até mais importante, nesse sentido, anos depois. Mas os jogadores foram responsáveis também pela propaganda da ditadura? A classe média também não comprou essa felicidade? Nós não compramos essa felicidade ao achar que ver e admirar futebol , por seu caráter lúdico e mítico, significa desprender os pés do que é real?
Futbol y Dictadura
Menotti herói
Canal Encuentro